Episódio 5

7 Horas Depois

Paula estava de pé, entre Heath e Paul, no fundo da caverna. Uma mulher, alta e magra, se aproximava lentamente deles. Paula mais uma vez observou a figura a sua frente: Cabelos ruivos e ondulados, olhos negros misteriosos, e lábios inchados de um tom rosa claro.
A dama usava um vestido de pano desconhecido vermelho, que parecia estar colado em seu corpo, e um salto alto preto que, segundo a mente de Paula, era horrível. Paul não escondia nem um pouco seu interesse nesta mulher.
A luz do sol havia abandonado a entrada da caverna, e apenas algumas velas brancas iluminavam o local.
-Você... – Disse a desconhecida, com uma das mãos na cintura. – Será útil para mim... Eles confiam em você, será perfeito! Nunca pensarão que...
-Eles? – Paula perguntou.
-Micka... May... Riley... – Sussurrou Heath, em seu ouvido.
-O que? – Ela voltou a questionar.
-Paul já deve ter dado as instruções... – A mulher (ainda desconhecida para Paula) continuou a falar. – Mas pode enrolar o quanto quiser, quero que eles sintam muita dor antes de morrer...
-O QUE? – Ela repetiu. – Quer que eu os mate? Pode esquecer! São MEUS amigos!
A mulher estendeu as mãos na direção de Paula, fazendo com que uma forte dor nascesse no meio do coração da jovem, fazendo-a cair e se contorcer no chão.
-Você faz o que EU mando! – Ela fechou os punhos, e cruzou os braços. Cessando a desconfortável dor do peito de Paula, que tentava se levantar com a ajuda de Heath. – A propósito... Meu nome é Marianne! – Ela andou em direção á saída, e perdeu-se noite afora.
* * *
O fato de mais alguém estar indo morar com Mickaella parecia ter se desfeito completamente para os três jovens. Afinal, este não era seu maior problema: Era sábado à noite, e na segunda-feira a Lua-minguante chegaria, o que significava que deveriam achar rápido uma resposta. E tudo que tinham até agora era um diário de couro antigo, e uma bruxa inexperiente e desacordada.
Tie havia ido embora assim que Riley começou a mostrar indícios de um possível despertar, (O que não aconteceu! O jovem continuava desmaiado ao lado de May) Provocando que Inna o seguisse para ter certeza que, desta vez, ele não seria o possuído.
No geral a noite estava agradável. Os pássaros haviam se calado, e leves correntes de ar frias passavam pelo local. Alguns baixos uivos e o canto de uma cigarra eram as únicas coisas que se podia ouvir naquele lugar.
-Tie... – Ela gritava, correndo, até alcançar o amigo. – Poderia esperar um pouco...
-Desculpe... Queria fugir um pouco de tudo...
-Eu sei... Acha que eu não sinto o mesmo?
-Não sei... – Tie a olhou caminhar por um instante. – É que às vezes eu acho que os outros sempre se adaptam a situação mais rápido do que eu.
-Não pense isso, Tie... – Inna cruzara os braços. – Todos estão muito assustados com tudo o que está acontecendo... Principalmente eu!
-Você? – Tie deixa uma pequena gargalhada escapar. – Mas você é sempre tão... Madura...
-Medo não é imaturidade, Tie! – Ela riu. –É um sentimento, daqueles que passamos a vida tentando despistar, mas não conseguimos...
-Pra você parece tão fácil...
-E é! – Inna deu um leve soco no ombro de Tie. – Mas...É porque eu tenho vocês sempre comigo... Quero dizer, você já pensou se eu estivesse passando por isso tudo sozinha? Eu enlouqueceria!
-Eu sei, mas é que...
Tie foi interrompido quando um enorme corvo surgiu entre os dois e arrastou com força suas garras no braço direito do jovem, provocando arranhões vermelho-sangue.
O corvo voou para alguns metros de distância dos dois, antes de dar meia volta e se aproximar rapidamente de Inna, com suas garras pingando um pouco de sangue.
-Tie! – Inna gritou, agachando e o puxando para baixo.
O animal passou direto por eles, pousando em cima de uma caixa de correios enferrujada.
-Vamos embora! – Tie sussurrou, e os dois começaram a correr em direção oposta.
Os dois cruzaram a esquina. A casa de Micka ficara para trás, e ainda faltavam algumas para chegar a de Tie. A casa de Paula era a mais próxima agora, os dois correram em direção a ela.
Os jovens quase chegavam ao fim da quadra atual, quando foram interrompidos por uma dama de cabelos ruivos e um pequeno e peludo gato preto os impediu.
-Não nos conhecemos formalmente... – A dama cruzou os braços, e seu gato saltou de seu ombro e parou bem na sua frente. – Marianne, jovens.Jovens... Sombra!
O gato flutuou alguns centímetros, e sua forma felina começou a se desfazer. Em alguns instantes uma sombra, com um negro tão escuro e frio quanto o do corvo, havia tomado o lugar do gato preto.
-Corre! – Inna sussurrou.
Tie a seguiu, dando meia volta e correndo na direção oposta a da mulher. Até serem impedidos por uma outra pessoa. Um rapaz loiro de cabelos cacheados e um corvo, o mesmo corvo que atacara os dois jovens há alguns instantes atrás.
O corvo imitava a situação do gato: Seu corpo estava se desfazendo! Algumas penas pretas flutuavam e rodopiavam ao seu redor, algumas simplesmente desapareceram. E, mais uma vez, o animal havia dado lugar a uma assustadora sombra.
-Inna... – Tie sussurrou em seu ouvido. – Não importa o que aconteça, corra! Corra como nunca correu em toda a sua vida! Enquanto fazem ‘eu sei lá o quê’ comigo você pode escapar.
-Qual é? – Inna riu mesmo nervosa. – Vai dar uma de corajoso bem agora?
-Calem-se! – Ordenou o rapaz loiro. – Uma dica: Se resistirem vai doer mais... Então resistam!
-O que está esperando Burnstein? – A mulher disse. – Ande logo com isso! Quer ficar sem ração?
Sem ração? Então Burnstein era o nome do gato?
A sombra da dama avançou rapidamente, deixando apenas alguns mínimos restos de fumaça negra por onde passava. Em uma fração de milésimos Inna já havia sido atingida na cabeça, e se encontrava no chão, desacordada. Tie poderia pensar em pega-la, se também não tivesse sido atingido.
Os dois jovens haviam desmaiado.
-Leve-os, Paul... Tenho outra coisa que preciso resolver... – A mulher se virou. – Vamos, Burnstein!
O gato voltou a sua forma animal, e acompanhou a moça até desaparecer na escuridão da noite.
Paul jamais havia percebido o quão sensual é o andar da mulher sob a luz do luar. Estaria ele, apaixonado?
-Vamos ao trabalho... – O rapaz retirou os dois nocauteados do chão, apoiando-os um em cada ombro. – O que eu não faço por poder?
* * *
-INVASÃO!
May despertou de maneira tão involuntária e instantânea que até Mickaella foi obrigada a segurar seu coração.
-Acalme-se, May... – Micka lhe deu um abraço que logo se desfez. – O que houve? Que invasão é essa?
-Aqui Micka... – A jovem era portadora de uma forte tremedeira. Suas mãos estavam completamente geladas. – Tem alguém aqui dentro!
-O que? Do que está falando? Como pode saber disso se estava desacordada?
- Eu simplesmente sei... Não me pergunte como porque não tenho essa resposta, mas eu sinto que tem mais alguém aqui dentro! Alguém frio... Manipulador... Eu não sei...
-Do que você...
A frase é imediatamente interrompida por um fino grito ensurdecedor, vindo diretamente do quarto do outro lado do corredor.
-MÃE! – Micka mal termina de pronunciar a palavra e já se encontra na porta ao fim do esticado corredor, segurando e girando a maçaneta prateada, com uma May completamente carente e assustada bem atrás dela.
As duas entram no cômodo, percebendo alguém que, até então, estava desaparecido para as duas garotas. Jennifer estava desacordada, e Heath a carregava no colo.
-Solte-a Heath... – Micka havia pegado um velho castiçal de dois lugares de cima do pequeno criado-mudo de sua mãe. – Eu vou chamar a polícia!
-Tente... – Heath deixa um sorriso malicioso escapar. – Mas, devo avisar que, eles acham que eu estou morto...
-SOLTE MINHA MÃE! – Mickaella berrava agora. Ela havia lançado o castiçal em direção á cabeça de Heath.
Errou!
Na verdade, Heath não estava mais ali. Ele não só havia conseguido fugir (E Micka ainda não sabia por onde ele havia saído, já que ela e May estavam bloqueando a porta), como também havia levado Jennifer.
Micka havia fracassado... Pior, Micka havia com sua própria mãe! E agora? O que Heath faria com ela? Aliás, por onde andou Heath no tempo em que a polícia o procurava? E porque as autoridades achavam que ele havia morrido?
-Micka...
-Eu preciso fazer alguma coisa... Ele levou minha mãe! Precisa me ajudar!
-Acalme-se, Vamos arrumar um jeito! Precisa manter a calma...
-CALMA? QUER QUE EU TENHA CALMA? MINHA MÃE ACABOU DE SER SEQUESTRADA NA MINHA FRENTE, E VOCÊ QUER QUE EU TENHA CALMA?
-CALE-SE, TEM MAIS ALGUEM AQUI! – May fechou os olhos.
Algo explodiu acima de suas cabeças. Pequenos pedaços pontiagudos de vidro voaram por todo o quarto.
* * *
Inna despertou aos poucos, percebendo que grossas e enferrujadas correntes de ferro prendiam suas pernas e braços na parede.
Ela olhou o ambiente a sua volta. Ela estava em uma espécie de quarto, cuja construção lhe lembrava muito um castelo. As paredes eram feitas de fortes e antigas rochas medievais, e o chão se resumia as sujas tábuas de madeira encaixadas umas as outras.
Mas... Espere... Havia mais alguém no quarto. Tie? Sim, era tie, e estava com as mãos acorrentadas. Aparentemente desacordado. Sendo carregado pelos braços por dois homens altos e fortes, vestidos com uma capa azul-escura com seu capuz levantado. Era impossível conseguir ver seus rostos.
-Tie! – Ela gritou. Mesmo com medo e indefesa, Inna nunca deixaria que machucassem seu amigo.
Os homens o largaram, fazendo com que um estalo surgisse das tábuas, e se viraram para ela. O que era aquilo na mão deles? Uma... Essa não... Era um facão!
Eles começaram a se dirigir em direção a ela. Inna estava apavorada e, agora, não era capaz nem de mexer seus dedos! Estava completamente indefesa...

Capitulo 4 (Parte 2)

-Está me dizendo que eu estou morta? – Paula sentia algo a corroendo por dentro. Mas, segundo Paul, isso era apenas mais uma reação provocada pela transformação.
-Não, apenas não faz mas parte desse mundo... – Heath piscou um dos olhos, sorrindo.
Como se Paula estivesse em condições de sorrir agora.
-Hein? – A jovem ficava cada vez mais confusa. – Eu não morri? Então por que não posso voltar para casa? Você disse que eu tinha morrido!
-Você não faz mas parte deste mundo, por que deveria estar morta... – Heath parecia estar perdendo a paciência. – Mas, o seu espírito continua vivo neste corpo. Só que, agora, você pode fazer certas coisas que um humano normal não pode.
-Ela sempre foi assim...Tão patética? – Paul agora se encontrava sentado na mesma pedra-cama onde Paula estava há alguns minutos atrás.
-Cale-se! – Paula lançou um olhar de incêndio para o garoto, obtendo um sorriso como resposta.
-Tem que descansar agora...- Heath não dava um conselho, dava uma ordem. – Mais tarde ela vem te conhecer...
-Ela? Quem é ela?
-Vai saber quando acordar...
Paula olha de relance para Paul, que se levantava da pedra e se movia rapidamente até a parte externa da caverna. Uma agulha de ansiedade espetou a moça, ao ver algumas flechas de luz solar entrarem até certo ponto da desconfortável moradia.
A jovem se deitou, sentindo uma forte dor nas costas que subia até a sua nuca.
* * *
Algo se solta da garganta de Riley e sai pela sua boca afora.
Era uma sombra. Uma nuvem negra e concentrada que deixava bem claro ter vontade própria. A sombra fez um movimento circular em torno de Riley, que continuava congelado.
As cores que May liberava de seu corpo continuavam fortes e brilhantes.
-Inna... – Disse a jovem bruxa. – É bom te ver de novo! Por que não aparece no templo um dia desses?
No templo? Do que May estaria falando? O único templo em que estivera nos últimos dias, e ela nem tinha certeza do que era aquele lugar até agora, era a casa de...
-Celly? – Soltou Inna, levando um susto ao perceber sair um “sim” da boca da amiga.
-Celly? – Repetiu Micka. – Do seu sonho?
Inna fez que sim com a cabeça.
-Vá embora, Sombra... – Disse Celly, ainda em posse sobre o corpo de May. – E avise para seu mestre para não se aproximar dos meus protegidos novamente!
-Meus protegidos? – Tie se virou para Celly, com uma expressão de dúvida no rosto.
-Depois explico melhor!
A sombra parou no ar. Algo dentro dela começou a se modificar. E, em alguns instantes, um corvo de um negro realmente intenso tomou o lugar da figura, e voou para fora da janela em uma velocidade surpreendente.
-O quê... – Micka, mais uma vez, se sentia completamente fria. – O que foi isso?
-Tenho que começar do início... – Celly fez um movimento com uma das mãos, fazendo as cores que lhe saiam do corpo desaparecerem. Isso também provocou que Riley desmaiasse e caísse no chão. Ninguém pareceu perceber então ela continuou. – Todos nós temos uma aura, é invisível para a maioria dos mortais, e sua cor muda à medida que nós mudamos. Por exemplo, uma pessoa má, egoísta, ou que tenha sede de morte, terá uma aura negra. As auras negras são chamadas de Sombras.
-Mas... Porque aquela aura... Sombra... Ou sei lá o que, conseguiu se transformar naquele animal? – Tie ainda parecia um pouco traumatizado. Jamais esperaria ser atacado por Riley (que continuava caído e desmaiado)
-Magia negra... – Celly balançou a cabeça, em negativa, olhando para baixo. – A atraente e traidora Magia negra...
-Magia... –Inna repetiu. – Mas... Como podemos ver aquela aura, e não conseguimos ver a nossa?
-Ótima pergunta! – Celly parecia realmente surpreendida. – Bem, a nossa aura tem o dever de nos proteger a qualquer custo. Se usar uma quantidade exageradamente grande de seu poder, um esforço muito grande será feito. E isso fará com que ela se una cada vez mais com seu espírito... Tornando-se parte deste mundo. Bom, pelo menos até a sua morte... – Ela ri de leve. – Mas, sabe, isso é bom! Auras também têm sentimentos, o que significa proteção o tempo inteiro, e uma nova amizade.
-Que legal... – Micka ficou realmente animada. – Eu quero minha Aura!
-A menos que precise de muita ajuda... Ou que tenha uma amiga bruxa com um diário cheio de feitiços que a Celly materializou e deixou em cima da cama de Mickaella... – Celly piscou um dos olhos, sorrindo. – Pode esquecer!
Todos sorriram por um momento.
-Bem... Agora eu tenho que ir!
-Espere... – Tie levantou a voz. – Quando você disse “meus protegidos”, o que estava querendo dizer?
Era tarde demais. Celly já havia ido, e o corpo de May estava no chão, estirado. Tie entendeu que esta pergunta nunca lhe seria respondida. Pelo menos, não por Celly.
-Vamos levá-los para o quarto! – Inna sugeriu.
- Eu levo May... – Tie se virou, erguendo a moça; - Se virem com ele.
-Tie... –Micka soltou. – Não fique com raiva dele... Ele estava possuído...
-Ele não estava, Micka... – Tie não expressava felicidade nenhuma em sua voz. – Aquela sombra não teve nada a ver com isso...
-Isso não é verdade, Tie...
-Também acho que a sombra não teve culpa... – Inna olhava friamente para o garoto no chão.
-Inna... – Mickaella disse, realmente surpresa. – Qual é? Vocês viram a sombra! Ouviram muito bem as palavras de Celly...
-Celly não veio pela atitude de Riley, Amiga... – Inna, como sempre, estava sendo verdadeiramente realista. – Veio pela possessão!
Alguém bate a porta.
-Eu atendo... – Inna soltou com força o braço que segurava de Riley, e caminhou em direção à entrada.
Micka revirou os olhos.
Inna se aproximou, e então girou a maçaneta, abrindo a porta.
O carteiro. Uma carta rosa, completamente lotada de coraçõezinhos vermelhos de papel camurça colado por cima do envelope, e com um gostoso cheirinho de Hortelã chegou às mãos de Inna.
A jovem fechou a porta, e a entregou para Micka, que já havia levado Riley para o quarto. E lá ela se encontrava, ao lado de um Tie acordado e revoltado, e uma May inocente e desmaiada.
A moça abre a carta, e tira de lá um pedaço quadrado de papel verde,com letras se sobressaltando na cor azul marinho.

“Mickaella Diaz...
O que pensa que está fazendo perdendo contato comigo? Poxa, eu passei o verão inteiro na sua casa, poderia pelo menos me ligar às vezes? Estou ansiosa aqui... Roendo os últimos restos de unhas que me restam...
Não se assuste, mas eu passarei mais um tempo em sua casa. Meus pais terão que passar uma temporada no Brasil. (E eu não sei NADA de português!)
Vou estudar em sua escola também *--*... Vamos passar bastante tempo juntas.
Sua mãe já sabe de tudo. Beijos, nos vemos em breve!!!
Isabella Parker... Mas você já sabe disso!”
-Mas que droga, Isa! – Exclamou Micka, batendo o pé. – Você não poderia ter escolhido hora pior para se mudar!
-Ela vai acabar descobrindo se ficar aqui... – Inna cruzara os braços. – E agora, o que faremos?
Os três se olham, completamente desesperados...
* * *

O quarto de Tie

Tie obedeceu as ordens do bilhete.
Ligou seu notebook,o conectou e digitou:
http://www.hayleyfiregirl.blogspot.com/ .
Mas algo lhe atingiu em cheio... Naquela noite, onde o jogo aconteceu e a vela de May se partiu.
Ele queria, naquele dia entrar em http://www.arizonasthings.blogspot.com/ ...
Que fácil... porque não entrar no dois? ,Pensou.
Claro que Hayley precisava de ajuda, mas isso não era problema!
a técnologia faz tudo! ;D

Episódio 4 (parte 1)

Preciso despertar... Quero despertar...
Heath... Onde está você? Preciso te encontrar...
Paula abre lentamente seus olhos negros, e tenta se sentar sobre a desconfortável rocha onde estivera deitada durante horas, sem saber.
-Se sentindo melhor? – Heath a entrega um pequeno copo de madeira com um líquido transparente dentro, antes mesmo de ela encostar os pés no chão. Água, presumiu ela. – Precisa se recuperar...
Paula nada respondeu. Apenas rodou seu olhar pelo local em que se encontrava. Era um tipo de gruta...Não, uma caverna...
Havia mais alguém ali, um rapaz. Um rapaz loiro, de cabelos cacheados, seus olhos continham um azul tão intenso que faziam Paula quase se arrepender de ter conhecido Heath antes dele... QUASE.
- O nome dele é Paul... – Heath afirmou, percebendo o breve interesse de Paula. – Foi ele quem me mandou...te buscar...
-É isso...- Paula toca na parte de trás de sua cabeça, a parte que mais sofrera com o ataque. – Você tentou me matar! Seu assas...
- Tecnicamente, gata... – Paul deixou um sorriso escapar. – Ele conseguiu te matar!
-Hei... Do quê... – A fala do rapaz deixou Paula tão assustada que ela nem percebeu seu lindo sorriso de dentes brancos e brilhantes. – Do que ele está falando?
-Ingênua... – Paul se virou novamente para a pilha de papéis em que se concentrava antes de intervir na conversa.
-Paula... – Heath segurou os ombros da jovem. – Você não é mais uma humana... Agora você é uma de nós...
-Uma...de nós?
-Linda, você agora é uma Encarnada... Uma... Alma... Presa neste mundo até concluir sua missão!
Paula fecha um dos punhos e acerta em cheio o nariz de Heath, que recua dois passos, e olhou de relance para Paul, que soltava breves risadas sarcásticas, provavelmente gostando da falta de informações da jovem.
-Me deixem em paz! Você tentou me matar... Como pode agir tão normalmente?
Heath pega um pequeno pedaço de pano sujo em cima de uma pequena mesinha de centro de madeira, e livra o ponto atingido dá única gota rala de sangue que escorria.
-Paulinha... Deixe-me ao menos explicar... Por favor...
-Heath, eu quero ir embora! –Paula sentia algo crescer dentro dela. Um tipo de fogo que só ela sentia. – Não entende? Eu te odeio! Nunca vou te perdoar... Eu poderia estar morta neste instante! Deixe-me ir!
-Não pode voltar, Sua tonta... – Paul soltou todos os papéis no chão, em desordem. E mais uma vez soltou um sorriso de deboche para a jovem. – Iriam perceber, você acabaria matando seus próprios familiares... Nos próximos dias você não poderá ver ninguém... Pelo menos até que a transformação se conclua e seus sentimentos sejam novamente controláveis...
-Transformação? – O fogo de Paula se apaga, e no seu lugar nasce uma pontiaguda pedra de gelo.
* * *
-São exatamente cinco e meia da tarde! – Micka tira os olhos de seu relógio banhado a ouro. – E aí, alguém já tem algum plano?
A essa altura, Mickaella já havia voltado a sua casa, junto a Tie. Teria, sim, contado os últimos acontecimentos para seus amigos. Mas, a julgar pela situação, as prioridades eram outras.
-Micka... May teve um sonho... – Inna soltou um suspiro. – Ela aprendeu um feitiço que pode nos ajudar...
-É sério, May? – Micka neste instante sentiu algo que pensou ter deixado de existir. Animo! – Isso é incrível! Isto é... Espere... – Micka fechou a cara. – Você contou a eles?
-Não a culpe, eu precisava saber! – May enxugava o que sobrara de suas lágrimas em uma pequena toalha de rosto rosa-choque.
-Enfim... – Tie parecia bastante impaciente.
-Bem, eu não sei galera... Pode ter sido apenas um sonho...
-May, “apenas um sonho” não existe mais em nosso vocabulário. – Riley segurava um de seus ombros, como se fosse um consolo.
-Tudo bem! – Ela assentiu. – A duração é desconhecida, e não funciona com uns tais de “Encarnados” – May materializou as aspas com as mãos. - Não sei quem são, mas pelo visto vamos ter futuros problemas com eles. Bem, Na verdade, é um ritual bem simples... Embora eu ainda esteja com medo de velas...
-Encarnados? – Micka curvara as sobrancelhas. – O que são Encarnados?
- Como eu disse, não sei. Mas, segundo a breve descrição de Madelynne, são seres com aura fria.
-Madelynne? – Tie enfatizou, era mesmo para ser uma pergunta.
-Alguma ancestral minha... Ela se chamava de “a bruxa das flores”, e era perseguida pela igreja, pelos Encarnados, e pelas sombras.
-As mesmas sombras que... – Inna foi interrompida.
-As mesmas sombras que me atacaram ao final do sonho...
Mas May sabia que aquilo não era para ser o fim do sonho, seria apenas o começo! As sombras planejavam tortura-la muito más, até que ela cometesse suicídio ou algo do gênero (mesmo que não fosse um suicídio real). Mas algo interrompeu o sonho... Algo a salvou... E ela sabia que seria eternamente grata a este “algo”.
-Bem, preciso que anote este feitiço, May. – Ordenou Micka. – Não pode correr o risco de esquecê-lo!
-Pode deixar! – May dava meia volta e seguia em direção ao quarto de Mickaella.
-Estamos fritos! – Riley se jogou no imenso sofá da sala, e se espreguiçou.
-Uau... Como você está preocupado... – Provocou Tie, revirando os olhos.
-Não tente me irritar... Ou eu...
-Parem! – Micka disse, quase que rosnando.
-Escutem, e se eu conseguir outro contato com Celly? – Inna parecia realmente contente com isso.
-Seria bom... – Micka quase acreditou que isto seria possível. – Se ao menos tivéssemos uma pequena idéia de como o fazer!
-Eh...tem razão... – Inna voltou seu olhar para o chão, perdendo as esperanças.
-Não pode ser tão difícil... – Todos voltaram a olhar Tie, que lhes passava um pouco de ansiedade. – Da última vez, ela só teve que dormir, Funcionou perfeitamente!
-Eu não quero dormir! – respondeu Inna, parecendo estar ofendida. – Acha que, se eu não tivesse uma solução, já não teria desfrutado dela?
-Só achei que poderia tentar... Me desculpe!
-Você acha que sabe tudo não é, Tie? – Riley havia se levantado do sofá. Atraindo, agora, a atenção dos três jovens na sua frente. – Mas a verdade é que não faz nada para ajudar!
-E o que VOCÊ tem feito? – Tie sentia a misteriosa e repentina ira de Riley, e ele também se via roubando parte dela. – O que está havendo? Éramos amigos a menos de um minuto!
-Não! – Ele gritou, com uma voz séria e bizarra. – Eu era seu amigo, Tie. Mas a verdade é que você apenas me usou! Me usou para se aproximar de Mickaella!
-O que? – Tie não era o único que parecia confuso ali, mas apenas ele expressava. – Ficou louco? Eu e Micka nos conhecemos desde os seis anos de idade. É minha melhor amiga... Não preciso de ninguém para me aproximar dela, e eu não quero! Já somos próximos o suficiente!
-Não vou deixar que a roube de mim! – Riley bufava, seus olhos eram inexpressivos, e algumas veias eram visíveis em seus braços.
Ele realmente estava com raiva... Mas por quê? Transtorno bipolar?
Riley fechara o punho, e o avançava rapidamente em direção a Tie, mirando em seu rosto.
Tie se preparara para esquivar, mas, de uma hora para outra, Riley parou.
Suas veias bombeando o sangue ainda visíveis, seus olhos lançando diretamente ira a Tie, e seu punho forçado, ainda fechado, parado no meio do ar, preso ao seu corpo.
Era como se alguém que os assistia tivesse apertado o botão do “pause” de um dvd.
Era como se ele tivesse congelado.
Inna e Micka voltam seu olhar à porta que resultava no corredor. E lá estava ela, May Crommwell, Com a mão estendida em direção á estranha briga.
Uma luz rosada, que liberava algumas faíscas roxas, eram liberadas de todo o seu corpo.
Ela estava em um tipo de transe...
Inna pulou de susto, ao perceber!
Riley... Ela parou riley...
-Desista sombra! – May estava estranhamente assustadora. – Este não é dos seus!
A luz que dela saia ficava cada vez mais clara, e o ambiente ao redor se tornava sempre mais frio.
Riley gritou.
***

O quarto de Tie:

Tie entra no quarto, e percebe algo em cima de sua cama... um bilhete...

" Tie, eu preciso de ajuda!
Nossa amiga, Hayley, precisa que todos leiam sua história!
Sua VIDA depende disso...
por favor entre: http://www.hayleyfiregirl.blogspot.com/
Agradecemos!
Obs: A polícia já encontrou Heath?

Ass: Mickaella Diaz"

Capítulo 3

Os dois amigos corriam contra o tempo! Não faziam a mínima idéia de onde encontrar alguma ajuda...Pior, não tinham a mínima idéia de como explicar a alguém tudo o que havia acontecido na noite anterior.
As ruas de Boston estavam completamente vazias, a não ser por alguns pássaros pequenos que voavam por ali. Micka soltara o cabelo agora, suas pontas se ondularam novamente, deixando mais fácil à percepção do verde.
A dupla correu por duas quadras, com o desespero estampado em seus rostos. A praia também se encontrava abandonada. Não havia ninguém... Absolutamente ninguém.
-Não é possível... – o vento roçava contra os dois rostos jovens, Micka olhava várias vezes ao seu redor.
-Olhe! – Tie apontava para uma das casas praianas do local – Tem alguém ali...
Tie tinha razão. O movimento ali presente não parecia normal, havia um automóvel em frente à casa, estava desligado, e o portão da casa encontrava-se totalmente aberto. Havia um casal ali, e um policial. A mulher aparentava chorar, e o homem ao seu lado, a abraçava intensamente.
-É a casa de Heath! – Micka começou a correr, em direção à moradia, seguida por Tie, que vinha logo atrás.
O policial tentou afastá-los do local, mas a mulher que chorava, Mãe de Heath (agora estavam perto o suficiente para reconhecê-la), permitiu que chegassem perto.
-Sra. Monique...o que houve? Está tudo bem? – Micka não gostava nem um pouco de Heath, por ter afastado sua amiga de todos que gostavam dela de verdade, mas também não queria que algo de ruim acontecesse a ele.
-Meu filho...- A mulher engasgou com seu próprio choro, sua voz falhou. – Heath...
-Acalme-se...- Micka colocava uma de suas mãos em seu ombro direito – Heath está bem? Onde ele está? Podemos vê-lo?
-Heath está desaparecido-Anunciou o Homem, após secar suas lágrimas e voltar a abraçar a mulher. Enquanto falavam, outros dois carros policiais dobravam a esquina e paravam, em fileira, atrás do automóvel ali já presente.
- Desaparecido? – Tie e Micka se entreolham por um segundo.
-Ele disse... – Monique volta a chorar – estar indo para algum lugar junto a Paula...
-ELE O QUE? – Micka olha o policial retirar alguns cartões de “Desaparecido” do carro. – Eu...eu... sinto muito...temos que ir... – Ela recua dois passos e corre para o outro lado da praia.
-Paula apareceu em sua casa nessa madrugada , Micka, lembra-se? – Tie pergunta , enquanto corre ao lado de Mickaella.
-Se alguma coisa aconteceu com ela... é nossa a culpa, apenas nossa!
-Não fizemos nada ,Micka...
-Exatamente! Não deixamos ela entrar em casa... Estava tarde, deveríamos ter deixado!
Mesmo não sendo a amiga que qualquer um tenha pedido a Deus, Paula continuava sendo companheira deles. Jamais os deixaria na mão em momento algum, não importa o que tivesse de perder com isso.
Um terremoto de remorso atingiu o coração de Micka...
Não consegue acreditar que, durante todos esses anos, tem sido tão dura com a menina. Se ela pudesse voltar no tempo...voltar...Voltar...
Paula jamais tentou reatar com Riley, mesmo o amando...Mesmo sab...
Pare, Micka! Pare de se culpar por tudo! , pensava. Seus problemas não são poucos agora, pense neles...apenas neles...E em Paula...
Era inútil,A parte influente de sua consciência lhe culpava mais a cada segundo.
* * *
Inna fechara as janelas e portas da casa. Acendeu um dos incensos que a mãe de Micka costumava guardar na gaveta de cima do armário da cozinha. Colocou-o perto das escadas. Correu para o quarto, onde estavam Riley e May.
-Me escutem agora! – Inna fecha a porta do cômodo, e se vira em direção à cama, onde os dois se encontravam – Mickaella me pediu para não contar nada, mas também fazem parte disso, acho que merecem saber no que nos envolvemos.
-Do que está falando? – Riley se sente desconfortável, seu estômago começa a apresentar leves dores, por enquanto, suportáveis.
-É sobre o que houve, não é? – O desespero de May começava a retornar, começava a perder o fôlego. – Sobre o sótão? É,não é?
Inna balança a cabeça, em afirmativa.
* * *
Tie e Micka param a corrida, encontravam-se em frente à porta de Paula.
Mickaella bate. Nenhuma resposta. Ela tenta novamente, alguém responde!
A porta se abre lentamente, revelando um jovem corpo vestido com uma camisola roxa e pantufas de coelhinhos rosa.
-Paula! – Micka pula nos braços da amiga, que aceita o abraço.
-Bom dia pra você também... – Os loiros cabelos de Paula estavam completamente bagunçados. Acabara de acordar. - O que houve? Se arrependeu de ter feito me expulsarem de sua casa?
-Não...Perdoe-me,Perdoe-me...por tudo... – Micka não desistia de continuar o abraço – Eu sinto muito! Por Riley, pela escola, por ontem... Tudo!
-Riley? Ok, ok... – Paula desfez a união corporal. – Agora me assustou! Desembucha, vai!
-Tive tanto medo... – Micka abraçou-a novamente – Mas você está bem! Graças a Deus...
-Heath desapareceu... – Disse Tie, enquanto Paula era sufocada emocionalmente por Micka. – Pensamos que poderia ter acontecido algo com você também...
A expressão de Paula muda... Seu sorriso desfez-se, e seus olhos se encheram de água.
-O que? – A jovem desfez o abraço outra vez, olhando fixamente para Tie.
-Pensamos que soubesse... – Micka recua dois passos, para ao lado de seu amigo.
-Não... Não é possível... – Paula não se agüentou , suas lágrimas soltaram-se descontrolavelmente, uma atrás da outra, e sua voz falhou.
-A sra. Monique disse que tinham saído juntos ontem... – Micka e Tie se entreolharam.
-Sim , eu o chamei para sua casa, caso eu fosse... Mas ele disse estar ocupado...pensei que estivesse na lanchonete, trabalhando...
Paula entrou , sem esperar uma resposta, fechou a porta, e se encolheu no sofá, ainda chorando. Isto não pode estar acontecendo, pensou. Ela olha para o telefone, não resiste!
Ela se senta, pega o aparelho sem fio, e disca o número do celular de Heath.
“Este número de telefone não existe, por favor, consulte a lista telefônica e tente novamente...”
-NÃO! – Ela grita, jogando o aparelho contra a parede mais próxima.
***
-Paula! – Micka não se sentia bem. Se antes, que o sentimento de culpa e um forte remorso já haviam tomado a jovem, imagine agora depois de dar uma notícia dessa logo pela manhã.
-Venha... – Tie sugeriu, puxando-a pelo braço e seguindo em direção a rua. – Ela ficará bem, Heath não pode ficar sumido para sempre.
Mickaella assentiu, mesmo sentindo um leve sopro em sua mente dizer “Não acredite tanto nisso!”. Mas, afinal, por onde andava Heath? Será possível que, enquanto a casa da jovem era invadida pelas sombras, esta mesma energia estivesse aprontando algo com o rapaz?
-Percebeu que tudo isto começou no mesmo dia em que aquele estranho chegou à escola? – Perguntou Tie, quebrando totalmente a linha de raciocínio da garota.
Micka curvou as sobrancelhas, não respondendo seu amigo, ela voltou a pensar.
Era verdade! Aquele novato parecia bem interessado em May, que, aliás, parecia nem notar a presença dele no local... Assim como o resto dos estudantes naquele laboratório.
E, afinal, quem começa em uma escola nova na sexta-feira?
-Tie... – Micka chamou, embora parecesse mais com um sussurro, fazendo seu amigo parar e olha-la. – Antes de eu chegar à sala, o professor apresentou o novato para a turma?
Por favor, diga sim!
-Não.
Tudo bem, isto ainda tem uma explicação! Ora, hoje em dia os professores andam tão ocupados e esquecidos, não é?
Mais uma vez, Micka ouve uma voz soprar em seus ouvidos: “Não confie tanto assim nas pessoas...”.
A jovem dá de ombros, e continua sua caminhada.
-Não é estranho? – Pergunta – Já são quase 10 da manhã... E nem sinal de vida alguma aqui...
-Bem, todos devem ter ouvido falar sobre o desaparecimento... Devem estar com medo!
Medo... Estavam com medo, ela estava com medo, e provavelmente Tie partilhava esse sentimento.
Mas e Inna, Riley, e May? Estariam também com tamanho peso no coração? Como eles estariam exatamente agora?
* * *
May finalmente cochilava um pouco, após uma tensa noite cuja sua única preocupação seria dormir e nunca mais acordar. Desta vez era ela quem sonhava com algo... Precisava despertar... O tempo corria depressa no mundo real... Mas ela sentia que deveria ficar, não lutaria para deixar o sonho...

May estava em um antigo Hall, de uma imensa e velha mansão que era cercada por árvores mortas e secas. Olhando por uma das janelas da entrada, percebia-se o quanto dominava a neblina naquele local.
A fumaça branca e sedenta rasgava-se ao passar pelos inúmeros galhos sem vida do local. Era quase impossível se ver algo depois da primeira fileira de árvores.
May voltou seu olhar para a grande e vazia Hall. A sala era cortada por uma larga escada e ferro enferrujado, que resultava em uma abertura propositalmente preparada (deveria haver uma porta ali, há alguns anos atrás).
Prestando um pouco mais de atenção no local, a jovem pôde perceber mais duas aberturas,uma em cada lado da Hall, resultando em cômodos distintos.
May usava um longo e liso vestido de seda vermelho, com mangas que desciam até seus pulsos, e limitava até a ponta de seus pés. Seu liso cabelo negro, agora se encontrava com lindos cachos manualmente terminados.
Algo a fez subir até o segundo andar. A tintura descascada e alguns tijolos expostos do local teriam afastado qualquer um da casa. Mas, pela filosofia de May, era preferível esperar um milagre dentro de uma mansão (mesmo que sentisse que apenas um sopro derrubaria a construção inteira) , a perambular feito um fantasma por uma vegetação morta e solitária.
De qualquer forma, May não sentia tanto medo em estar ali... Isto por que ela já estivera ali! Não se lembrava de quando, nem com quem... Mas tinha quase certeza disto!
Finalmente passando pela abertura na parede, e por um extenso e vazio corredor, May resultou em um pequeno e antigo quarto. Não havia muita coisa nele: Uma cama de solteiro feita com madeira rústica, encostada na parede direita; Uma pequena e quadrada escrivaninha, também de madeira, no outro lado do quarto, e uma janela oval centralizada na parede oposta à porta.
May se aproximou da escrivaninha, com uma crescente e misteriosa atração pelo pequeno livro de couro preto largado no canto da mesa.
O livro era todo negro, a não ser por uma branca lua crescente localizada no canto esquerdo inferior da capa.
May resolveu abri-lo em uma página qualquer.

“Página 85:
Querido e companheiro diário...
Está cada vez mais difícil sobreviver à pressão do dia a dia! Estamos sendo perseguidos cada vez mais... A igreja nos odeia... Querem nos matar.
Se me pegarem,irão me incendiar... Não terão piedade nenhuma comigo! Preciso fugir agora mesmo, preciso me esconder... Já descobriram onde moro...Planejam me atacar,querem tirar o meu sangue...
Por outro lado, os encarnados também me perseguem, não posso deixar que a peguem... Ela serviria como sacrifício... Seria uma oferenda... ELES A QUEREM, e farão de tudo para consegui-la! Não sou forte o suficiente para impedir, preciso de ajuda o mais rápido possível.
Eu sei de um feitiço protetor, mas não sei se é potente o suficiente para durar muito tempo...
Os únicos itens usados na poção são girassóis amarelos e rosas vermelhas, e, é claro, cera derretida. Mas é importante que a cera seja de alguma vela acesa, e que seu fogo não se apague até o fim do ritual.
Precisasse despejar inúmeras pétalas das flores comentadas antes em uma grande bacia ou vaso (de qualquer material,desde que não seja inflável), depois escreva em pedaços de papel os nomes das pessoas que precisam de proteção superior, jogue os nomes junto às pétalas, e derrame um pouco de cera em cada um deles, cuidadosamente para não pingar nas pétalas (PRINCIPALMENTE NAS VERMELHAS) . E, para finalizar, jogue e espalhe fogo por todo o recipiente.
Pronto, o feitiço está pronto e a proteção garantida. Não sei ao certo o quanto dura, mas é bem eficiente.
Lembrar: Não funciona com Encarnados, eles quebram o feitiço.
Bem, mas eu não estou levando fé. Preciso de algo que me ajude a deter os Encarnados e fugir da igreja ao mesmo tempo. Estão se aproximando...E, para piorar, alguém enviou sombras para me pegarem... Estou em uma encruzilhada! CERCADA!
Preciso ir, alguém entrou no terreno...sinto auras frias cercando a mansão... São eles...os Encarnados... Preciso me esconder... Espero um dia poder conversar novamente com você, querido e único amigo... Sinto em dizer...
ADEUS...
Obs.: Quem conseguir ler isto, obviamente é um Crommwell legítimo! Provavelmente este é o fim para mim... Mas você,seja quem for,caro amigo,ainda pode se salvar! Ainda DEVE se salvar... Se esconda, eles te seguirão, e você deve estar preparado (a)! Boa sorte...
Madelynne R. Crommwell – A bruxa das flores.”

May estava paralisada. Quem era essa Madelynne? Bem, pelo que sabia, era sua parente...E bruxa... Mas, de que época? Pela sua escrita, não devia fazer muito tempo desde que escrevera pela última vez naquele diário.
E , aliás, quem eram...ou são... Os ‘Encarnados’? E quem exatamente era essa pessoa que eles não poderiam ter? Essa pessoa que a Cromwell do passado parecia proteger mais do que a própria vida?
Algo roçou as pernas da jovem. Era algo gelado...e parecia não ter forma própria...
May olha rapidamente para seus pés, e um grito rouco se solta de sua garganta. Era um tipo de fumaça, negra, que parecia ter vida própria, contornando as pernas da jovem em espiral, como um pequeno ciclone que estendia de seus pés até sua cintura...
Aquilo pretendia tomá-la... Ia subindo rapidamente pela sua barriga, quase encontrando seu pescoço.
As sombras, algo gritou em seus ouvidos.
May sentia seu vestido sendo corroído aos poucos, era incrível como as sombras destruíam algo tão facilmente.
-Socorro! – Ela gritava, embora soubesse que ninguém a escutaria, por mais que ela berrasse.
Da próxima vez eu saio perambulando feito fantasma, pensou.
Conforme a fumaça negra se espalhava pelo pequeno quarto, May ouvia vozes distintas com mais freqüência. “Socorro...”, “Se afastem de meus filhos...” , “Por favor, parem...” . Isso era angustiante! May quase se esqueceu das sombras por um segundo.
Estas vozes...estas sofridas vozes... Nem dá para imaginar o quanto sofreram antes de morrer. Alguém os torturou demais. Tamanha tortura que não permitiu a esses humildes fazer a travessia. Simplesmente não aceitaram a morte, ficaram presos aqui...
Lágrimas puras e cristalinas escorreram pelo rosto de May.
-Eu não quero mais ouvi-los! – Ela gritou. – Eu não quero sentir mais sua dor! Não quero sentir essa agonia!
Sem perceber, ela era a torturada agora. O quarto a sua frente sumira. Tudo o que podia ver era as sombras a prendendo, como uma lagarta dentro de um casulo.
Gritos.Choro.Gritos. Era tudo o que se ouvia.
-Pare! – Ela se desesperava. – Já chega, eu não quero mais isso! CHEGA!

May se levantara rapidamente da larga cama do cômodo, sentando-se. Ofegante. O suor escorria por todo o seu corpo. Riley e Inna estavam espantados, observando-a chorar silenciosamente.
-Hei... – Sussurrou Inna, sentando-se ao seu lado na cama, e segurando uma de suas mãos em seguida. – Estamos com você nessa... Não se preocupe... Pode nos contar o que viu em seu sonho... Guardar ‘seja lá o quê’ não vai te ajudar em nada...
-Foi horrível! – May soluçava, se encolhendo em um dos confortantes abraços típicos de Inna. – Eu não quero mais fazer parte disso!
Riley e Inna se entreolham, compreensíveis.
* * *
Paula continuava encolhida do enorme sofá branco, observando o que sobrou do telefone que arremessara contra a parede alguns minutos atrás,chorando desesperadamente.
Por um instante, um frio sobrenatural percorre a sala , provocando um forte e demorado arrepio na moça.
A campainha toca.
-Mas que droga! – Paula resmunga, levantando-se e arremessando a fofa almofada em formato de coração na mesma direção do telefone.
Paula cambaleou até a porta. Ao abrir, um grito saltou direto do seu espírito.
-Me perdoe por isso, Paulinha... – Heath segurava com força a gola da camisa da garota. – Estou seguindo ordens!
-Me solte! – Paula ofegava, era a primeira vez que sentia medo em estar perto de seu namorado. – Volte para casa, seus pais estão preocupados!
- Me perdoe...
Heath arremessa a jovem contra o chão, provocando um desmaio e uma pequena rachadura no piso. Uma poça de sangue formou-se logo a seguir.
* * *

Episódio 2

-May! – Grita Inna, ao reconhecer de onde veio o grito.
Algo se arrastava no sótão, em direção as escadas.
-Rápido, Micka, me arranje uma lanterna! – Ordena Riley, em tom alto.
-Estão do lado dos sacos de dormir, mas acho que não conseguirá encontrar... – A voz de Micka ficava cada vez mais rouca, e lágrimas escorriam por seu rosto. – Está muito escuro!
-Tie, está do lado dos sacos, não está?
-Acho...Acho que sim...
-Abaixe-se e veja se consiga pegar uma das lanternas!
-Estou tentando... Espere...
Seja lá o que fosse, aproximava-se cada vez mais das escadarias, Aumentando cada vez mais o pânico de todos.
-May, onde está?- Gritava Inna, esticando os braços para ver se identifica alguém por perto. Ela encontra Micka, e as duas dão as mãos, chorando em silêncio.
-Encontrei uma!- Diz Tie, estendendo a mão na direção em que lembra estar Riley antes das luzes se apagarem.
Riley segura a lanterna e a liga, verifica se todos estão de pé, não encontra May, mas não tem tempo para procurar. Ele dirige a forte luz concentrada em direção as escadas...Não há ninguém.
A eletricidade retorna a casa. Pode se ver tudo novamente, Riley desliga a lanterna e a joga no sofá.
Inna grita. Todos voltam seu olhar para o chão, e lá está May, inconsciente.
Aos poucos, ela abre os olhos, e se levanta, apoiando-se em um dos braços do sofá.
-O que houve? – Ela ameaça cair novamente, mas Riley a segura. - Meu pescoço arde...
Ela passa a ponta dos dedos por todo o ele, e bem no meio, um corte de três centímetros ainda liberava um pouco de sangue pelo canto.
-O que... – Ela engasga, Todos a olham, assustados.
Alguém bate a porta.
-Venha, May, vamos fazer um curativo...- Ela envolve sua amiga com um dos braços - Inna, pode ver quem bate?- As duas caminham até a despensa, Ainda tremulas.
-C...Claro... – Ela responde, sentindo-se fria.
Inna não podia negar: Nem ela, que era fã oficial desses lances paranormais, estava preparada para algo como...Aquilo.
Suas mãos tremiam freneticamente, e curtos gemidos soltavam-se de sua garganta em pequenos intervalos de tempo. Lágrimas escorriam por suas bochechas e soltavam-se de seu rosto.
Seus dedos foram de encontro à maçaneta, mesmo lhe faltando coragem para girá-la. Ela suspira, e então o faz.
-Até que enfim, pensei que nunca fossem abrir! – Um sorriso estampado em um fino e delicado rosto feminino com uns gigantescos óculos de sol encravados na testa fizeram com que Inna levasse um pequeno susto.
-P...Paula?- Inna voltou os olhos para o corredor que dava de encontro à sala, avistou Tie, e então o avisou com um gesto facial. Logo voltou a encarar a menina a sua frente.
-Não vai me convidar para entrar? Soube que estão dando uma festa...
-Sinto muito...Queria poder deixá-la entrar, mas... Tchau! – Inna fecha a porta de entrada, e corre pelo corredor, em direção a sala. – Onde está Riley? – Pergunta, ao encontrar Tie colocando de volta no lugar os objetos derrubados na confusão.
-Na despensa, foi ver se as meninas precisam de ajuda... – Responde, posicionando as lanternas ,uma ao lado da outra, em Cima da estante de livros, aonde poderiam pegá-las se houvesse outra emergência. – O que Paula queria?
-Entrar... – Inna não olha diretamente para Tie... seus olhos vão de encontro às escadas, ela tapa a boca com a mão.
-O que... o que está olhando? – Tie copia a jovem, olhando fixamente para os treze degraus de madeira branca pintada a sua frente.
Suas sobrancelhas se curvam sobre seus olhos, ele volta a se sentir frio.
-O que é aquilo? – Tie seguia Inna, que se aproximava lentamente das escadarias.
A garota avalia a substância, encostando.
-Sal grosso...- Ao se virar para Tie, os Longos e encaracolados cabelos de Inna caem sobre parte de seu rosto, ela os recoloca atrás da orelha. – Espíritos não deveriam temer sal grosso?
-Pode não ser um espírito, Inna...- Tie passa, de leve, seu indicador na mesma substância. – Existem explicações razoáveis para isso...
-Tudo bem... – A jovem cruza os braços – Comece... Diz-me uma!
-Bem, houve um pequeno apagão durante alguns minutos, Micka esqueceu uma das janelas abertas , o que fez algum pequeno animal entrar e subir ao sótão, Ele se assustou com May e então a atacou , ao chegar ao sótão ,acidentalmente, rasgou com suas garras uma daquelas enormes embalagens de sal grosso que a Sra. Diaz guarda no local...
-Muito bem, panaca. O erro dessa história: Quando fui atender Paula na porta, esse sal não estavas aí. Outro erro: Encontramos May desmaiada,não apenas com o corte. Último erro: Um pequeno animal não é capaz de abrir uma janela, interferir em um jogo espiritual e controlar um lápis com a mente... muito menos apagar e quebrar uma vela à distância...
-Tudo bem... foi uma péssima teoria... – Tie observa a substância mais uma vez, até que os outros três jovens retornam a sala.
Micka caminha junto a Riley, que a envolve com um dos braços. Os castanhos cabelos alisados de Micka agora se encontram presos por um pequeno laço verde-musgo, na parte de trás de sua nuca, e suas pontas,pintadas de verde e naturalmente onduladas, já não podem ser tão percebidas. Riley, ao seu lado, tem seus olhos verdes refletidos pela imensa luz produzida pelo enorme lustre de centro de sala colocado pela Sra. Diaz. Seus cabelos curtos e negros, e totalmente lisos, também recebem o brilho artificial do lustre.
-Quem estava na porta? – Micka se aproxima de Inna e Tie, ambos de olhos negros brilhosos, mais uma vez devido à luz, enquanto Riley e May se jogam no grande sofá branco.
-A melhor amiga que você odeia...
-Paula? O que ela estava fazendo aqui uma hora dessas?
-O que ela estava fazendo na rua uma hora dessas? Já se passaram de uma da manha!
-Espere...- Micka se volta para a escada – O que houve aqui?
-Sal grosso... não sabemos como chegou aqui... ele apenas apareceu.
-Tudo bem, eu tenho uma idéia! – Micka sofria uma leve tremedeira corporal. –Peguem tudo e vamos para o meu quarto, trancar a porta e rezar para não acontecer mais nada... – Inna e May se entreolharam, May parecia temer mais alguma coisa. Não era pra menos, ela acabara de ser atacada sei lá pelo que...
Mesmo temendo próximos eventos paranormais, o grupo reuniu tudo que haviam arrumado na grande sala de estar, inclusive o enorme pote contendo diversos biscoitos salgados e doces, e algumas latas de refrigerante diet, e arrumaram tudo outra vez, no cômodo da casa ao qual pertencia a Mickaella.
Micka Trancou a porta, e guardou a chave em seu grande armário verde e branco que ela mesma havia escolhido e comprado. (esta é uma das vantagens de ter uma mãe coruja).
Não demorou muito até todos dormirem, ambos estavam bastante cansados...afinal, este não foi um dia como qualquer outro dia normal.
Riley e Micka dormem abraçados, tranqüilos. Ao seu lado se encontra May, com seu saco de dormir totalmente fechado. Na seqüência, encontra-se Tie, dormindo normalmente com seu saco cobrindo-o até o pescoço. E, por fim, Inna é a única a se mexer de um lado para outro, provocando leves sussurros que aparentam não incomodar ninguém no quarto. Inna treme um pouco, seu corpo esfria. Está sonhando... sonhando com algo lindo, mas que não deveria existir para ela.

A jovem sentia-se leve. Suas roupas pretas e suas pulseiras prateadas e pontiagudas haviam sido substituídas por um largo e solto vestido branco que escorria até seus pés...que, por sinal, estavam descalços.
O chão era macio...aquela linda e fofa grama continha um verde tão vivo que era desconhecido pela própria Inna. O local era lindo e era enorme. Ela não estava mais no quarto de Micka... estava em um jardim ou algo parecido. Estava sol, e várias borboletas de diversas cores tomavam conta do local. O lugar era extenso e lindo, mais uma vez.
Era cercado por vivas fileiras de lindas tulipas amarelas e algumas rosas vermelhas que chamavam a atenção de qualquer um. Por traz das cintilantes e divinas flores coloridas, existia uma outra fileira de árvores grandes e vivas que liberavam um doce cheiro ao qual deixavam Inna feliz por estar ali.
Inna deu dois passos à frente, havia mais alguém ali...uma mulher, de vestido idêntico ao da jovem, de olhos azul celeste, e um lindo cabelo liso e dourado que se estendia até sua cintura.
A moça olhou para Inna, e sorriu. Era fantástico, Inna jamais vira dentes tão brancos e brilhantes como aqueles.
-Venha, Pomba branca... – A mulher dirigia-se a Inna. – Eu não te esperava aqui... você chegou de surpresa...
Inna obedeceu. Aquela linda mulher lhe transmitia confiança... Fazia-lhe querer ter mais amigos...Fazia-lhe querer viver...
As jovens ficaram de mãos dadas por um instante.
-Quem...quem é você?
- Me chamo Celly... Protetora deste lugar...
-Am... e que lugar é este? É lindo... – Inna rodava os olhos pelo local enquanto falava.
-Cada um dá o nome que bem entender... – Celly senta-se na grama viva, e faz um gesto para que Inna faça o mesmo. Ela faz. – Gosto de chamar de casa, de Templo às vezes, Pode chamar de sonho...
-Bem... na verdade, eu queria saber mesmo que lugar é este...
- Aqui é um lugar mágico! Neste lugar, você e seus amigos estão protegidos da sombra...nenhum mal pode afetar vocês aqui...
-Do que...do que está falando?- Inna sabe que estão falando de algo delicado. Diferente do mundo real, a tremedeira não a atinge, e ela se sente quente e confortável em seu interior.
-Sua amiga está em perigo! May precisa de cobertura agora!
-May? – Inna se assusta, mas ainda não se sente fria – Como sabe...
-May é descendente direta de bruxa... Seu sangue é limpo e perfeito para qualquer alma penada...
-Alma penada?
-Espíritos que não aceitam a morte...eles sempre tentam voltar ao seu mundo... existem dois jeitos de fazer isto... Uma delas é provar parte do sangue de uma bruxa direta...e depois ,com o sangue, fica mais fácil de possuí-la!
-Isso...Isso... – Inna não consegue completar a frase.
-Se não conseguir, ainda existe a outra forma...Essa,sim é muito cruel...Fazê-la matar um de seus verdadeiros amigos...e é aí que vocês entram...
-Vocês?
-Ao começarem o jogo de hoje, deixaram seu espírito exposto ao mal... não fecharam o ciclo... apenas jogaram o material no lixo... agora vocês correm tanto perigo quanto May, seu sangue é mais fraco e , portanto, mais fácil...
A mulher olha para o sol.
-Inna, deve ir agora... lembre-se, tome cuidado no período de lua minguante...
-Eu não entendo...
-A lua partida ao meio simboliza a aliança... é quando o mundo espiritual toma controle sobre o mundo real...portanto , você e seus amigos terão que lutar mais do que nunca para não serem possuídos...
-Espere...o que isso quer dizer...quem está atrás de May, Celly, Espere...
Inna tenta gritar, mas sua voz não sai. Uma luz toma completamente o local, e é só isso que o campo de visão da jovem consegue enxergar.
Tudo fica branco, e Inna sente um forte abraço caloroso.
-Boa sorte, Pomba branca...

Na casa de Micka, todos já estavam de pé, já se passara das 8:30. Inna se levanta lentamente, ainda atordoada pelo “sonho” que acabara de ter. Ela dirigiu o olhar para May...parecia ter se recuperado do susto. Ela conversava com Micka e Tie sobre algo engraçado que aconteceu no laboratório de química.
Inna da “bom dia” para os três, e para Riley, assim que volta sei lá da onde e senta-se ao lado de Micka, em sua cama. Os outros dois jovens com qual conversava estavam sentados no chão do quarto.
Micka havia destrancado a porta novamente, e havia aberto a cortina persiana. Fazia sol lá fora, Inna imediatamente se recorda de todos os detalhes do sonho.
Ela avança para a porta, lança um gesto facial para Micka e Tie, e espera que eles a sigam até a cozinha da casa. Eles o fazem, deixando May e Riley para trás.
A cozinha de Micka era simplesmente PERFEITA! Havia uma enorme mesa de vidro no centro, uma geladeira com porta de duas abas, lava-louças elétrico, e um enorme e fenomenal teto de vidro, planejado pela Sra. Diaz para poder ver o Sol e a Lua (Jennyfer sempre fora supersticiosa). Além disso, a bancada da cozinha cobria toda uma parede.
Inna sentou-se em cima da bancada, e observou Tie e Micka puxarem duas das cadeiras almofadadas para perto dela, e se sentarem.
Inna começa a recitar seu sonho,o que provoca leves tremedeiras em seus amigos. Ambos perceberam que estavam recriando muitos dos mais clássicos filmes de terror...o único problema era que, se morressem ali, não teria alguém atrás das câmeras para limparem o Ketchup em suas roupas. Não, aquilo era bem mais complicado...Aquilo era real. Real o suficiente para matá-los. E agora a situação se complicara. “Ao começarem o jogo de hoje, deixaram seu espírito exposto ao mal... não fecharam o ciclo...”
-O Sonho me pareceu bem convincente...ainda mais depois de tudo o que passamos ontem...
-Isso é apavorante...- Micka olha para Tie, e então para Inna;
- Quer dizer que corremos tanto perigo quanto a própria May? Só pode ser brincadeira... – Tie olhava fixamente para Inna.
-Pode crer! –Mickaella se levanta, e cruza os braços – Não faz vinte e quatro horas e eu estava sentada no banco da escola beijando o meu namorado com todo amor do mundo. E agora, estou sendo perseguida por espíritos – Vampiros que querem o sangue da minha melhor amiga...que, só para não ficar por baixo de tudo isso, é uma descendente direta de bruxa e não sabe!
-Gente... – Tie é quem se levanta agora – Pode ser apenas um sonho... pense bem, você estava muito impressionada com tudo isso...todos nós... esse sonho pode não significar nada...
-Aham , Tie, A Celly deve ser uma fada rosa que mora em uma floresta encantada junto com o seu “pequeno animal” com poderes psíquicos , e eles bebem leite de pato alado todos as manhãs!
-HÁHÁ...desculpa, espertalhona!
-Hey, Galera... – Micka estala os dedos , para chamar a atenção dos jovens – Isto é sério! Não percebem pelo que estamos passando? Inna, o seu joguinho nos colocou em meio a uma guerra!
-Ah, então eu sou a culpada agora? – Ela, por fim , é a ultima a se levantar.
-Eu nunca disse isso! Apesar de ser a mais pura verdade... Podemos ser possuídos á qualquer momento...
-Ops...- Inna coça a cabeça por um segundo – Isso me faz lembrar outra coisa...
-O que? – Tie e Micka se entreolham, com medo da resposta. Ambos se sentem frios, e a tremedeira volta a lhes tomar.
-No período de lua minguante... nosso espírito estará mais exposto, pois é quando o mundo dos espíritos invade o nosso...ou algo assim... não lembro direito agora...algo sobre uma aliança... eu não consigo lembrar desta parte do sonho direito...
-Lua minguante... quando é...- Micka retira o enorme calendário com imã da geladeira, e seus pelos se arrepiam de cima a baixo. – A Lua minguante chega em dois dias...
-Dois dias? – Tie se apavora – Como vamos nos preparar em dois dias?
-Não vamos nos preparar, Tie... não temos experiência nenhuma nisso... – A voz de Inna soava impaciente.
-Temos que colar em May na próxima semana... sim, vamos correr riscos, mas este “seja lá quem for” não perderá tempo conosco podendo colocar as mãos nela!
-Também somos alvos, Micka... Se possuírem nosso corpo, podem conseguir tomar controle definitivo dele... estamos perdidos, em outras palavras... – Inna começara a se sentir fria novamente.
-Temos bastante tempo... vamos procurar alguém especializado em espiritismo...Inna, May não pode nem suspeita que está sendo perseguida...quero que destraia ela enquanto procuro alguém com Tie... Quando voltarmos, contamos a Riley... Vamos, Tie.
Os jovens se separam, com o objetivo de amenizar o estrago que está preste a ser causado.

Episódio 1

“Não era diferente de todos os outros dias: 32° lá fora, e eu aqui, presa, sendo obrigada a presenciar mais uma inútil aula de química... Às vezes me pego pensando, tantas pessoas estão, nesse exato momento, com a pessoa que os faz feliz... Eu poderia estar com Heath agora e...”.
Mickaella fecha o pequeno livro azul-marinho e coloca-o sobre a carteira escolar à sua frente. Em seu rosto, percebe-se desgosto.
-Aff, Paula...-Diz - Suas histórias poderiam ficar consideravelmente razoáveis se esse cara não aparecesse nelas...Isso é sério!
-Hey!-Paula recria a expressão tediosa de Micka - Não fale assim do meu namorado!
-Pf...Ainda bem que RILEY me salvou...Imagina se Heath tentasse dar em cima de mim...De novo...
-Não preciso que cite seu mega fracasso amoroso perto de mim!
-Paula... -Mickaella dá um leve riso de deboche - Preste atenção na aula e pare de discutir o que todos já sabem...Enxerga-se, Paula...Eu disse Riley...Ouviu?
-Humpf...Riley...-contraria Paula, em resmungos, enquanto vira-se para o enorme quadro negro - Até parece...Quem precisa de Riley...Otária...
-Paula, cale a boca!-diz Micka, virando os olhos.
-Hum...Estressada... É isso o que acontece quando se namora alguém como...
-PAULA, ME DEIXE EM PAZ! – Grita ela, chamando para si a atenção do professor e de todos os outros na sala de aula.
-Srta. Diaz...-Pronunciou o professor de física da classe - Pegue suas coisas e retire-se nesse instante!
-Espere...-Mickaella olha para Paula, e volta a olhar o professor-Não vai se repetir, eu prometo!
-Retire-se agora, Mickaella, ou voltará para casa com uma suspensão!
A jovem se levanta e, ao abrir a porta, lança um olhar congelante sobre Paula, que deixa escapar uma baixa risada.
-Divirta-se!- provoca.
* * *
Alguns minutos se passaram, e agora Mickaella encontrava-se ao lado de Riley, no refeitório, em meio ao intervalo escolar, queixando-se do acontecido.
-Amor, sabe bem que esse é o jeito de Paula...-Diz Riley - Ela tem sim mania de superioridade, mas fica por aí. Vocês se amam do jeito que são, sabe disso...
-Sim...- Mickaella solta um suspiro-Mas ultimamente ela está insuportável! Vive soltando suas piadas sobre mim...Eu vou enlouquecer!
-Ah, Micka, Deixe-a...Você está comigo agora...Não com ela...- Ele aproxima seu rosto do dela, e então seus lábios se encostam. Mickaella sente um arrepio.
-Ainda bem...-Ela solta um sorriso, que logo se desfaz - Mas é que...Eu não sei... Parece que ela ainda o ama...
-Parece que ela ama...Quem?
* * *
Flashback (Mickaella) – Ginásio escolar, um ano e meio antes:

Micka passava pelo gigantesco portão do ginásio, caminhando pelo estreito caminho de terra manualmente planejado em meio ao imenso jardim da parte traseira da escola, deixando a música e as luzes coloridas para trás. Correntes de ar roçavam contra seu rosto, e pequenas folhas soltavam-se das variadas árvores presentes por toda à parte no jardim. Grandes lampiões indicavam a única iluminação do local.
Mickaella se localizava na metade do caminho que ia a direção á rua, sozinha, até que alguém sai do ginásio, gritando por seu nome, -Paula - e a jovem se vira.
-Micka...- Pronunciou sua amiga, com um sorriso estampado - Você não faz nem idéia do que acabou de me acontecer!
-Ah..- Mickaella suspira – Diz logo, Paula, o que houve?
-Tudo bem, Prepare-se... - Paula dá um sorriso malicioso – Riley acabou de me pedir em namoro!
-Puxa...Parabéns... Eu tenho que ir... Meus...Meus parabéns...Eu acho...
-Espere...Desculpe não ter percebido, eu estava tão...Alegre... – Paula olha nos olhos de sua amiga. – O que houve, Micka?
As lágrimas da jovem escorriam por seu rosto.
-Acabei de terminar com Drew... Ele...Ele queria...Mais do que podia dar para ele...- A jovem se entristecia cada vez mais.
-Ah...Sinto muito amiga...Estou aqui com você...Lembre-se disto...
Paula, pois sua mão em um dos ombros de Micka. A luz liberada pela lua cheia banhava as jovens.
-Me abrace...- Implorou Mickaella.
E assim foi, as jovens se abraçaram, e a amizade entre as duas parecia inacabável.

* * *
(fim de flashback)
-Ninguém...- ela disse-Esquece tudo o que eu disse...
-Acha que devo acreditar?
-Se quiser continuar este relacionamento, não duvide! – Os dos riem logo após.
-Sério, amor, não fique assim... Vou pedir para Heath conversar com ela.
-Não!- Se espantou Micka – Queremos que ela melhore, e não que chegue logo no fim do poço. Ainda me restam esperanças sobre os métodos de escolha de minha amiga...
Riley solta um leve sorriso mudo.
-Não o trate assim, ele não é tão mal!
-HÁ, Riley, HÁ! Estou começando a achar que Paula está te influenciando...
-Tire isto de sua cabeça...Não é tão fácil me convencer das coisas, Paula nunca me influenciaria.
-Calma, amor, é só brincadeira. – eles voltam a se beijar.
-Espero mesmo... – Ele ri. – Vamos, o sinal escolar acabou de bater.
Eles se levantam, e cada um dirige-se à sua respectiva aula. Laboratório de química, no caso de Micka. Uma das únicas três aulas em que não encontra Heath, Paula, ou Drew.
O laboratório costumava ser chamado como “O espaço da cor” pelos alunos, pelo fato de ser a única aula que alegrava os jovens. É claro que a aula de artes não conta não entra neste acordo.
As carteiras desta sala eram triplas, e o trio que se formasse na primeira semana deveria permanecer o mesmo até o final do ano letivo. Micka fazia grupo com dois de seus melhores amigos, - os únicos que lhes ouviam - May e Tie.
Micka sentou-se entre os dois, olhou de relance para o trio a sua frente, e então despejou seu livro de química sobre a bancada. O silêncio permaneceu vivo durante os próximos quinze minutos.
-Sal... ? – May olhava fixamente para o tubo de ensaio onde Micka misturava os elementos descritos no quadro negro. -...Micka...Está misturando sal...Isto nem está na lista...
-Hey, desde quando pega no meu pé?
-Desde que tirou cinco na última prova...
-May, valia cinco e meio... E só errei a última pela falta de tempo!
-Tudo bem, tudo bem, desculpe-me...
Por acaso, de relance, Micka percebe uma nova presença na sala, um aluno novo, localizado no fundo da sala, na última cadeira tripla, apoiando seu corpo na parede. Sozinho...
-Não é estranho?- Micka sussurra a Tie – Parece um daqueles drogados...Mas sem as visíveis olheiras que eles costumam ter...
-Olhe novamente, sem chamar a atenção... –Tie fazia um sinal com os olhos, insinuando que ela voltasse sua atenção ao novato. – Não tira os olhos de May desde que chegou aqui...
-O que acha que ele quer com ela?
-Não sei, mas está me assustando... Parece um lobo atrás de seu cordeiro suculento...
-Putz, Tie. – Mickaella solta um baixo riso – Essa foi podre! Fez-me lembrar da minha avó!
-Tudo bem, esquece a frase sórdida...Pense em May, é viciada em garotos e sabe disso. Ela não pode nem imaginar que está sendo observada por um, principalmente por...Aquilo...
-Por outro lado...Ele é bem atraente...- Micka morde o lábio.
-Não, não é... O que você vê nele?
-Bem, provavelmente o negro cabelo liso jogado para a direita, ou os olhos verde-claros, ou os perceptíveis músculos protegidos pela jaqueta de couro preta, ou o seu olhar penetrante... – Micka perde a voz, e ganha uma leve tapinha na nuca, de TieAff, o que foi?
-Riley? Foi Riley que te pediu em namoro, não foi?
-Otário... Sei que estou com Riley, mas não significa que não possa mais achar ninguém bonito nesse mundo!
-Ok, me perdoe por me importar! – Percebia-se um tom de deboche em sua voz.
-Olhe só, concordo com você quando diz que ele é estranho...- Micka baixava o tom de voz cada vez mais, para não chamar a atenção de sua amiga ou do novato – Mas ele pode ser um cara legal.
-Galera... – May encosta uma de suas mãos em sua bochecha. – Não estou me sentindo muito bem, estou com ânsia, e acho que estou ficando febril...Está frio...
-Trinta e oito graus, May...- Tie se levanta, pedi permissão ao professor, e ajuda May a se levantar - Vamos à enfermaria. Você vem, Micka?
-Ah, Claro... – Ela se levanta.
May e Tie retiram-se do laboratório. Seguindo-os está Mickaella, que dá uma leve espiada por entre os ombros para o fundo da sala. Micka perde o ar por um segundo, o novato não está mais lá...Não tem ninguém.
A enfermaria da escola não se passava de um plágio das enfermarias que apareciam em qualquer um daqueles seriados para adolescentes, comuns nos Estados Unidos. May sentou-se em uma das únicas duas camas da larga sala, e Micka ficou recostada na porta, ao lado de Tie, Ambos de braços cruzados.
Após a consulta de May, que descobriu ser apenas uma gripe, o trio arrumou seu material em suas devidas bolsas ou mochilas e esperou até a batida do sinal que simbolizava a saída, o que não demorou muito, já que gastaram bastante tempo observando May ser atendida.
-Escutem...-Micka encaixava sua bolsa de pano verde em um de seus ombros - Hoje é sexta-feira, Riley e Inna irão passar a noite em minha casa, vamos também...Será legal...
-Por mim tudo bem...- Diz Tie.
-É, por mim também...-May parecia ter melhorado um pouco, embora ainda estivesse um pouco pálida e fria. - Apareço lá mais tarde, tudo bem?
-Tudo bem...O mesmo para você, Tie! –Micka fecha seu armário – Até mais tarde...- Ela dirige-se a saída.
Micka olha de relance para a saída do prédio, enquanto caminha para a calçada, e ele está lá. O novato olha fixamente para May, enquanto deixa o local. Micka sente um arrepio na espinha, dá de ombros, e continua sua caminhada.
* * *
Casa de Mickaella – sexta-feira - (23:54):

Micka havia acabado de arrumar sua sala de estar para o evento, todos dormiriam no cômodo. Os sacos de dormir encontravam-se posicionados uns ao lado dos outros. Todos já haviam chegado e conversavam sobre diversos assuntos, todos sentados no chão da sala, formando um círculo.
A seqüência era a seguinte: Riley, May, Tie, Inna, e Micka, que completava o círculo. Inna dizia alguma coisa sobre um jogo que aprendera durante o último verão.
-Precisamos de velas...Cinco velas, uma para cada, um círculo formado por letras e outro menor formado por números, e um lápis bem apontado...
-Velas? Que tipo de brincadeira é essa? – Riley deixava um sorriso escapar pelo canto da boca.
-Perguntas e respostas...Com os espíritos... – responde Inna, mordendo o lábio.
-Eu arranjo tudo... – Diz Micka.
-Espere...- Ordena May, levantando-se do frio chão da sala de estar - Eu te ajudo...
As garotas retornam ao cômodo e arrumam tudo no chão, seguindo as instruções dadas por Inna: “Formem um grande círculo com as letras, em ordem alfabética, dentro formem outro círculo, com números de um á nove... Fora dos dois círculos formem outro círculo com as cinco velas, quando começarmos cada um deve sentar-se na frente de uma delas, qualquer uma, e depois coloquem o lápis no centro dos três círculos. Agora assim... Podemos começar! Seguinte, galera, é como um jogo de perguntas qualquer, a diferença é que ninguém responde... apenas encostamos a ponta de um de nossos dedos a nossas devidas velas, após nossas perguntas, e esperamos o lápis se mover”.
-Tudo bem, eu começo...- Riley olhou para sua vela, acesa, e começou – Vamos fazer um teste, se funcionar continuo na brincadeira: Na semana passada eu descobri que ficaria para recuperação em algumas matérias...Em quantas matérias eu tive de recuperar a nota?
Riley encostou-se em sua vela e, lentamente, o lápis começou a girar. Micka e Tie se arrepiaram.
“2”. – apontou o lápis.
-Isto é...Bizarro...Está correto...- Riley se arrepiara agora, retirando a ponta de seu dedo da vela, sentia-se frio.
-Tudo bem, minha vez!- May dirigiu sua mão até sua devida vela, tremendo um pouco, e parecendo eufórica –Não acredito em cartomante, muito menos em adivinhos, então espero que saia alguma coisa daqui que eu possa usar no futuro...Aí vai: “Sendo direta, e não acreditando muito nesse lance de espírito, o que a vida me guarda para os próximos meses?”.
O lápis começou a mover-se, cada vez mais rápido, dando voltas em um núcleo inexistente.
-O que está havendo?- Tie parecia ter medo.
-Eu não sei...Isso nunca aconteceu antes... – Responde Inna, ofegante.
Uma das grandes janelas do cômodo abriu-se, chocando suas abas contra a parede, e permitindo que o forte vento invadisse a sala.
O fogo do todo das velas e os círculos do ritual permaneceram intactos, apesar do vento frio que espalhava todo e qualquer tipo de material solto pela sala, exceto o da vela de May...Que havia se apagado...Sua vela se partira ao meio.
O vento desaparecera, e o lápis do centro dos círculos parara, em cinco letras diferentes, uma de cada vez, revelando uma palavra não muito querida pelos jovens.
“M-O-R-T-E”.
Ambos se entreolharam, apagaram suas velas, e jogaram todo o material fora.
-Tudo bem, galera, eu não queria tocar no assunto, mais não tem como! Alguém pode me explicar o que houve aqui? –Tie tremia bastante agora, embora tentasse disfarçar.
Riley abraçava Micka, por impulso de defesa, Inna trancava novamente a janela, e May chorava silenciosamente no sofá.
-May...- Dizia Inna, sentando-se ao seu lado-Não precisa disto...Não precisa acreditar, sabe? Você nunca ligou muito para isso...
-Não sabe o quanto eu queria não acreditar no que acabou de acontecer... Mais é coincidência demais: O lápis aponta morte, a janela abre de repente, vento forte vindo do nada, e então a minha vela é a única a se apagar e se partir ao meio!
-Tudo bem...Já chega! – Micka deixa Riley, e se aproxima dos sacos de dormir. – Porque não dormimos agora e esquecemos tudo o que aconteceu aqui?
-O que está havendo? – May levanta-se do enorme sofá branco – Como podem fingir que nada aconteceu? Isso foi surreal, galera! É algo inexplicável...
-May está certa...- Riley cruzara os braços – Isso não pode sair daqui, ninguém jamais deve passar esta experiência adiante, combinado?- Ele não parecia estar brincando, e olhava diretamente para Inna.
Todos fizeram que sim com a cabeça, até a dirigirem para a escadaria.
-Ouviram isso? – Tie se levantava lentamente do chão, sem desviar a atenção das escadas. – Pareciam...
-Passos...- Completa Micka – No sótão...Parecem estar correndo - Os dois se entreolham, e depois olharam para Riley, que ainda dirige seu olhar à escadaria, curvando as sobrancelhas.
O som de algo se espatifando no chão do terceiro andar conseguiu a atenção de todos na sala. Era algo grande, se partindo em milhares de pedacinhos. O som produzido fazia os jovens se lembrarem de milhares de copos de vidro se chocando contra o chão, todos ao mesmo tempo.
Em seguida, Voltaram os passos...Ainda parecendo ser alguém correndo.
Os passos param por um segundo, E a escuridão toma o local, alguém cortara a eletricidade da casa.
Não se via nada a partir de agora... Ouviu-se um grito.
 

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