Episódio 10

04h40min A.M.
A temperatura agora estava insuportável, e uma devastadora camada de frio havia tomado toda a estrada que levava ao fim de Boston. As cigarras haviam cessado seu canto, e os latidos haviam sido descartados do cenário. A única coisa que se ouvia ali era o assustador chiado produzido pelos sopros do vento.
-O que esse demônio é capaz de fazer? – Riley estava sentado, com as pernas cruzadas, em meio ao asfalto. Vocês não sabem como ele queria ter trago um casaco e algumas meias bem quentinhas... E talvez um par de luvas de couro. Pelo menos, a calça jeans estava servindo para alguma coisa.
-Ele pode controlar as pessoas... – Marianne ainda se apoiava em Corbin. – Ele atua como uma sombra normal, assim como Burnstein... – A essa altura, o gato misteriosamente havia chegado ao local. – A diferença é que ele não se contenta em controlar apenas uma pessoa, o morcego pode comandar até uma população inteira...
* * *
-Uma população inteira? – Micka estava assustada, como de costume. – Você só pode estar de brincadeira...
Os jovens haviam conseguido entrar na casa. Por sorte, todas as portas e janelas ainda se encontravam em seus devidos lugares, ao contrário do sonho de May. Eles trancaram todas as passagens maiores, por onde o grande morcego provavelmente conseguiria ter passado. Paul e micka estavam agachados, embaixo de uma das janelas do primeiro andar da mansão.
-Infelizmente, não... – Paul ainda não estava com sua raiva sob controle, ele precisava vingar a morte de seu pássaro... E faria isso assim que possível!
-Pode me explicar uma coisa? O que essa tal serpente tem em comum com esta história toda?
-Muita coisa! O demônio do caos é responsável por todo e qualquer tipo de guerra que aconteça no mundo dos humanos. Sendo assim, para impedir a guerra, é preciso destruí-lo.
-Posso começar do início?
O rapaz assentiu.
-Bem, pra começar, que história é essa de “guerra do eclipse”?
-A guerra do eclipse... – Paul ergueu sua cabeça, olhando para o nada, como se estivesse revivendo todos os momentos de sua vida. – é quando o mundo espiritual, o mundo humano, e a maioria dos outros portais, se interligam, permitindo que ambos se unifiquem por algum tempo...
-Quer dizer... Humanos, espíritos, e sei lá o quê em um só mundo?
-Sim! E não é só isso. Os espíritos, almas, encarnados, entre outros, tem total controle e liberdade de seus poderes enquanto a guerra estiver acontecendo...
-Mas, porque tem o nome de “guerra”? E, se é algo assim, tão especial, porque ninguém nunca me contou... E porque ainda tem gente que não acredita em espíritos?
-Primeiro: Quando eu digo TODOS OS PORTAIS, eu quero dizer todos mesmo... Inclusive o...
- O inferno? – Micka sentiu um arrepio na nuca.
Paul balançou a cabeça, em afirmativa:
-Segundo: As pessoas que conseguem sobreviver tem todas as memórias da guerra apagadas pelos anjos do tempo. Não é obviou? Esta guerra não está na bíblia, então ninguém precisa saber de sua existência!
-Anjos do tempo? Existem diferentes tipos de anjos?
-Sinto muito... Não posso revelar nada que inclua o paraíso...
Mickaella cruzou os braços, revirando os olhos, em tom de impaciência.
-Apenas mais uma coisa: Porque você precisa matar May? Porque esta tal de Madellyne também era perseguida pelos encarnados?
-Sobre Madellyne, ela morreu antes da guerra... Mas... Sobre May... Bem... Eu já lhe disse o motivo...
-Não existe mesmo outra saída?
-Sinceramente... Espero que...
Algo gritou na escuridão da noite, impedindo o final da fala. O som logo desapareceu, mas um bater de asas ecoou a seguir.
-Ele não vai embora? – Micka estava ofegante. Em toda a sua vida, ela nunca imaginou ter que se esconder de um demônio/morcego gigante em uma mansão abandonada no meio do nada.
-Sim, assim que o sol chegar... Assim como os morcegos comuns. O problema é que, agora que ele registrou nossos cheiros, nos perseguirá até nos matar...
-Ah, claro... A vida já estava fácil demais, não é? – Micka sorriu, apesar do nervosismo. Paul devolveu o sorriso.

No andar de cima, May e Tie investigavam o quarto onde, nos sonhos, a garota encontrou o diário da lua crescente, os dois eram seguidos por Thor. Os móveis, no quarto, não eram os mesmos: Em um dos cantos havia um beliche de madeira apodrecida, no outro havia um armário completamente vazio. Mais nada!
-Eu me lembro... – May apontava para a janela que haviam trancado. – Havia uma escrivaninha... E este lugar estava infestado de sombras... E...
-Fique calma, garota! – Tie não estava sério, apesar da “ordem”. – Sabe quantas pessoas sonham com mansões que nunca viram antes, e que existem? Não precisa se preocupar com pequenos detalhes.
-Não está entendendo, Tie... - Desta vez, ela apontava para o beliche, cujos colchões estavam preparados com lençóis e travesseiros sujos. - Alguém está morando aqui!
-Não é possível, May. A casa está em péssimas condições... Não tem como um humano habitar este lugar...
A jovem caminhou até a porta, chegando ao corredor, e fazendo sinal para que Tie a seguisse:
-Eu não disse humano...
Os dois voltaram pelo vazio corredor, descendo as escadas e voltando ao decadente Hall. Micka e Paul continuavam agachados, com um medo transparente, embaixo de uma das janelas.
May havia se esquecido de como havia se sentido naquele local durante o seu sonho. Conforme retornava à sala de entrada, o mesmo medo a tomava. Momentaneamente, a Crommwell havia se lembrado da beleza de vestido que usava da última vez em que visitara este lugar.
Da última vez...
Um frio macabro encheu o ar do local, impedindo o raciocínio contínuo da bruxa. Algo havia partido a grande porta de entrada em milhares de pedacinhos de madeira. Mickaella e Paul levantaram-se, recuando alguns passos.
E lá estava ele... O grande morcego!
May, em um ato instantâneo, agarrou e tapou com a mão o focinho de Thor, lembrando-se do que havia acontecido ao corvo.
O morcego gritou mais uma vez, mas desta vez não levantou vôo. Desta vez, ele usou suas pernas para se locomover, aproximando-se de Paul e Micka aos poucos.
-Porque ele está vindo para cá? – A garota com cabelos de pontas verdes sussurrou.
-Deve ter sentido o cheiro de Sturk em mim!
Em apenas um segundo, Paul recordou-se da inconveniência cometida pelo demônio ao matar seu melhor e único amigo. Um ciclone de ódio e adrenalina nasceu no interior do garoto, fazendo-o se atirar em cima do grande morcego antes mesmo de conseguir pensar em seus atos.
-Paul! – O grito foi a reação de Mickaella.
Sem praticamente nenhum esforço, o demônio das sombras ergueu um dos braços, levantando Paul no ar, e jogando-o em direção à May e Tie. O rapaz voou, contra sua vontade, até bater nos dois jovens em frente à escada enferrujada.
Os três caíram no chão, perdendo os sentidos por um instante. Thor fugiu dos braços da Crommwell, latindo e rosnando, mais uma vez, para o grande morcego.
O animal de dentes ensangüentados gritou mais uma vez, e então voltou a perseguir o cachorro. Porém, utilizando as pernas ao invés das asas. Thor havia fugido. Desta vez, por uma abertura enorme na parede à esquerda da escada, resultando em uma sala lotada de móveis abandonados cobertos por panos beges. O cenário mais parecia um labirinto.
O demônio não perdia tempo! Ao passar pelos móveis, ele os transformava em dezenas de milhares de pedacinhos de madeira com as suas endurecidas garras.
-Ele vai pegar meu cachorro! – May sussurrou, enquanto Tie a ajudava a se levantar.
-O sol deve chegar daqui a alguns minutos... – Paul apoiou-se no canto do corrimão, voltando a ficar de pé. – Se esperarmos do lado de fora...
-Descarte essa idéia! - A jovem Crommwell aproximou-se do garoto de olhos azuis, encarando-o. – Eu tenho Thor desde os oito anos de idade, e muitas vezes ele me serviu como um amigo que eu não tinha! Não vou deixá-lo morrer para salvar minha vida!
-Você diz como se sua vida tivesse sido muito particular...
-E foi! É isso o que acontece quando não se tem uma mãe! É isso o que acontece quando seu pai passa 75% da vida viajando a negócios... –Mas ela sabia que o problema não eram as viagens. Seus olhos voltaram a se encher de lágrimas. – Eu nem me lembro dela... Não me lembro de seu rosto, ou das canções de ninar... Não me lembro nem de seu cheiro...
-May...
-Não! Cale a boca! Acha que sou idiota? Pelo pouco que ouvi, eu consegui deduzir a verdade... Consegui, Paul! Eu sei que a culpa por eu não ter uma mãe é sua e daquela vagabunda da Marianne! Vocês a mataram... Do mesmo jeito que pretendem me matar...
E é por isso que estão me protegendo da lua minguante! Por que precisam que minha vida permaneça ativa até a tal “guerra”, não é? Precisa me manter viva até o sacrifício!
-EU NÃO MATEI A SUA MÃE!
Ouviu-se mais um grito assustador, e então mais latidos. Bom! Isso quer dizer que Thor ainda estava vivo.
-Vocês podem parar? – Tie gritou, tapando os próprios ouvidos de sua fúria. – Depois resolvemos isso, agora temos que sair a não ser que queiram morrer!
-Viu só? – A veias eram visíveis nos braços e punhos de Paul. – Ouça o garoto!
-Mas não deixaremos o cão! – Tie concluiu.
-Vocês só podem estar brincando... Preferem salvar a vida de um animal a salvar as próprias?
-O discurso não era esse quando se tratava de Sturk!
Nesse instante o cão passou mais uma vez por eles, parando a corrida enfrente a escada, e passando pela grande abertura na parede, onde havia a porta de entrada há minutos atrás. Thor deixou a casa.
-Thor! – May empurrou Paul de leve, correndo atrás do cachorro.
Algo estourou na sala dos móveis. Mais um grito e o som de alguma coisa sendo empurrada substituíram o vazio da atmosfera.
-Vamos embora! – Micka gritou, saindo correndo da casa, ofegante.
Os dois jovens a seguiram.
Ao deixar a mansão, o refrescante cheiro do alívio tomou os pulmões de Mickaella. Voltando seu olhar para o céu, a jovem percebeu o nascimento dos primeiros raios alaranjados do sol.
-Não estamos esquecendo nada? – Tie parou. – Do tipo... Inna... Paula...
-Elas não estão aqui! – Exclamou Paul, andando em linha reta e desaparecendo em meio as arvores mortas.
-Ele nos abandonou? – Micka não acreditava nisso. Depois de uma noite inteira de terror, ele ia mesmo deixa-los em meio ao nada com um demônio?
-Aqui, galera! – May gritou, balançando um dos braços no ar, de cima de uma grande pedra. Thor estava ao seu lado.
-Claro... – Sussurrou a menina, prendendo seu cabelo em um rabo de cavalo, com uma pequena fita bege. – Qual é o problema em ficar em cima de uma pedra? O morcego não voa mesmo, não é?

Tie... Ajude-me... Micka...

-Inna? - Tie voltou a encarar a face apodrecida da casa, esquecendo de May e da pedra, seu coração disparou.
-O quê?
-Eu ouvi a voz de Inna! - Ele caminhou em direção à mansão, afobado. - Eu tenho certeza, Micka, ela nos chamou!
-Eu não ouvi nada! Tem certeza que...
-Sim! Era ela! - Tie corria agora, com passos frágeis e uma respiração vacilante.
-Elas não estão aqui, Tie. Você ouviu Paul!
Tarde demais. O rapaz já estava convencido... Além de estar passando pela entrada neste exato momento.
-Tie... - Micka enfrentou a mansão, e então enfrentou a pedra de May.
-Micka... - A jovem bruxa continuava acenando, com o cão ao seu lado.
E agora?
-Peguem eles! - Disse uma voz masculina, desvalorizando os pensamentos da garota.
Um grande grupo de pessoas sujas e desconhecidas, aparecidas repentinamente, começava a cercar a mansão, o jardim morto onde estava Micka, e a pedra onde estava May e seu animal.
-May... - Ela gritou.
As duas amigas trocaram olhares confusos.
* * *

~ Bate-papo

Oi gente! Pessoas, vocês tem idéia de como é difícil ter a primeira comunicação com vocês?? Sério, a pessoa não sabe o que escrever!!
Bem, mesmo assim, eu vim dizer que amo vocês simplesmente pelo fato de perderem seu tempo lendo minha história ^^ . Sério, é tão bom ver que a gente posta pra vocês... e não pra um bando de encarnados nogentos ¬¬.
olhem, eu espero que estejam gostando do blog e tudo mais, mas ainda espero ver idéias de como melhorar o blog. Bem, se preferirem, podem simplesmente comentar as sugestões aqui. Ou então dizer via Twitter ou facebook.
Bem, galera, por hoje é isso... Beijos!
Lembrem-se das parcerias:
www.hayleyfiregirl.blogspot.com. ;D abraços!

Invasão ^^'

Oie!!! Resolvi invadir o seu blog. Ms vc já sabia q ia fzr isso, eu tinha te avisado. :B
Hey... só tm um prob. Num sei o q escrever! ^^' Ms, de qlqr forma, qro deixar minha opnião sobre tua história...
Ham... qnts vezes já te flei q ela tá fodástica?! várias né? shaushuah é pq está! sem mentira. Não é só pq vc é meu amigo q vou ficar te elogiando, eu realmente gosto d Nuvem Negra! ( até o nome é foda... bem, qm escolheu num foi vc, ms tdo bem! xD)
Cara, não pare de escrever até eu mandar tá?! Acompanho assiduamente(tá certo?)a NN e espero q vc não demore muito a postar. Falo sério, qndo tu demora é um saco :B
Te adoro maluquinho! pode continuar cm as msgns loucas e tdo mais q eu num ligo, adoro essas coisas sem sentido...
Escreva sem limites!!! shuashush
bjs! e lembre-se de sempre me visitar lá no Elementares
tchau \o

Episódio 9

03h38min A.M.
O vento frio afrontava o grupo de jovens que caminhava lentamente pelo caminho de onde vieram. Sturk havia desaparecido, e Burnstein permanecia colado ao lado de May.
A estrada estava deserta, e o único sinal de vida doado pela natureza era o continuo e estressante canto das cigarras, e o longe uivo de alguns cães.
Micka, Tie e May, os únicos do grupo que ainda possuíam suas próprias lanternas, ativaram o objeto, expandindo seu limite de visão.
-Minhas pernas estão me matando! – Inna mantinha sua expressão de fúria, e olhava fixamente para o vazio do local. – Espíritos malditos...
-E o pior de tudo... – Isabella secava o suor de seu rosto com um dos braços. – é ter que passar por tudo isto ao lado dessa “pamonha”! – Ela apontava, cansada, para Tie.
-Por favor, galera, não é hora para brigar! – Micka forçava sua voz.
-Thor... – O grito de May era surpreendentemente alto. Suas lágrimas escorriam por seu rosto e seu corpo encontrava-se um gelo puro. – Thor... Por favor, au-au me responda!
-Au-au? – Tie não se deu ao trabalho de levantar a cabeça. Seus olhos encaravam o chão. – May, ele está com Jennifer, nada lhe acontecerá... Pode parar de gritar agora?
-Perdoe-me...
-Esperem! – Inna parou de se movimentar, ordenando a todos que façam o mesmo. – Acho que escutei alguma coisa se movendo...
Uma parte do mato que contornava a estrada começou a balançar, confirmando a presença de mais alguém no local.
Burnstein avançou, transformando-se em sombra. Todos aguardavam atentamente por mais um ataque.
Isa recuou, aos poucos, para o outro lado da estrada. Algo se soltou de lugar nenhum, em um segundo, e a puxou para o meio do mato, fazendo-a desaparecer.
-Prima! – Gritou Mickaella, percebendo, logo após, que Paula também desaparecera. – Não! O que está havendo?
-Corram! – May sussurrou, obedecendo a sua própria ordem e sendo obedecida pelos outros três jovens. Burnstein, ainda como sombra, se encontrava na frente de todos.
-Não, Pare! – Todos se voltaram para Inna.
Tarde demais, a jovem também havia desaparecido.
-Inna! – May gritou após ser puxada à força por Tie.
Micka, correndo, olhou para trás. Algo se movia nas sombras da noite, e seja lá o que fosse, apenas sua silhueta era mais ou menos visível. Parecia um... Morcego, enorme, quase do tamanho de um adulto alto, que se desfez no ar, soltando um alto chiado, mais parecido com um gemido. Sturk atravessou o animal, sobrevoando o grupo e passando a segui-los.
-Ai meu Deus, o que é aquilo?
Não era apenas isso, havia silhuetas humanas também! Silhuetas que se perderam na confusão do mato, confundindo a visão limitada da garota.
-Inna! – May, enquanto corria, não abria mão dos gritos desesperados que cresciam em sua garganta.
-Faça um favor para ela e fuja! – Ordenou Micka, com raiva.
Algo se materializa logo acima deles. O morcego!
Sturk, em sua forma animal, se aproxima do bicho, tentando perfura-lo mais uma vez. Algo dá errado e o pássaro-Sombra é arremessado contra o asfalto, provocando uma enorme rachadura. Sturk se refaz em questão de segundos, e volta a bater as asas, sem nenhum arranhão.
Neste mesmo instante, Burnstein atravessou uma concentração de pessoas recém-chegadas na estrada, derrubando a maioria delas, e abrindo espaço para que os jovens pudessem passar.
-Espere, são pessoas de verdade? – Tie se assustou, mas continuou na corrida, enquanto o grupo de estranhos continuava atordoado e não lhes impedia de prosseguir. Ao se virar, olhando para a direção em que deveria fugir, alguém o agarrou. – Pare! Solte-me! –Sem pensar, Tie o empurrou com força, e voltou a correr, alcançando os outros.
-Porque o sol não chega logo? – May gritou.
-Ainda são 3:59! – Em um movimento brusco, o relógio verde fluorescente soltou-se do pulso de Micka, caindo na beira da estrada.
-O relógio! – Tie a alertou.
-Deixe o relógio para lá, vamos embora! –Micka espiou o céu, avistando o grande morcego lutar com Sturk, que parecia cansado. A jovem se concentrou na corrida mais uma vez, ao perceber que estava sendo deixada para trás.
-Preciso parar! – Tie gemeu. – Sinto que vou cair a qualquer instante!
-Não! Se parar agora, estará comprando seu túmulo! – Micka lhe empurrou, como se para lhe dar impulso.
-É mesmo? E para onde pretende ir? Mesmo se chegarmos a Boston, eles continuarão nos seguindo. Além do mais, você se esqueceu de que pegaram suas amigas, incluindo sua prima? Pretende deixa-las? – Tie parecia agressivo por dentro, mas tudo não passava de um reflexo proporcionado pelo medo e pela dor.
-Sinto muito, Micka... – May continuava a chorar. – Mas Tie está certo.
-Não podemos fazer nada! Se voltarmos, nos pegarão também!
-São nossos amigos! – Tie gritou, e então parou de correr. May imitou seus movimentos, esperando uma resposta de Micka.
-Tudo bem! – Micka parou, virou-se para os dois, e prendeu o cabelo com uma fita violeta em apenas um cacho. – É a vez de vocês. O que querem fazer? Voltar e se juntar a eles?
-Sim! – May gritou desta vez. – Porque, pelo menos, saberei que lutei por eles! Poxa, Mickaella, eles passaram por tudo isto, assim como nós... Merecem pelo menos um pouco de nosso reconhecimento!
-Eu os levo... – Paul surgiu no meio do asfalto. – Comigo, pelo menos tem alguma chance de sobreviver.
-Não vou discutir! Aparentemente eu estou sempre errada!
-Não foi isso que eu disse! – Exclamou May, batendo o pé.
-Nem precisou!
-Parem! – Paul falou em voz baixa. – Sturk não é tão forte, daqui a algum tempo o mandarei fugir... Temos que aproveitar enquanto consegue distrair o morcego.
-A propósito... – Tie se aproximou. – Que bicho é aquele?
-Depois eu explico. – O rapaz loiro se aprofundou no labirinto de mato, prestando bastante atenção, para que ninguém se perdesse. – Fiquem calados até que eu permita o contrário!
-Esperem... – May segurou um dos braços de Paul. – Não estou vendo Burnstein...
- O gato sabe se virar sozinho! – Respondeu.
-Alguém aí ainda está com o celular carregado? – Tie tentava se soltar do inacreditável nó de verde natural que se fez a sua frente.
-Calados! – Paul engrossou a voz, de modo que lhe fez parecer ainda mais sombria.
-Desculpe-me...
* * *
04h17min A.M
-Se algo acontecer a mim... – Corbin permanecia parado, com os braços cruzados e cabeça erguida. – Arranjarão problemas maiores do que a guerra do eclipse. Como eu já disse, existe um exército de encarnados e uma união de cinco bruxas experientes que estão dispostas a fazer este evento desaparecer por completo... Para sempre!
-Já derrotei exércitos antes. – Marianne levantou uma das mãos, para expressar uma forma de conta com seus dedos. – Primeiro: Um exército de mais de cinqüenta encarnados. Segundo: O povo da fé! Grupos vindos de todas as igrejas nacionais. Terceiro: As bruxas da causa! Mais um, menos um...
-Bruxas da causa? – Riley libertou o cão, que parara de rosnar para a moça, e voltou a se concentrar na conversa. – O que são?
-Bruxas da causa: União de bruxas especializadas em áreas a parte. – Marianne voltou a cruzar os braços. – Madellyne, por exemplo... A bruxa das flores... Pelo menos antes de perder o pescoço.
-Madellyne... A dona do diário... Ela... – Riley foi impedido de prosseguir. Os latidos de Thor tomaram uma ênfase irritante no silêncio da noite.
-O que este vira-lata pulguento... – Algo atacou Marianne, fazendo-a cair automaticamente.
-Que diabos é isso? – Corbin recuou ao ver a figura. Um enorme morcego, cujos dentes pingavam sangue ainda quente, pousou em meio à estrada, próximo à mulher recentemente atacada.
-Ele vai matá-la! – Jennifer tentava não esmagar o crucifixo com a força que o pavor lhe doava.
O grande animal ergueu seus compridos braços, onde a maioria das veias era visível, resultando no aparecimento de afiadas garras. Ele as lançou, com força, na direção de Marianne. Sua intenção não era das melhores.
-Não! – Riley gritou.
O morcego parou. Uma de suas pontiagudas orelhas se movimentou um pouco, e então seus olhos negros se viram encontrando os de Riley.
Uma onda de medo e ansiedade banhou o rapaz.
-Riley... – Corbin sussurrou, abrindo, sem movimentos brutos, sua mochila. – Ele não enxerga muito bem, morcegos confiam nos sons. Portanto, faça silêncio!
-Isto é mentira!
O animal gigante movimentou, mais uma vez, suas orelhas. Desta vez ele voltou sua atenção para uma pequena criaturinha que demonstrava raiva e bravura em seus latidos.
O morcego levantou um vôo baixo. Assim que o grande morcego começou a se aproximar do poodle, Thor fugiu para o matagal, levando-o junto em uma fria perseguição.
-Marianne! – Corbin se aproximou, levantando-a com calma.
-O que era aquela coisa? – Jennifer chorava desesperadamente. A essa altura, seu crucifixo havia desaparecido.
-Durante a lua minguante... – Marianne sentia uma imensa dor nas costas, onde o animal havia cravado suas unhas dos pés. – Não são apenas as almas penadas que tem direito a uma “visitinha”.
-Em outras palavras... - Corbin soltou a mulher, ao ter certeza de que ela não cairia novamente. – Aquela... Coisa... Era um demônio. Mais especificadamente: O demônio da noite.
Riley e Jennifer se entreolharam. O frio que percorria o local, aparentemente deserto, havia sido dispensado pela adrenalina corporal de ambos.
* * *
-Demônio das sombras? – Micka olhava diretamente para Paul.
Neste momento ambos se encontravam sentados, escondidos, atrás de uma enorme rocha. Do outro lado havia uma imensa floresta de árvores mortas, neblina e uma grande mansão abandonada.
Coincidência?
Não! May havia reconhecido aquele lugar há tempos atrás!
-Escutem... – Paul abraçava suas pernas. – Esta é uma parte excluída da Bíblia. Eu não me lembro muito bem da história... Mas sei que, no dia em que a serpente usou Eva para quebrar as ordens dadas por Jesus, cinco demônios se libertaram da grande árvore de fruta proibida. Cada demônio é representado por um animal!
-Pode explicar melhor? – Tie, inesperadamente, parecia realmente interessado na história.
-Demônio das sombras, como vocês puderam ver, é representado pelo morcego, por ser um animal de hábitos noturnos e que se adapta facilmente à escuridão. Depois temos o demônio do fogo, cujo corpo se assemelha ao de uma raposa, por ser um animal elétrico que passa a vida correndo de um lado para o outro. Em terceiro... Que eu me lembre... Temos o demônio da ilusão, representado pelo homem...
-Ilusão? – May saiu de seu transe pessoal ao ouvir a palavra.
-Sim. O demônio da ilusão confunde a mente e o coração de seus alvos, colocando um contra os outros, ou apenas fazendo-os sofrer com cenas inexistentes, manipuladas por seu próprio cérebro!
-Que horror! - Micka sentiu um leve arrepio. Isto pareceu um tanto familiar para ela.
-O quarto demônio não é problema para vocês, ele foi aprisionado no inferno durante a idade média. Já o quinto e último demônio... Bem, posso dizer que as chances de conseguirem derrotá-lo são quase nulas...
-Como é esse demônio?
-Ele sobreviveu durante todo este tempo... – Paul balançou a cabeça, em negativa. – O último demônio, não só é representado, como é a própria serpente de Éden! Este é o demônio do caos. Eu desejo boa sorte a vocês!
-Por quê? – Micka pareceu se esquecer de que precisava falar baixo. – Porque está falando como se precisássemos lutar com estes tais demônios?
-Bem... É que, se a bruxinha quiser sobreviver, terá que impedir a guerra do eclipse, e o único jeito de isto ocorrer é derrotando a serpente!
-Do que está falando? – May se assustou ao perceber que ela era a tal “bruxinha”.
-Continuando: É impossível encontrar a serpente, a não ser que matem pelo menos dois de seus demônios. Isto a atrairá.
-Porque está nos contando isto? – Tie olhou para o rapaz, percebendo que a pergunta feita havia lhe atingido de maneira certeira. – Pensei que estivesse do outro lado do jogo... Você não queria nos matar?
-Eu preciso matar vocês... – Os olhos azuis de Paul ficaram vazios por muitos instantes. – Eu preciso matar a descendente dos Cromwell... Ou então serei enviado ao inferno, e serei trancafiado por lá pelo resto da eternidade que me resta. Mas...
-Esta é a sua missão? – May atingia um tom frio agora. Estranhamente, ela sentiu algum tipo de ligação entre os dois. Era como se algo dentro de Paul tentasse encontrar a saída do labirinto de pecados que possuía seu corpo, e ela sentisse isto. – Precisa me matar, nesta tal cerimônia?
Paul ignorou, continuando sua fala.
-Uma pequena parte de mim não quer isto! Eu já estive na pele de vocês... Já fui um humano bobo com um corpo cobiçado pelas almas... Eu, melhor do que ninguém, sei o que estão passando nesse exato momento!
Um vento frio passou pelo local, provocando arrepios em todos. E agora? Quem era Paul? Deveriam confiar nele, ou os instintos de Micka deveriam ser respeitados?
-Marianne me transformou... – Lágrimas começaram a surgir no canto de seus olhos. – Antes que eu pudesse salvar minha amada... Ela me matou, e a matou logo após!
Paul estava mesmo chorando? O que estava acontecendo?
A tristeza dominou o local. Em alguns instantes, todos sabiam que Paul estava falando somente a verdade, durante todo o tempo. Ele estava realmente sofrendo...
-Paul... – May também chorava agora. O que provocou a mesma atitude em todos.
-Porém... Uma parte de mim ainda quer estar livre... Livre do inferno, da maldição, da guerra... Esta guerra maldita matou as únicas pessoas que me importavam neste...
Um forte latido interrompeu a fala do loiro. Do mesmo local de onde haviam saído, Thor apareceu, correndo, pulando nos braços de May logo após.
-Thor!
-Galera... – Tie se levantou, assim que todos fizeram o mesmo, e apontou para o grande morcego. – Nada bom...Nada bom...
-O que é aquilo? – Micka se assustou ao ver um pequeno animal sendo esmagado pelos dedos do demônio das sombras.
O morcego jogou o pássaro contra o chão. A ave, negra como a noite, estava morta.
-Sturk! – Paul gritou, esquecendo-se do ritual, do sacrifício,da guerra, e da história. Nada mais lhe importava... Seu mascote era sua única família, e agora, ele havia sido friamente assassinado.
O morcego soltou um grito inacreditavelmente grosso. Sua mão e seus dentes estavam infestados de sangue... Sangue de animal... Sangue de Sturk!
-Vamos... – May gritou, se engasgando. – Temos que entrar na mansão!
-Você vai morrer, Demônio maldito! - Paul não controlava a altura de seus gritos. O resto de seus sentimentos havia sido perdido no instante em que esse monstro matara seu único amigo. O jovem queria mais do que tudo, demonstrar sua fúria.
O morcego soltou mais um de seus estranhos sons. Desta vez, pareceu um protesto.
-Vamos! – Tie puxou Paul por um dos braços e correu.
Todos fugiram, freneticamente, sem olhar para trás.
Ouviu-se um bater de asas. O morcego estava pronto para agarrar sua próxima vítima!
* * *

Episódio 8

A noite havia chegado.
Lá no céu, cercada por lindas e brilhantes estrelas, estava ela. Ela havia chegado, e trazia em seu corpo o mais magnífico brilho de todos os tempos. A lua minguante.
Portas trancadas e janelas bloqueadas por móveis diversos. Esse era o estado da casa de Micka. Estavam todos reunidos no centro da sala, cada um com uma lanterna e celulares recarregados. Jennifer espalhava sal grosso por toda a casa, enquanto May soltava seu pequeno poodle, de nome Thor, de sua pequena casinha.
-É o seguinte: celulares no modo vibratório e nada de se separar pela casa a menos que seja caso de vida ou morte! – Jennifer abre uma das gavetas da cômoda, e retira oito crucifixos de madeira. Ficando com uma e repassando as outras, uma para cada um.
-Crucifixos? – Micka cruzou os braços. – Mãe, são espíritos, não vampiros!
-Alguém, pelo amor de Deus, pode me explicar o que está havendo? – Isa, sem nenhuma sombra de dúvidas, estava realmente perdida. Afinal, ela chegou depois de toda a história. – Pra que isso tudo? E que história é essa de espíritos e vampiros?
-Deixe eu te explicar... – Paula segurou os ombros da jovem. – May é descendente de bruxas, querem o sangue dela, querem possuí-los e isso pode incluir você. Mais o quê? Ah, durante a estadia da lua minguante estamos em completa desvantagem, ou seja, os espíritos podem te pegar e fazer coisas não muito legais com o seu corpo...
-O que isso quer...
Tarde demais. Uma tempestade havia se iniciado do lado de fora da casa, e todos os vidros do lado de dentro pareciam ter explodido. Isabella gritou, mesmo não acreditando muito nas palavras de Paula. Por sorte, um novo blecaute não havia ocorrido.
- Burnstein! – Inna gritou ao ver o gato preto pulando a janela que havia explodido.
A mesma janela que interrompeu o jogo espiritual...
Tie e todos os outros recuaram alguns passos. Micka puxou Isabella, completamente confusa, pelo braço.
Thor latia e rosnava sem parar para todos os lados.
-Ai meu Deus... O que é isso? – Isa estava pálida agora. Ela apontou para a escada que levava ao sótão, todos olharam (exceto Inna e Tie, que encaravam o felino.).
Haviam pessoas descendo lentamente os degraus, várias pessoas. Não... Várias almas-penadas. O único fato que comprovava isto era uma pequena porcentagem de transparência percorrendo o corpo de todos eles.
De repente, alguém avançou. Um velho, de roupas escuras e boina preta, se jogou em May. Neste instante, o gato saltou, se transformando no ar e impedindo o velho de se aproximar mais. O corpo desapareceu no ar.
Espere... Burnstein havia acabado de defender a Cromwell?
A essa altura, Jennifer percebeu que o sal grosso de nada adiantava. As estranhas pessoas continuavam a avançar, desta vez não só da escada, as almas também vinham de todos os corredores da casa. Burnstein havia voltado a sua forma animal, e se encontrava rondando os jovens.
Thor parecia não perceber a existência do gato. Ao invés disso, ele continuava latindo para as inúmeras figuras que se aproximavam. Nenhuma delas se sentia ameaçada.
-Como essas pessoas entraram aqui? – Gritou Isa, arremessando sua lanterna em uma parte da multidão. O objeto atravessou os corpos, e se espatifou na parede, do outro lado da sala.
-Precisamos sair! – Jennifer gritou. – Na rua teremos mais espaço, precisamos passar por eles!
O gato pareceu entender a fala pronunciada pela mulher. Se transformando mais uma vez, Burnstein avançou rapidamente, em direção ao Hall, fazendo toda e qualquer alma que se aproximasse dele desaparecer. Um estreito caminho se abriu entre os espíritos.
-Vamos! – Jennifer gritou, correndo pela abertura e sendo seguida pelos adolescentes e pelo cachorro até a porta de entrada. Ela rodou a chave e girou a maçaneta, saindo logo após.
Postes de luz acesos eram a iluminação do local. A sombra avançou em uma única alma presente na rua, impedindo-a de atacar Tie.
-Rápido, querida, que horas são? – Jennifer havia acendido sua lanterna, suas mãos não paravam de tremer.
-duas e meia. – Micka havia conferido em seu relógio de pulso verde fluorescente.
-Ótimo... Faltam apenas três horas e meia para o sol chegar... Temos que nos esconder enquanto isso!
Um corvo enorme sobrevoou o grupo e pousou ao lado de Burnstein, que voltara a ser um gato.
-Eu cuido destes pra vocês! – Um jovem loiro, de olhos azuis e músculos preparados para a ação, surge do outro lado da rua. – Sturk, eu ordeno que vá com eles!
-Cretino! – Inna berrou. Não que isto tivesse adiantado de alguma coisa, pois Paul já estava dentro da casa.
-Não temos tempo para discutir, garota! – Exclamou a mãe de Micka. - Temos que sair daqui!
Antes de alguém oferecer alguma resposta, a chuva havia passado de água para granizo. Um forte raio caiu próximo ao grupo, apavorando todos eles, provocando uma pequena rachadura no asfalto.
-Os Thompson não estavam viajando? – O suor liberado por May se fundia aos granizos que derretiam por todo o seu corpo. – A fazenda deles me parece um bom lugar!
-Não, ela fica muito longe daqui. Precisamos daquilo! – Riley apontou para uma alta caminhonete de quatro portas, estacionada na frente da casa de Jennifer.
- Não sei de quem é... – A mulher correu para a porta do veículo. – Mas vou fazer muito bom proveito. Podem entrando, agora!
Enquanto se sentava em um dos bancos, algo invadiu a mente de Micka: Paul devia ter deixado a caminhonete ali! Qual outra explicação para suas portas estarem destravadas e a chave preparada na ignição?
De um modo estranho e escancarado, Paul estava ajudando-os a escapar desta estranha noite. A pergunta é: Por quê?
Todos entraram no veículo, inclusive os animais. Jennifer deu a partida.
* * *
02h: 45m AM.
A tempestade não dava trégua e, agora, a neblina contribuía para isto. Jennifer dirigia apressadamente, como se não houvesse um amanha.
-O que é aquilo? – May apontou para a estrada. Havia alguém lá...
-Só pode ser mais uma dessas pragas! – Jennifer acelerou, percebendo seu erro quando um corpo bateu no capô, rachou o vidro, e foi lançado para alguns centímetros atrás do veículo. – Essa não! – Ela parou o carro em qualquer lugar, abriu a porta, e correu em direção ao corpo.
-Espere Jennifer, não podemos ficar sozinhos! – Riley abriu sua porta e saltou do carro, sendo seguido por Thor, que corria até a mulher.
-Riley, eu... – Duas batidas de portas e o som de uma trava sendo ativada impediu que Micka completasse a frase.
-O que está havendo? – Se continuasse desse jeito, Isa enlouqueceria.
A chave girou novamente na ignição, sozinha.
-Ai meu Deus... – Jennifer continuava agachada, observando o que agora lhe parecia ser uma mulher. – Acho que está morta!
-Jennifer... – Riley seguiu os latidos do cão. Ouvindo algo acelerar logo em seguida. – Temos problemas maiores agora. – O jovem apontou para a caminhonete, que disparou, desaparecendo na escuridão da noite.
-Crianças! – Ela gritou, levantando-se e olhando para o asfalto vazio.
-Ah... – O corpo gemeu no chão, chamando a atenção das duas figuras em pé na sua frente.
-Está viva! – Riley disse.
A mãe de micka assentiu.
-Como é bom... – A mulher ensangüentada se levantou lentamente do chão, e se refez. – Voltar...
Jennifer e Riley se entreolharam. Thor avançou na mulher, que o jogou para longe com um simples chute.
Riley correu até o cão, segurando-o em seus braços.
-Acabei de voltar... Não posso correr riscos. – A mulher segurou Jennifer pelo pescoço. –Sabe, seu corpo é ideal para minha filha...
-Pena que ela jamais o terá! – Alguém perfurou o corpo possuído, que caiu no chão, soltando Jennifer.
Riley encarou a figura portadora de um facão de churrasco. Era um homem... Era mesmo um homem, e não um adolescente, para variar.
Um homem nem tão alto, de cabelos cor de bronze e pele parda. Suas vestimentas não passavam de um antigo uniforme militar.
-Esses maníacos de hoje em dia... – O homem cobriu o facão ensangüentado com um pequeno pedaço de pano branco, guardando-o na mochila que carregava nas costas logo após. – Vocês estão bem?
Jennifer nada respondeu. Algo lhe intrigava naquele homem... Pensando bem, como não haviam percebido sua presença antes? De onde este ser tinha saído?
-Quem é você? – Jennifer aproximou-se de Riley, que ainda portava Thor em seus braços.
Um certo tom de desconfiança/ameaça/desespero emanava da voz da mulher.
As minúsculas pedras de granizo que antes se soltavam do céu, agora haviam desaparecido quase que por completo. Pelo menos, os raios e trovoadas haviam deixado de existir naquele local.
-Corbin Sant’Lhianna... – O homem de olhos negros se identificou, sem se aproximar. – 30 anos, solteiro, nascido na Espanha... O que mais precisa saber?
O cão voltou a latir.
- O que é você? – Jennifer gritou.
- É um encarnado... – Todos voltaram seus olhares para a mulher, de vestido de seda preto e rasteiras vermelhas, que apareceu repentinamente atrás de Riley. – E dos bem fraquinhos... Encarnados de verdade não precisam de facas!
-Você! – Jennifer gritou. Se aproximando do homem e puxando o jovem garoto para longe da moça. – A mulher da caverna!
-Marianne, obrigado... – A figura de vestido revirou os olhos, encontrando os de Corbin logo em seguida. - Um encarnado que ajuda os humanos... Isto está se tornando freqüente!
-Minha missão é impedir a cerimônia de sacrifício na guerra do eclipse... – Corbin aproximou-se de Marianne. – Tenho vigiado a bruxinha de vocês há algum tempo... – Revelou, olhando fixo para os olhos de Jennifer. – Quando soube da história da lua minguante percebi que teria que entrar em ação.
-Impedir a cerimônia? – Marianne olhou para o céu, pensativa, e voltou a encarar o espanhol. – Teremos problemas...
* * *
-Alguém pegue o volante... – Isa tapava os ouvidos com as mãos, e se encolhia no banco. – Por favor!
A caminhonete estava em alta velocidade. Burnstein, com os dentes, tentava rodar a chave, para desligar o carro. Tentativas fracassadas. Havia um forte campo de força em volta da ignição.
-Ninguém aqui possui habilitação, Isabella! – May gritou em resposta.
-E quem é que liga para isto? Por acaso o volante parou de rodar quando você disse “não tem ninguém dirigindo”?
-Droga! – Micka pulou para frente, expulsando o gato para o banco de carona, e segurando o volante. – Não tem como... Algo o está prendendo...
-Os freios, Micka! – Tie gritou.
Mickaella avistou o pedal, e pisou fundo. Os freios do veículo neutralizavam, aos poucos, a aceleração da caminhonete. O asfalto se encheu de fumaça e um forte cheiro de algo queimando encheu o ar.
Em alguns segundos, o carro havia parado. Suas rodas estavam completamente gastas, o vidro da frente estava rachado, e parte do capô havia sido amassada, mas o carro ainda estava inteiro.
-graças a Deus! – Exclamou Isabella.
-Não comemore... – Tie batia repetidamente em uma das portas. – Ainda estamos presos!
Sturk saltou para fora do carro, quebrando um dos vidros.
-Estão mesmo nos ajudando... – Micka ainda sentia-se incomodada. Algo nesta história não estava certo.
Tie esticou seu braço até conseguir destravar a porta.
- Vamos! – O garoto saiu do carro, destravando as outras portas logo após.
Todos saltaram do veículo.
-Micka, tem horas? – May era uma das poucas no grupo que não havia perdido sua lanterna, e a usava agora.
-03:14! – Micka voltou a apertar seu crucifixo. – Ainda falta bastante tempo... Não vamos conseguir...
-Temos que encontrar o caminho de volta. – Tie sugeriu.
-Impossível... A caminhonete pegou vários atalhos e caminhos alternativos... Apesar de eu não saber para onde... – Isa havia libertado sua parte observadora há alguns minutos, quando toda a sua vida havia passado diante de seus olhos.
-Tudo bem: Estamos oficialmente perdidos... Em todos os sentidos. – Inna demonstrava ter perdido a paciência. Sua cabeça latejava, e seu coração respondia com intermináveis batidas por segundo.
* * *
-Sabe... – Marianne se aproximava aos poucos. – Minha missão é garantir que o sacrifício aconteça, e ter certeza de que nenhum palhaço tente impedir a guerra!
A cada passo dado por Marianne, mais alto rosnava Thor. Era perceptível sua sensibilidade espiritual.
-Puxa... Vamos mesmo ter problemas... – Corbin ordenou que Jennifer e Riley ficassem atrás dele. Ordem cumprida! – Mesmo que a guerra do eclipse aconteça isso não quer dizer que minha mestra não esteja se preparando...
-O que quer dizer?
-Somos um exército, entendeu? – Corbin encarou Marianne. – Um exército de encarnados guiados por uma união do poder de cinco bruxas!
-Cinco bruxas? – Marianne parou. – Eu não sabia que alguém pudesse ser transformado por magia.
-A magia pode fazer bastante coisa, Cara dama...
A discussão é interrompida por um som. Um telefone. O celular de Jennifer.
Ao identificar o número de Micka, ela atendeu em um flash.
-Alô? Mãe? Onde vocês estão? Estão bem?
-Filha... Mais ou menos... Estamos no meio da estrada, e vocês?
-Não sabemos, em alguma outra parte deserta da estrada... Não tem nada aqui... Apenas uma placa em branco.
-Não se preocupe filha, encontramos ajuda... Pelo menos eu acho, em breve estaremos juntos novamente!
-O que eu faço mãe? Estamos desesperados!
-Corram para o fim da estrada, ela não é muito longa, se voltarem de onde vieram todos os caminhos dão em Boston.
-Tudo bem, preciso desligar, acho que Isa se feriu.
-Mande beijos e sorte para todos!
A ligação foi perdida.
-Micka? Filha?
-Por enquanto, meu assunto é com vocês... Dos jovens eu cuido depois! – Marianne esticou a mão, e o antigo celular de Jennifer havia sido lançado para longe. – Corbin e eu precisamos ter uma conversinha...
* * *

Episódio 7

Os últimos dias foram realmente perturbadores! Primeiro um simples lápis apontou a palavra morte em um jogo espiritual, e logo depois ocorre um misterioso blecaute que, segundo o depoimento de alguns amigos e vizinhos da família, jamais ocorreu. Alguns segundos depois, May desmaia e desperta com um pequeno corte no pescoço. Logo depois, nesta mesma noite, Inna sonha com uma estranha de nome “Celly” (Detalhe: Não sabemos quem é ela de verdade até hoje!), que possivelmente mora em uma espécie de plano espiritual. Ela jura ser nossa protetora, mas nunca falou nada sobre o assunto. A única coisa que nos revelou foi o mágico e estranho parentesco de May. No dia seguinte, logo pela manhã, descobrimos que um colega nosso havia desaparecido durante a noite (a mesma noite em que Inna teve o estranho sonho. – Apenas para deixar bem claro!). Passado algum tempo ele atacou - e matou - sua namorada, fazendo virar uma encarnada (Espécie de zumbi com cérebro que precisa cumprir ordens para passar de um plano espiritual para outro.), como ele. E, adivinhe: Não acaba por aí! Descobrimos que a proteção divina que ronda o nosso corpo foi eliminada durante o tal jogo proposto por Inna. E, como conseqüência disso, ficamos vulneráveis aos espíritos maus (e aos encarnados) durante toda a estadia da Lua minguante. A propósito: Ela chega hoje! Está surpreso? Bem, porque ainda não acabou: Ontem Tie, Inna e Minha mãe foram seqüestrados por Heath, Paul (nunca estive pessoalmente com ele.) e uma mulher chamada Marianne... A comandante deste grupo de encarnados. Com sorte, Paula não perdeu a sua parte amiga durante a transformação e nos ajudou a resgatá-los. Infelizmente, Heath teve que perder a vida para que isto fosse possível. Minha mãe está bem (graças a Deus!), mas Tie e Inna ficaram bem feridos... Os dois estão se recuperando, cada um em sua respectiva casa (mesmo que a separação de um grupo sempre acabe em morte nos filmes de terror.). Tivemos que inventar uma desculpa para os seus pais, então dissemos que os dois se colidiram em uma competição de bicicleta. Provavelmente não aparecerão na escola hoje. Celly nos entregou um diário, cheio de feitiços e histórias estranhas, de uma antepassada de May. Ela o está lendo para ver se existe algum feitiço que cancele a transformação de Paula. Por falar nisso, deve estar se perguntando como Paula reagiu a “morte” de Heath, acertei? - Bem, sabia! – A verdade é que ela permaneceu séria durante toda a cena, mas foi só eu trazer ela aqui pra casa que suas lágrimas começaram a se soltar. (Ela está realmente arrasada!). Ontem, quando Paula nos ajudou no resgate, esquecemos completamente de Riley desmaiado em minha cama. (Ficamos desesperados!) Pensamos que Marianne ou Paul poderia tentar fazer alguma coisa ruim enquanto ele estava adormecido. Mas, ao invés disso, os dois não deram nenhum sinal de vida. (Graças a Deus! ²). Bem, agora eu estou me preparando para mais um dia cansativo no colégio, e isso é o que me deixa mais assustada! – Sabe, no sábado, enquanto corríamos para verificar como estava Paula, Tie me lembrou de algo considerável. Todos estes incidentes – e acidentes –, mortes e perseguições começaram exatamente no mesmo dia em que aquele novato estranho chegou à escola. (Ele não tirava os olhos de May, e Além disso, ele desapareceu da sala de aula no mesmo tempo em que a levamos para a enfermaria... Depois reapareceu, sim! Sabe quando? Quando Eu, MAY e Tie passamos pela porta da frente.). Estranho, não? Agora eu tenho mesmo que ir! Não posso chegar atrasada mais uma vez ou então ganho uma bela suspensão... Além do mais, Preciso buscar minha prima na rodoviária depois da aula. Eu gostaria tanto que meus tios não precisassem viajar para o Rio de Janeiro... Pelo menos não agora. Já pensou quanto trabalho vamos ter para esconder toda a verdade dela? Eu, sinceramente, acho que não vamos conseguir... Mas, por outro lado, sei que precisamos! Já temos pessoas demais envolvidas nisto... Mais tarde eu continuo... agora eu sou obrigada a ir embora! Faltam apenas alguns minutos para o início da primeira aula (biologia). Como disse antes, não posso me atrasar. - Beijos - Mickaella Diaz. * * * O sol brilhava e destacava-se no céu azul e claro da manhã de Segunda-Feira. Diversos pássaros voavam de uma árvore para outra, ajudando o vento fresco a balançar as folhas esverdeadas e amareladas do jardim gigantesco da escola. As flores coloridas eram alvos fáceis para as mais diversas borboletas, que levitavam suavemente acima delas. Alguns esquilos dividiam espaço entre os arbustos e a grama. O dia não poderia estar mais bonito, e isso era bom. Depois de tanto drama ocorrido em tão pouco tempo, uma manhã linda e florida era mais que merecida. May, neste exato momento, estava deitada em um dos bancos de madeira fixados na grama, absorvendo a mais acolhedora luz solar que ela já havia visto em toda a sua vida. Perigo? Cromwell não queria saber dos riscos de estar sozinha. Isto por que ela não se sentia sozinha... Ela não estava sozinha. Estava com Deus... E com os esquilos, e com os pássaros e as borboletas... -Quando eu passei pela porta e vi como estava o dia, cheguei a quase esquecer do nosso risco de morte. – Micka se aproximou lentamente do banco, fazendo com que May se levantasse e lhe desse um abraço. A luz natural banhava todo o seu corpo, deixando-a com um leve tom rosado na pele. – Diga-me, como foi sua noite? Conseguiu dormir ou resolveu me imitar e não pregar o olho a noite inteira? -Foi uma noite solitária... Meu pai viajou a negócios e então tive de dormir agarrada ao meu cachorro. -Porque não foi para minha casa? Sabe que não podemos ficar sozinhos. -Foi apenas uma noite, Micka... – May a encarou, ainda caminhando. – Precisamos voltar a nossas vidas reais! Isto está saindo de controle. -Uuh, me perdoe senhorita “morro, mas não saio da rotina”. – Mickaella deixou um breve riso escapar. -Desculpe... – May sorriu. – é que eu não me acostumo com esta história de espiritismo e bruxaria... É muita perseguição ao mesmo tempo. O sinal escolar começa a bater, caixas de som reproduziam seu som por todo o colégio. Neste momento, o pátio central passa de quase vazio à completamente lotado. Centenas de adolescentes dirigindo-se para as suas respectivas aulas, nos diferentes cantos do colégio, Fizeram com que as duas amigas relembrassem sua antiga vida... Ah... Não fazia tanto tempo desde que esta vida ainda pertencia a elas. Estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Micka descartou sua saudade ao reconhecer um dos rostos em meio à multidão. Riley pareceu não ouvir a seus chamados, continuou subindo as escadas até desaparecer em um corredor repleto de armários. Tie estava lá também, com um curativo enorme em um de seus braços, conversando com algumas pessoas e apoiando seu corpo em uma porta fechada do pátio. Micka pode perceber algo diferente em seu rosto... Sorrisos! Milagrosamente, era como se nada tivesse acontecido. Riley estava neutro como era de costume antes de toda a história, e Tie estava feliz... Aliás... Todos estavam felizes! Até o dia parecia feliz: Um sol quente e brilhante, Árvores vivas e verdes, Animais agindo de forma tal como se humanos não lhe proporcionassem perigo algum... E as flores dominavam cores tão brilhantes que faziam Micka querer olhá-las durante todo o dia. Estava tudo perfeito! Perfeito como antes... -Vamos Micka... – May sorriu, e então puxou a menina. Micka pode perceber o calor transmitido pela sua amiga, e isso era diferente, pois nos últimos dias a única coisa que se sentia era frio. – a aula vai começar daqui a pouco, e a sala de biologia fica do outro lado do colégio... Temos que ir. -Tudo bem! – Com uma bela expressão estampada em seu rosto, Micka correu. Correu ao lado de May. Correu distribuindo sorrisos para o mundo. Ela passou por Tie, que retribuiu o sorriso com um aceno, após girar a maçaneta e abrir a porta da sala de aula teatral. Logo depois, passou por Inna, que se dirigia ao ginásio. E uma pergunta nasceu em sua mente: Porque só ela tinha uma aula de verdade no primeiro tempo? Bem, de qualquer forma, o dia estava belo demais para reclamações pessoais. * * * As aulas passaram como um tufão. Já eram 13:15, e Mickaella aguardava sua prima na rodoviária, Ao lado de Tie. O local estava praticamente vazio, a não ser por algumas famílias que desceram do ônibus recém estacionado. Isabella arrastava sua gigante mala com rodas, e uma pequena bolsa amarela estava presa a sua calça jeans, com a ajuda de um cinto. A jovem de cabelos ruivos e lisos parou na frente dos dois adolescentes, largou a mala azul-marinho, e se jogou no colo da prima. -Que saudades, Micka! – Isabella se soltou do abraço. – Eu estou tão feliz! Tenho tanta coisa para te falar... Los Angeles mudou tanto desde a última vez que você foi me visitar... -Também estou feliz em te ver, Isa... – Micka manteve o sorriso forçado por mais algum tempo. – Fiquei super feliz quando recebi a notícia de que viria para cá. - Já imaginava... Você me ama, prima, não vive sem mim! – Isabella ri por um segundo. -Modesta como sempre... – Tie não demonstrava nenhuma ponta de brincadeira em sua fala. Sua expressão séria era o que comprovava isto. -Nossa, Mickaella, Não sabia que criava sua própria maritaca. – A jovem voltou a carregar a mala com rodas, e correu para o táxi que os aguardava antes que Tie pudesse ter a oportunidade de revidar. - Quem chegar por último é um Tie! – Ela implicou, enquanto iniciava sua própria corrida. -Mais uma vez... Como conseguiu me forçar a vir? – Tie balançou a cabeça, em negativa, e seguiu para o táxi. -Espere, Tie... - Mickaella não pode evitar suas rápidas gargalhadas. – Não foi tão ruim... Pelo menos, desta vez, ela não jogou ovo podre em você! Micka percebeu sua falha: Não adiantava tentar, os dois se odiavam, e pronto! Ela se deu conta disso quando avistou Tie sendo chutado para fora do carro, batendo o braço ferido na calçada, por uma pequena fração de segundos, Tie pareceu gemer. -Ai meu Deus... Dai-me paciência... Eu imploro... – Micka cruzou os braços, e abaixou a cabeça. Sem hesitar, a jovem entrou no táxi, forçando Tie a se sentar no banco da frente, ao lado do motorista, para não haver mais confusões. Afinal, este deveria ser o dia perfeito. Pois, em algumas horas, o terror começa! * * * A luz do sol dominava uma grande parte da área interna da caverna. Marianne, sem expressão nenhuma em seu rosto, incendiava o corpo de Heath com um pouco de Álcool e algumas velas roxas acesas. A caverna se encontrava dominada por fumaça, limitando a visão de qualquer ser humano que tentasse entrar ali. Não que isso fosse problema para um encarnado já transformado completamente. -Sturk me enviou um pensamento... – Paul entrou na caverna, tirando a jaqueta de couro preta do corpo e a jogando em qualquer canto. -Nossa... Faz bastante tempo desde a última vez que o pássaro se comunicou com alguém... -Preste atenção, ruiva! Ele me enviou um pensamento... – Paul segurou um dos braços da moça, para conseguir um pouco de sua atenção. – Aquela bruxa maldita foi quem matou Heath! -A neta de Madellyne? – Marianne não escondeu sua surpresa, ela lançou a última vela no corpo estirado e continuou o assunto. – Mas, como ela encontrou este lugar? -Paula os trouxe aqui! Ela soltou o casal e a mulher, e então fugiu com todos. – Paul curvou uma das sobrancelhas. – Espere... O que houve com Celly? -Aquela filha da mãe me baniu do templo... – A mulher, agora com uma blusa tomara-que-caia preta, calça jeans azul-marinho, e botas cinza, caminhou para a parte externa da caverna, sendo seguida por Paul. – Depois nos livramos dela. Por enquanto, precisamos matar aquela bruxinha! O mestre não está forte o suficiente para possuí-la com vida... -Mary... Acho que ainda não entendeu. Enquanto Celly existir, não conseguiremos fazer nada com aqueles infelizes! Ela os protege como uma mãe protege os filhos. - Temos que esquecer Celly por um tempo, Paul! A lua minguante está chegando, nosso maior problema agora são as almas-penadas... Agora que descobriram o parentesco de May, cairão como uma onda de gafanhotos em cima dela e daqueles intrometidos. E aí, Adeus liberdade e olá inferno para nós dois! - Três... – Corrigiu Paul. – Mesmo tendo mudado de lado, Paula continua sendo uma encarnada, e com a mesma missão! De qualquer forma, Celly também terá mais facilidade em entrar neste mundo durante a estadia da lua. Ou seja, não podemos esquecê-la por completo... -Acredite Paul, Celly ocupará mais tempo em sua inexplicável busca por Cloe do que com qualquer outra coisa! -Cloe? Cloe morreu na guerra do eclipse! -Talvez, Paul... – A mulher mantinha um olhar fixo para o nada, com a mão esquerda na cintura. – Talvez... * * * “Página 17: As coisas não estão fáceis, querido amigo. Quanto mais eu percebo o potencial que tenho, mais atenção eu chamo! Hoje algo fascinante me aconteceu: Fui encurralada, pelos encarnados e pela igreja. Pensei que morreria... Que seria queimada viva após ser nocauteada. Mas aí aconteceu... Uma forte luz amarelada preencheu toda a rua, e a escuridão noturna foi substituída por algo divino. Desbloquearam minha aura! Uma fascinante coruja... Você nem imagina a minha felicidade quando percebi que não carregava uma sombra. Enfim, me sinto mais segura... Mesmo que agora o meu rosto esteja estampado em, pelo menos, metade das igrejas da cidade. Pelo menos, agora, tenho uma companheira em quem sei que posso confiar! A parte ruim do dia de hoje? Bem, O eclipse está chegando, e com ele vem toda a guerra. Por sorte conseguimos esconder o nascimento de minha neta, porém, os encarnados continuam perseguindo minha filha... Querem sacrificá-la... -Eu não posso deixar que isso aconteça!- Vou fazer de tudo para impedi-los! De tudo... Bom, amigo íntimo, sabe como odeio despedidas, não sabe? Então eu vou dormir dizendo-lhe apenas um... Até logo... Então... Até logo!”. May, deitada em sua cama, fechou o pequeno livro preto e o encarou. Algo tocou sua mente: A lua crescente desenhada no canto da capa de couro. O que aquilo queria dizer? Ora, se a lua minguante significava a divisão dos mundos, onde o universo espiritual tinha vantagem ao dos humanos... Poderia a crescente, expressar o contrário? Seria possível que aquela lua estampada no diário significasse paz e segurança por alguns dias? Uma onda de desejo e ansiedade lhe possuiu por um instante. Afinal, já se passara das seis da tarde. Em poucas horas, uma maratona de sete dias incensáveis de puro medo começaria. Ao se lembrar de que seu pai ficaria fora por alguns dias, May preparou sua gigante mala de viagem com quase todas as suas roupas, e uma pequena mochila com o seu material escolar. Logo depois, enfiou seu poodle em sua casinha de viagens, e se mandou para a casa de Mickaella. Ao sair, trancando a porta da frente e guardando a chave em algum bolso de sua mochila, A jovem bruxa pegou seu celular, e começou a digitar: “Estou indo para a casa de Micka. Espero-te lá! Beijos, Cromwell...”. Enviar – Inna May deu um forte suspiro, e uma lágrima correu por parte de seu rosto, antes de se soltar. A partir de agora, separação era extremamente proibido! – O jogo começou! * * *
 

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