Episódio 1

“Não era diferente de todos os outros dias: 32° lá fora, e eu aqui, presa, sendo obrigada a presenciar mais uma inútil aula de química... Às vezes me pego pensando, tantas pessoas estão, nesse exato momento, com a pessoa que os faz feliz... Eu poderia estar com Heath agora e...”.
Mickaella fecha o pequeno livro azul-marinho e coloca-o sobre a carteira escolar à sua frente. Em seu rosto, percebe-se desgosto.
-Aff, Paula...-Diz - Suas histórias poderiam ficar consideravelmente razoáveis se esse cara não aparecesse nelas...Isso é sério!
-Hey!-Paula recria a expressão tediosa de Micka - Não fale assim do meu namorado!
-Pf...Ainda bem que RILEY me salvou...Imagina se Heath tentasse dar em cima de mim...De novo...
-Não preciso que cite seu mega fracasso amoroso perto de mim!
-Paula... -Mickaella dá um leve riso de deboche - Preste atenção na aula e pare de discutir o que todos já sabem...Enxerga-se, Paula...Eu disse Riley...Ouviu?
-Humpf...Riley...-contraria Paula, em resmungos, enquanto vira-se para o enorme quadro negro - Até parece...Quem precisa de Riley...Otária...
-Paula, cale a boca!-diz Micka, virando os olhos.
-Hum...Estressada... É isso o que acontece quando se namora alguém como...
-PAULA, ME DEIXE EM PAZ! – Grita ela, chamando para si a atenção do professor e de todos os outros na sala de aula.
-Srta. Diaz...-Pronunciou o professor de física da classe - Pegue suas coisas e retire-se nesse instante!
-Espere...-Mickaella olha para Paula, e volta a olhar o professor-Não vai se repetir, eu prometo!
-Retire-se agora, Mickaella, ou voltará para casa com uma suspensão!
A jovem se levanta e, ao abrir a porta, lança um olhar congelante sobre Paula, que deixa escapar uma baixa risada.
-Divirta-se!- provoca.
* * *
Alguns minutos se passaram, e agora Mickaella encontrava-se ao lado de Riley, no refeitório, em meio ao intervalo escolar, queixando-se do acontecido.
-Amor, sabe bem que esse é o jeito de Paula...-Diz Riley - Ela tem sim mania de superioridade, mas fica por aí. Vocês se amam do jeito que são, sabe disso...
-Sim...- Mickaella solta um suspiro-Mas ultimamente ela está insuportável! Vive soltando suas piadas sobre mim...Eu vou enlouquecer!
-Ah, Micka, Deixe-a...Você está comigo agora...Não com ela...- Ele aproxima seu rosto do dela, e então seus lábios se encostam. Mickaella sente um arrepio.
-Ainda bem...-Ela solta um sorriso, que logo se desfaz - Mas é que...Eu não sei... Parece que ela ainda o ama...
-Parece que ela ama...Quem?
* * *
Flashback (Mickaella) – Ginásio escolar, um ano e meio antes:

Micka passava pelo gigantesco portão do ginásio, caminhando pelo estreito caminho de terra manualmente planejado em meio ao imenso jardim da parte traseira da escola, deixando a música e as luzes coloridas para trás. Correntes de ar roçavam contra seu rosto, e pequenas folhas soltavam-se das variadas árvores presentes por toda à parte no jardim. Grandes lampiões indicavam a única iluminação do local.
Mickaella se localizava na metade do caminho que ia a direção á rua, sozinha, até que alguém sai do ginásio, gritando por seu nome, -Paula - e a jovem se vira.
-Micka...- Pronunciou sua amiga, com um sorriso estampado - Você não faz nem idéia do que acabou de me acontecer!
-Ah..- Mickaella suspira – Diz logo, Paula, o que houve?
-Tudo bem, Prepare-se... - Paula dá um sorriso malicioso – Riley acabou de me pedir em namoro!
-Puxa...Parabéns... Eu tenho que ir... Meus...Meus parabéns...Eu acho...
-Espere...Desculpe não ter percebido, eu estava tão...Alegre... – Paula olha nos olhos de sua amiga. – O que houve, Micka?
As lágrimas da jovem escorriam por seu rosto.
-Acabei de terminar com Drew... Ele...Ele queria...Mais do que podia dar para ele...- A jovem se entristecia cada vez mais.
-Ah...Sinto muito amiga...Estou aqui com você...Lembre-se disto...
Paula, pois sua mão em um dos ombros de Micka. A luz liberada pela lua cheia banhava as jovens.
-Me abrace...- Implorou Mickaella.
E assim foi, as jovens se abraçaram, e a amizade entre as duas parecia inacabável.

* * *
(fim de flashback)
-Ninguém...- ela disse-Esquece tudo o que eu disse...
-Acha que devo acreditar?
-Se quiser continuar este relacionamento, não duvide! – Os dos riem logo após.
-Sério, amor, não fique assim... Vou pedir para Heath conversar com ela.
-Não!- Se espantou Micka – Queremos que ela melhore, e não que chegue logo no fim do poço. Ainda me restam esperanças sobre os métodos de escolha de minha amiga...
Riley solta um leve sorriso mudo.
-Não o trate assim, ele não é tão mal!
-HÁ, Riley, HÁ! Estou começando a achar que Paula está te influenciando...
-Tire isto de sua cabeça...Não é tão fácil me convencer das coisas, Paula nunca me influenciaria.
-Calma, amor, é só brincadeira. – eles voltam a se beijar.
-Espero mesmo... – Ele ri. – Vamos, o sinal escolar acabou de bater.
Eles se levantam, e cada um dirige-se à sua respectiva aula. Laboratório de química, no caso de Micka. Uma das únicas três aulas em que não encontra Heath, Paula, ou Drew.
O laboratório costumava ser chamado como “O espaço da cor” pelos alunos, pelo fato de ser a única aula que alegrava os jovens. É claro que a aula de artes não conta não entra neste acordo.
As carteiras desta sala eram triplas, e o trio que se formasse na primeira semana deveria permanecer o mesmo até o final do ano letivo. Micka fazia grupo com dois de seus melhores amigos, - os únicos que lhes ouviam - May e Tie.
Micka sentou-se entre os dois, olhou de relance para o trio a sua frente, e então despejou seu livro de química sobre a bancada. O silêncio permaneceu vivo durante os próximos quinze minutos.
-Sal... ? – May olhava fixamente para o tubo de ensaio onde Micka misturava os elementos descritos no quadro negro. -...Micka...Está misturando sal...Isto nem está na lista...
-Hey, desde quando pega no meu pé?
-Desde que tirou cinco na última prova...
-May, valia cinco e meio... E só errei a última pela falta de tempo!
-Tudo bem, tudo bem, desculpe-me...
Por acaso, de relance, Micka percebe uma nova presença na sala, um aluno novo, localizado no fundo da sala, na última cadeira tripla, apoiando seu corpo na parede. Sozinho...
-Não é estranho?- Micka sussurra a Tie – Parece um daqueles drogados...Mas sem as visíveis olheiras que eles costumam ter...
-Olhe novamente, sem chamar a atenção... –Tie fazia um sinal com os olhos, insinuando que ela voltasse sua atenção ao novato. – Não tira os olhos de May desde que chegou aqui...
-O que acha que ele quer com ela?
-Não sei, mas está me assustando... Parece um lobo atrás de seu cordeiro suculento...
-Putz, Tie. – Mickaella solta um baixo riso – Essa foi podre! Fez-me lembrar da minha avó!
-Tudo bem, esquece a frase sórdida...Pense em May, é viciada em garotos e sabe disso. Ela não pode nem imaginar que está sendo observada por um, principalmente por...Aquilo...
-Por outro lado...Ele é bem atraente...- Micka morde o lábio.
-Não, não é... O que você vê nele?
-Bem, provavelmente o negro cabelo liso jogado para a direita, ou os olhos verde-claros, ou os perceptíveis músculos protegidos pela jaqueta de couro preta, ou o seu olhar penetrante... – Micka perde a voz, e ganha uma leve tapinha na nuca, de TieAff, o que foi?
-Riley? Foi Riley que te pediu em namoro, não foi?
-Otário... Sei que estou com Riley, mas não significa que não possa mais achar ninguém bonito nesse mundo!
-Ok, me perdoe por me importar! – Percebia-se um tom de deboche em sua voz.
-Olhe só, concordo com você quando diz que ele é estranho...- Micka baixava o tom de voz cada vez mais, para não chamar a atenção de sua amiga ou do novato – Mas ele pode ser um cara legal.
-Galera... – May encosta uma de suas mãos em sua bochecha. – Não estou me sentindo muito bem, estou com ânsia, e acho que estou ficando febril...Está frio...
-Trinta e oito graus, May...- Tie se levanta, pedi permissão ao professor, e ajuda May a se levantar - Vamos à enfermaria. Você vem, Micka?
-Ah, Claro... – Ela se levanta.
May e Tie retiram-se do laboratório. Seguindo-os está Mickaella, que dá uma leve espiada por entre os ombros para o fundo da sala. Micka perde o ar por um segundo, o novato não está mais lá...Não tem ninguém.
A enfermaria da escola não se passava de um plágio das enfermarias que apareciam em qualquer um daqueles seriados para adolescentes, comuns nos Estados Unidos. May sentou-se em uma das únicas duas camas da larga sala, e Micka ficou recostada na porta, ao lado de Tie, Ambos de braços cruzados.
Após a consulta de May, que descobriu ser apenas uma gripe, o trio arrumou seu material em suas devidas bolsas ou mochilas e esperou até a batida do sinal que simbolizava a saída, o que não demorou muito, já que gastaram bastante tempo observando May ser atendida.
-Escutem...-Micka encaixava sua bolsa de pano verde em um de seus ombros - Hoje é sexta-feira, Riley e Inna irão passar a noite em minha casa, vamos também...Será legal...
-Por mim tudo bem...- Diz Tie.
-É, por mim também...-May parecia ter melhorado um pouco, embora ainda estivesse um pouco pálida e fria. - Apareço lá mais tarde, tudo bem?
-Tudo bem...O mesmo para você, Tie! –Micka fecha seu armário – Até mais tarde...- Ela dirige-se a saída.
Micka olha de relance para a saída do prédio, enquanto caminha para a calçada, e ele está lá. O novato olha fixamente para May, enquanto deixa o local. Micka sente um arrepio na espinha, dá de ombros, e continua sua caminhada.
* * *
Casa de Mickaella – sexta-feira - (23:54):

Micka havia acabado de arrumar sua sala de estar para o evento, todos dormiriam no cômodo. Os sacos de dormir encontravam-se posicionados uns ao lado dos outros. Todos já haviam chegado e conversavam sobre diversos assuntos, todos sentados no chão da sala, formando um círculo.
A seqüência era a seguinte: Riley, May, Tie, Inna, e Micka, que completava o círculo. Inna dizia alguma coisa sobre um jogo que aprendera durante o último verão.
-Precisamos de velas...Cinco velas, uma para cada, um círculo formado por letras e outro menor formado por números, e um lápis bem apontado...
-Velas? Que tipo de brincadeira é essa? – Riley deixava um sorriso escapar pelo canto da boca.
-Perguntas e respostas...Com os espíritos... – responde Inna, mordendo o lábio.
-Eu arranjo tudo... – Diz Micka.
-Espere...- Ordena May, levantando-se do frio chão da sala de estar - Eu te ajudo...
As garotas retornam ao cômodo e arrumam tudo no chão, seguindo as instruções dadas por Inna: “Formem um grande círculo com as letras, em ordem alfabética, dentro formem outro círculo, com números de um á nove... Fora dos dois círculos formem outro círculo com as cinco velas, quando começarmos cada um deve sentar-se na frente de uma delas, qualquer uma, e depois coloquem o lápis no centro dos três círculos. Agora assim... Podemos começar! Seguinte, galera, é como um jogo de perguntas qualquer, a diferença é que ninguém responde... apenas encostamos a ponta de um de nossos dedos a nossas devidas velas, após nossas perguntas, e esperamos o lápis se mover”.
-Tudo bem, eu começo...- Riley olhou para sua vela, acesa, e começou – Vamos fazer um teste, se funcionar continuo na brincadeira: Na semana passada eu descobri que ficaria para recuperação em algumas matérias...Em quantas matérias eu tive de recuperar a nota?
Riley encostou-se em sua vela e, lentamente, o lápis começou a girar. Micka e Tie se arrepiaram.
“2”. – apontou o lápis.
-Isto é...Bizarro...Está correto...- Riley se arrepiara agora, retirando a ponta de seu dedo da vela, sentia-se frio.
-Tudo bem, minha vez!- May dirigiu sua mão até sua devida vela, tremendo um pouco, e parecendo eufórica –Não acredito em cartomante, muito menos em adivinhos, então espero que saia alguma coisa daqui que eu possa usar no futuro...Aí vai: “Sendo direta, e não acreditando muito nesse lance de espírito, o que a vida me guarda para os próximos meses?”.
O lápis começou a mover-se, cada vez mais rápido, dando voltas em um núcleo inexistente.
-O que está havendo?- Tie parecia ter medo.
-Eu não sei...Isso nunca aconteceu antes... – Responde Inna, ofegante.
Uma das grandes janelas do cômodo abriu-se, chocando suas abas contra a parede, e permitindo que o forte vento invadisse a sala.
O fogo do todo das velas e os círculos do ritual permaneceram intactos, apesar do vento frio que espalhava todo e qualquer tipo de material solto pela sala, exceto o da vela de May...Que havia se apagado...Sua vela se partira ao meio.
O vento desaparecera, e o lápis do centro dos círculos parara, em cinco letras diferentes, uma de cada vez, revelando uma palavra não muito querida pelos jovens.
“M-O-R-T-E”.
Ambos se entreolharam, apagaram suas velas, e jogaram todo o material fora.
-Tudo bem, galera, eu não queria tocar no assunto, mais não tem como! Alguém pode me explicar o que houve aqui? –Tie tremia bastante agora, embora tentasse disfarçar.
Riley abraçava Micka, por impulso de defesa, Inna trancava novamente a janela, e May chorava silenciosamente no sofá.
-May...- Dizia Inna, sentando-se ao seu lado-Não precisa disto...Não precisa acreditar, sabe? Você nunca ligou muito para isso...
-Não sabe o quanto eu queria não acreditar no que acabou de acontecer... Mais é coincidência demais: O lápis aponta morte, a janela abre de repente, vento forte vindo do nada, e então a minha vela é a única a se apagar e se partir ao meio!
-Tudo bem...Já chega! – Micka deixa Riley, e se aproxima dos sacos de dormir. – Porque não dormimos agora e esquecemos tudo o que aconteceu aqui?
-O que está havendo? – May levanta-se do enorme sofá branco – Como podem fingir que nada aconteceu? Isso foi surreal, galera! É algo inexplicável...
-May está certa...- Riley cruzara os braços – Isso não pode sair daqui, ninguém jamais deve passar esta experiência adiante, combinado?- Ele não parecia estar brincando, e olhava diretamente para Inna.
Todos fizeram que sim com a cabeça, até a dirigirem para a escadaria.
-Ouviram isso? – Tie se levantava lentamente do chão, sem desviar a atenção das escadas. – Pareciam...
-Passos...- Completa Micka – No sótão...Parecem estar correndo - Os dois se entreolham, e depois olharam para Riley, que ainda dirige seu olhar à escadaria, curvando as sobrancelhas.
O som de algo se espatifando no chão do terceiro andar conseguiu a atenção de todos na sala. Era algo grande, se partindo em milhares de pedacinhos. O som produzido fazia os jovens se lembrarem de milhares de copos de vidro se chocando contra o chão, todos ao mesmo tempo.
Em seguida, Voltaram os passos...Ainda parecendo ser alguém correndo.
Os passos param por um segundo, E a escuridão toma o local, alguém cortara a eletricidade da casa.
Não se via nada a partir de agora... Ouviu-se um grito.

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