Episódio 7

Os últimos dias foram realmente perturbadores! Primeiro um simples lápis apontou a palavra morte em um jogo espiritual, e logo depois ocorre um misterioso blecaute que, segundo o depoimento de alguns amigos e vizinhos da família, jamais ocorreu. Alguns segundos depois, May desmaia e desperta com um pequeno corte no pescoço. Logo depois, nesta mesma noite, Inna sonha com uma estranha de nome “Celly” (Detalhe: Não sabemos quem é ela de verdade até hoje!), que possivelmente mora em uma espécie de plano espiritual. Ela jura ser nossa protetora, mas nunca falou nada sobre o assunto. A única coisa que nos revelou foi o mágico e estranho parentesco de May. No dia seguinte, logo pela manhã, descobrimos que um colega nosso havia desaparecido durante a noite (a mesma noite em que Inna teve o estranho sonho. – Apenas para deixar bem claro!). Passado algum tempo ele atacou - e matou - sua namorada, fazendo virar uma encarnada (Espécie de zumbi com cérebro que precisa cumprir ordens para passar de um plano espiritual para outro.), como ele. E, adivinhe: Não acaba por aí! Descobrimos que a proteção divina que ronda o nosso corpo foi eliminada durante o tal jogo proposto por Inna. E, como conseqüência disso, ficamos vulneráveis aos espíritos maus (e aos encarnados) durante toda a estadia da Lua minguante. A propósito: Ela chega hoje! Está surpreso? Bem, porque ainda não acabou: Ontem Tie, Inna e Minha mãe foram seqüestrados por Heath, Paul (nunca estive pessoalmente com ele.) e uma mulher chamada Marianne... A comandante deste grupo de encarnados. Com sorte, Paula não perdeu a sua parte amiga durante a transformação e nos ajudou a resgatá-los. Infelizmente, Heath teve que perder a vida para que isto fosse possível. Minha mãe está bem (graças a Deus!), mas Tie e Inna ficaram bem feridos... Os dois estão se recuperando, cada um em sua respectiva casa (mesmo que a separação de um grupo sempre acabe em morte nos filmes de terror.). Tivemos que inventar uma desculpa para os seus pais, então dissemos que os dois se colidiram em uma competição de bicicleta. Provavelmente não aparecerão na escola hoje. Celly nos entregou um diário, cheio de feitiços e histórias estranhas, de uma antepassada de May. Ela o está lendo para ver se existe algum feitiço que cancele a transformação de Paula. Por falar nisso, deve estar se perguntando como Paula reagiu a “morte” de Heath, acertei? - Bem, sabia! – A verdade é que ela permaneceu séria durante toda a cena, mas foi só eu trazer ela aqui pra casa que suas lágrimas começaram a se soltar. (Ela está realmente arrasada!). Ontem, quando Paula nos ajudou no resgate, esquecemos completamente de Riley desmaiado em minha cama. (Ficamos desesperados!) Pensamos que Marianne ou Paul poderia tentar fazer alguma coisa ruim enquanto ele estava adormecido. Mas, ao invés disso, os dois não deram nenhum sinal de vida. (Graças a Deus! ²). Bem, agora eu estou me preparando para mais um dia cansativo no colégio, e isso é o que me deixa mais assustada! – Sabe, no sábado, enquanto corríamos para verificar como estava Paula, Tie me lembrou de algo considerável. Todos estes incidentes – e acidentes –, mortes e perseguições começaram exatamente no mesmo dia em que aquele novato estranho chegou à escola. (Ele não tirava os olhos de May, e Além disso, ele desapareceu da sala de aula no mesmo tempo em que a levamos para a enfermaria... Depois reapareceu, sim! Sabe quando? Quando Eu, MAY e Tie passamos pela porta da frente.). Estranho, não? Agora eu tenho mesmo que ir! Não posso chegar atrasada mais uma vez ou então ganho uma bela suspensão... Além do mais, Preciso buscar minha prima na rodoviária depois da aula. Eu gostaria tanto que meus tios não precisassem viajar para o Rio de Janeiro... Pelo menos não agora. Já pensou quanto trabalho vamos ter para esconder toda a verdade dela? Eu, sinceramente, acho que não vamos conseguir... Mas, por outro lado, sei que precisamos! Já temos pessoas demais envolvidas nisto... Mais tarde eu continuo... agora eu sou obrigada a ir embora! Faltam apenas alguns minutos para o início da primeira aula (biologia). Como disse antes, não posso me atrasar. - Beijos - Mickaella Diaz. * * * O sol brilhava e destacava-se no céu azul e claro da manhã de Segunda-Feira. Diversos pássaros voavam de uma árvore para outra, ajudando o vento fresco a balançar as folhas esverdeadas e amareladas do jardim gigantesco da escola. As flores coloridas eram alvos fáceis para as mais diversas borboletas, que levitavam suavemente acima delas. Alguns esquilos dividiam espaço entre os arbustos e a grama. O dia não poderia estar mais bonito, e isso era bom. Depois de tanto drama ocorrido em tão pouco tempo, uma manhã linda e florida era mais que merecida. May, neste exato momento, estava deitada em um dos bancos de madeira fixados na grama, absorvendo a mais acolhedora luz solar que ela já havia visto em toda a sua vida. Perigo? Cromwell não queria saber dos riscos de estar sozinha. Isto por que ela não se sentia sozinha... Ela não estava sozinha. Estava com Deus... E com os esquilos, e com os pássaros e as borboletas... -Quando eu passei pela porta e vi como estava o dia, cheguei a quase esquecer do nosso risco de morte. – Micka se aproximou lentamente do banco, fazendo com que May se levantasse e lhe desse um abraço. A luz natural banhava todo o seu corpo, deixando-a com um leve tom rosado na pele. – Diga-me, como foi sua noite? Conseguiu dormir ou resolveu me imitar e não pregar o olho a noite inteira? -Foi uma noite solitária... Meu pai viajou a negócios e então tive de dormir agarrada ao meu cachorro. -Porque não foi para minha casa? Sabe que não podemos ficar sozinhos. -Foi apenas uma noite, Micka... – May a encarou, ainda caminhando. – Precisamos voltar a nossas vidas reais! Isto está saindo de controle. -Uuh, me perdoe senhorita “morro, mas não saio da rotina”. – Mickaella deixou um breve riso escapar. -Desculpe... – May sorriu. – é que eu não me acostumo com esta história de espiritismo e bruxaria... É muita perseguição ao mesmo tempo. O sinal escolar começa a bater, caixas de som reproduziam seu som por todo o colégio. Neste momento, o pátio central passa de quase vazio à completamente lotado. Centenas de adolescentes dirigindo-se para as suas respectivas aulas, nos diferentes cantos do colégio, Fizeram com que as duas amigas relembrassem sua antiga vida... Ah... Não fazia tanto tempo desde que esta vida ainda pertencia a elas. Estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Micka descartou sua saudade ao reconhecer um dos rostos em meio à multidão. Riley pareceu não ouvir a seus chamados, continuou subindo as escadas até desaparecer em um corredor repleto de armários. Tie estava lá também, com um curativo enorme em um de seus braços, conversando com algumas pessoas e apoiando seu corpo em uma porta fechada do pátio. Micka pode perceber algo diferente em seu rosto... Sorrisos! Milagrosamente, era como se nada tivesse acontecido. Riley estava neutro como era de costume antes de toda a história, e Tie estava feliz... Aliás... Todos estavam felizes! Até o dia parecia feliz: Um sol quente e brilhante, Árvores vivas e verdes, Animais agindo de forma tal como se humanos não lhe proporcionassem perigo algum... E as flores dominavam cores tão brilhantes que faziam Micka querer olhá-las durante todo o dia. Estava tudo perfeito! Perfeito como antes... -Vamos Micka... – May sorriu, e então puxou a menina. Micka pode perceber o calor transmitido pela sua amiga, e isso era diferente, pois nos últimos dias a única coisa que se sentia era frio. – a aula vai começar daqui a pouco, e a sala de biologia fica do outro lado do colégio... Temos que ir. -Tudo bem! – Com uma bela expressão estampada em seu rosto, Micka correu. Correu ao lado de May. Correu distribuindo sorrisos para o mundo. Ela passou por Tie, que retribuiu o sorriso com um aceno, após girar a maçaneta e abrir a porta da sala de aula teatral. Logo depois, passou por Inna, que se dirigia ao ginásio. E uma pergunta nasceu em sua mente: Porque só ela tinha uma aula de verdade no primeiro tempo? Bem, de qualquer forma, o dia estava belo demais para reclamações pessoais. * * * As aulas passaram como um tufão. Já eram 13:15, e Mickaella aguardava sua prima na rodoviária, Ao lado de Tie. O local estava praticamente vazio, a não ser por algumas famílias que desceram do ônibus recém estacionado. Isabella arrastava sua gigante mala com rodas, e uma pequena bolsa amarela estava presa a sua calça jeans, com a ajuda de um cinto. A jovem de cabelos ruivos e lisos parou na frente dos dois adolescentes, largou a mala azul-marinho, e se jogou no colo da prima. -Que saudades, Micka! – Isabella se soltou do abraço. – Eu estou tão feliz! Tenho tanta coisa para te falar... Los Angeles mudou tanto desde a última vez que você foi me visitar... -Também estou feliz em te ver, Isa... – Micka manteve o sorriso forçado por mais algum tempo. – Fiquei super feliz quando recebi a notícia de que viria para cá. - Já imaginava... Você me ama, prima, não vive sem mim! – Isabella ri por um segundo. -Modesta como sempre... – Tie não demonstrava nenhuma ponta de brincadeira em sua fala. Sua expressão séria era o que comprovava isto. -Nossa, Mickaella, Não sabia que criava sua própria maritaca. – A jovem voltou a carregar a mala com rodas, e correu para o táxi que os aguardava antes que Tie pudesse ter a oportunidade de revidar. - Quem chegar por último é um Tie! – Ela implicou, enquanto iniciava sua própria corrida. -Mais uma vez... Como conseguiu me forçar a vir? – Tie balançou a cabeça, em negativa, e seguiu para o táxi. -Espere, Tie... - Mickaella não pode evitar suas rápidas gargalhadas. – Não foi tão ruim... Pelo menos, desta vez, ela não jogou ovo podre em você! Micka percebeu sua falha: Não adiantava tentar, os dois se odiavam, e pronto! Ela se deu conta disso quando avistou Tie sendo chutado para fora do carro, batendo o braço ferido na calçada, por uma pequena fração de segundos, Tie pareceu gemer. -Ai meu Deus... Dai-me paciência... Eu imploro... – Micka cruzou os braços, e abaixou a cabeça. Sem hesitar, a jovem entrou no táxi, forçando Tie a se sentar no banco da frente, ao lado do motorista, para não haver mais confusões. Afinal, este deveria ser o dia perfeito. Pois, em algumas horas, o terror começa! * * * A luz do sol dominava uma grande parte da área interna da caverna. Marianne, sem expressão nenhuma em seu rosto, incendiava o corpo de Heath com um pouco de Álcool e algumas velas roxas acesas. A caverna se encontrava dominada por fumaça, limitando a visão de qualquer ser humano que tentasse entrar ali. Não que isso fosse problema para um encarnado já transformado completamente. -Sturk me enviou um pensamento... – Paul entrou na caverna, tirando a jaqueta de couro preta do corpo e a jogando em qualquer canto. -Nossa... Faz bastante tempo desde a última vez que o pássaro se comunicou com alguém... -Preste atenção, ruiva! Ele me enviou um pensamento... – Paul segurou um dos braços da moça, para conseguir um pouco de sua atenção. – Aquela bruxa maldita foi quem matou Heath! -A neta de Madellyne? – Marianne não escondeu sua surpresa, ela lançou a última vela no corpo estirado e continuou o assunto. – Mas, como ela encontrou este lugar? -Paula os trouxe aqui! Ela soltou o casal e a mulher, e então fugiu com todos. – Paul curvou uma das sobrancelhas. – Espere... O que houve com Celly? -Aquela filha da mãe me baniu do templo... – A mulher, agora com uma blusa tomara-que-caia preta, calça jeans azul-marinho, e botas cinza, caminhou para a parte externa da caverna, sendo seguida por Paul. – Depois nos livramos dela. Por enquanto, precisamos matar aquela bruxinha! O mestre não está forte o suficiente para possuí-la com vida... -Mary... Acho que ainda não entendeu. Enquanto Celly existir, não conseguiremos fazer nada com aqueles infelizes! Ela os protege como uma mãe protege os filhos. - Temos que esquecer Celly por um tempo, Paul! A lua minguante está chegando, nosso maior problema agora são as almas-penadas... Agora que descobriram o parentesco de May, cairão como uma onda de gafanhotos em cima dela e daqueles intrometidos. E aí, Adeus liberdade e olá inferno para nós dois! - Três... – Corrigiu Paul. – Mesmo tendo mudado de lado, Paula continua sendo uma encarnada, e com a mesma missão! De qualquer forma, Celly também terá mais facilidade em entrar neste mundo durante a estadia da lua. Ou seja, não podemos esquecê-la por completo... -Acredite Paul, Celly ocupará mais tempo em sua inexplicável busca por Cloe do que com qualquer outra coisa! -Cloe? Cloe morreu na guerra do eclipse! -Talvez, Paul... – A mulher mantinha um olhar fixo para o nada, com a mão esquerda na cintura. – Talvez... * * * “Página 17: As coisas não estão fáceis, querido amigo. Quanto mais eu percebo o potencial que tenho, mais atenção eu chamo! Hoje algo fascinante me aconteceu: Fui encurralada, pelos encarnados e pela igreja. Pensei que morreria... Que seria queimada viva após ser nocauteada. Mas aí aconteceu... Uma forte luz amarelada preencheu toda a rua, e a escuridão noturna foi substituída por algo divino. Desbloquearam minha aura! Uma fascinante coruja... Você nem imagina a minha felicidade quando percebi que não carregava uma sombra. Enfim, me sinto mais segura... Mesmo que agora o meu rosto esteja estampado em, pelo menos, metade das igrejas da cidade. Pelo menos, agora, tenho uma companheira em quem sei que posso confiar! A parte ruim do dia de hoje? Bem, O eclipse está chegando, e com ele vem toda a guerra. Por sorte conseguimos esconder o nascimento de minha neta, porém, os encarnados continuam perseguindo minha filha... Querem sacrificá-la... -Eu não posso deixar que isso aconteça!- Vou fazer de tudo para impedi-los! De tudo... Bom, amigo íntimo, sabe como odeio despedidas, não sabe? Então eu vou dormir dizendo-lhe apenas um... Até logo... Então... Até logo!”. May, deitada em sua cama, fechou o pequeno livro preto e o encarou. Algo tocou sua mente: A lua crescente desenhada no canto da capa de couro. O que aquilo queria dizer? Ora, se a lua minguante significava a divisão dos mundos, onde o universo espiritual tinha vantagem ao dos humanos... Poderia a crescente, expressar o contrário? Seria possível que aquela lua estampada no diário significasse paz e segurança por alguns dias? Uma onda de desejo e ansiedade lhe possuiu por um instante. Afinal, já se passara das seis da tarde. Em poucas horas, uma maratona de sete dias incensáveis de puro medo começaria. Ao se lembrar de que seu pai ficaria fora por alguns dias, May preparou sua gigante mala de viagem com quase todas as suas roupas, e uma pequena mochila com o seu material escolar. Logo depois, enfiou seu poodle em sua casinha de viagens, e se mandou para a casa de Mickaella. Ao sair, trancando a porta da frente e guardando a chave em algum bolso de sua mochila, A jovem bruxa pegou seu celular, e começou a digitar: “Estou indo para a casa de Micka. Espero-te lá! Beijos, Cromwell...”. Enviar – Inna May deu um forte suspiro, e uma lágrima correu por parte de seu rosto, antes de se soltar. A partir de agora, separação era extremamente proibido! – O jogo começou! * * *

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