Episódio 2

-May! – Grita Inna, ao reconhecer de onde veio o grito.
Algo se arrastava no sótão, em direção as escadas.
-Rápido, Micka, me arranje uma lanterna! – Ordena Riley, em tom alto.
-Estão do lado dos sacos de dormir, mas acho que não conseguirá encontrar... – A voz de Micka ficava cada vez mais rouca, e lágrimas escorriam por seu rosto. – Está muito escuro!
-Tie, está do lado dos sacos, não está?
-Acho...Acho que sim...
-Abaixe-se e veja se consiga pegar uma das lanternas!
-Estou tentando... Espere...
Seja lá o que fosse, aproximava-se cada vez mais das escadarias, Aumentando cada vez mais o pânico de todos.
-May, onde está?- Gritava Inna, esticando os braços para ver se identifica alguém por perto. Ela encontra Micka, e as duas dão as mãos, chorando em silêncio.
-Encontrei uma!- Diz Tie, estendendo a mão na direção em que lembra estar Riley antes das luzes se apagarem.
Riley segura a lanterna e a liga, verifica se todos estão de pé, não encontra May, mas não tem tempo para procurar. Ele dirige a forte luz concentrada em direção as escadas...Não há ninguém.
A eletricidade retorna a casa. Pode se ver tudo novamente, Riley desliga a lanterna e a joga no sofá.
Inna grita. Todos voltam seu olhar para o chão, e lá está May, inconsciente.
Aos poucos, ela abre os olhos, e se levanta, apoiando-se em um dos braços do sofá.
-O que houve? – Ela ameaça cair novamente, mas Riley a segura. - Meu pescoço arde...
Ela passa a ponta dos dedos por todo o ele, e bem no meio, um corte de três centímetros ainda liberava um pouco de sangue pelo canto.
-O que... – Ela engasga, Todos a olham, assustados.
Alguém bate a porta.
-Venha, May, vamos fazer um curativo...- Ela envolve sua amiga com um dos braços - Inna, pode ver quem bate?- As duas caminham até a despensa, Ainda tremulas.
-C...Claro... – Ela responde, sentindo-se fria.
Inna não podia negar: Nem ela, que era fã oficial desses lances paranormais, estava preparada para algo como...Aquilo.
Suas mãos tremiam freneticamente, e curtos gemidos soltavam-se de sua garganta em pequenos intervalos de tempo. Lágrimas escorriam por suas bochechas e soltavam-se de seu rosto.
Seus dedos foram de encontro à maçaneta, mesmo lhe faltando coragem para girá-la. Ela suspira, e então o faz.
-Até que enfim, pensei que nunca fossem abrir! – Um sorriso estampado em um fino e delicado rosto feminino com uns gigantescos óculos de sol encravados na testa fizeram com que Inna levasse um pequeno susto.
-P...Paula?- Inna voltou os olhos para o corredor que dava de encontro à sala, avistou Tie, e então o avisou com um gesto facial. Logo voltou a encarar a menina a sua frente.
-Não vai me convidar para entrar? Soube que estão dando uma festa...
-Sinto muito...Queria poder deixá-la entrar, mas... Tchau! – Inna fecha a porta de entrada, e corre pelo corredor, em direção a sala. – Onde está Riley? – Pergunta, ao encontrar Tie colocando de volta no lugar os objetos derrubados na confusão.
-Na despensa, foi ver se as meninas precisam de ajuda... – Responde, posicionando as lanternas ,uma ao lado da outra, em Cima da estante de livros, aonde poderiam pegá-las se houvesse outra emergência. – O que Paula queria?
-Entrar... – Inna não olha diretamente para Tie... seus olhos vão de encontro às escadas, ela tapa a boca com a mão.
-O que... o que está olhando? – Tie copia a jovem, olhando fixamente para os treze degraus de madeira branca pintada a sua frente.
Suas sobrancelhas se curvam sobre seus olhos, ele volta a se sentir frio.
-O que é aquilo? – Tie seguia Inna, que se aproximava lentamente das escadarias.
A garota avalia a substância, encostando.
-Sal grosso...- Ao se virar para Tie, os Longos e encaracolados cabelos de Inna caem sobre parte de seu rosto, ela os recoloca atrás da orelha. – Espíritos não deveriam temer sal grosso?
-Pode não ser um espírito, Inna...- Tie passa, de leve, seu indicador na mesma substância. – Existem explicações razoáveis para isso...
-Tudo bem... – A jovem cruza os braços – Comece... Diz-me uma!
-Bem, houve um pequeno apagão durante alguns minutos, Micka esqueceu uma das janelas abertas , o que fez algum pequeno animal entrar e subir ao sótão, Ele se assustou com May e então a atacou , ao chegar ao sótão ,acidentalmente, rasgou com suas garras uma daquelas enormes embalagens de sal grosso que a Sra. Diaz guarda no local...
-Muito bem, panaca. O erro dessa história: Quando fui atender Paula na porta, esse sal não estavas aí. Outro erro: Encontramos May desmaiada,não apenas com o corte. Último erro: Um pequeno animal não é capaz de abrir uma janela, interferir em um jogo espiritual e controlar um lápis com a mente... muito menos apagar e quebrar uma vela à distância...
-Tudo bem... foi uma péssima teoria... – Tie observa a substância mais uma vez, até que os outros três jovens retornam a sala.
Micka caminha junto a Riley, que a envolve com um dos braços. Os castanhos cabelos alisados de Micka agora se encontram presos por um pequeno laço verde-musgo, na parte de trás de sua nuca, e suas pontas,pintadas de verde e naturalmente onduladas, já não podem ser tão percebidas. Riley, ao seu lado, tem seus olhos verdes refletidos pela imensa luz produzida pelo enorme lustre de centro de sala colocado pela Sra. Diaz. Seus cabelos curtos e negros, e totalmente lisos, também recebem o brilho artificial do lustre.
-Quem estava na porta? – Micka se aproxima de Inna e Tie, ambos de olhos negros brilhosos, mais uma vez devido à luz, enquanto Riley e May se jogam no grande sofá branco.
-A melhor amiga que você odeia...
-Paula? O que ela estava fazendo aqui uma hora dessas?
-O que ela estava fazendo na rua uma hora dessas? Já se passaram de uma da manha!
-Espere...- Micka se volta para a escada – O que houve aqui?
-Sal grosso... não sabemos como chegou aqui... ele apenas apareceu.
-Tudo bem, eu tenho uma idéia! – Micka sofria uma leve tremedeira corporal. –Peguem tudo e vamos para o meu quarto, trancar a porta e rezar para não acontecer mais nada... – Inna e May se entreolharam, May parecia temer mais alguma coisa. Não era pra menos, ela acabara de ser atacada sei lá pelo que...
Mesmo temendo próximos eventos paranormais, o grupo reuniu tudo que haviam arrumado na grande sala de estar, inclusive o enorme pote contendo diversos biscoitos salgados e doces, e algumas latas de refrigerante diet, e arrumaram tudo outra vez, no cômodo da casa ao qual pertencia a Mickaella.
Micka Trancou a porta, e guardou a chave em seu grande armário verde e branco que ela mesma havia escolhido e comprado. (esta é uma das vantagens de ter uma mãe coruja).
Não demorou muito até todos dormirem, ambos estavam bastante cansados...afinal, este não foi um dia como qualquer outro dia normal.
Riley e Micka dormem abraçados, tranqüilos. Ao seu lado se encontra May, com seu saco de dormir totalmente fechado. Na seqüência, encontra-se Tie, dormindo normalmente com seu saco cobrindo-o até o pescoço. E, por fim, Inna é a única a se mexer de um lado para outro, provocando leves sussurros que aparentam não incomodar ninguém no quarto. Inna treme um pouco, seu corpo esfria. Está sonhando... sonhando com algo lindo, mas que não deveria existir para ela.

A jovem sentia-se leve. Suas roupas pretas e suas pulseiras prateadas e pontiagudas haviam sido substituídas por um largo e solto vestido branco que escorria até seus pés...que, por sinal, estavam descalços.
O chão era macio...aquela linda e fofa grama continha um verde tão vivo que era desconhecido pela própria Inna. O local era lindo e era enorme. Ela não estava mais no quarto de Micka... estava em um jardim ou algo parecido. Estava sol, e várias borboletas de diversas cores tomavam conta do local. O lugar era extenso e lindo, mais uma vez.
Era cercado por vivas fileiras de lindas tulipas amarelas e algumas rosas vermelhas que chamavam a atenção de qualquer um. Por traz das cintilantes e divinas flores coloridas, existia uma outra fileira de árvores grandes e vivas que liberavam um doce cheiro ao qual deixavam Inna feliz por estar ali.
Inna deu dois passos à frente, havia mais alguém ali...uma mulher, de vestido idêntico ao da jovem, de olhos azul celeste, e um lindo cabelo liso e dourado que se estendia até sua cintura.
A moça olhou para Inna, e sorriu. Era fantástico, Inna jamais vira dentes tão brancos e brilhantes como aqueles.
-Venha, Pomba branca... – A mulher dirigia-se a Inna. – Eu não te esperava aqui... você chegou de surpresa...
Inna obedeceu. Aquela linda mulher lhe transmitia confiança... Fazia-lhe querer ter mais amigos...Fazia-lhe querer viver...
As jovens ficaram de mãos dadas por um instante.
-Quem...quem é você?
- Me chamo Celly... Protetora deste lugar...
-Am... e que lugar é este? É lindo... – Inna rodava os olhos pelo local enquanto falava.
-Cada um dá o nome que bem entender... – Celly senta-se na grama viva, e faz um gesto para que Inna faça o mesmo. Ela faz. – Gosto de chamar de casa, de Templo às vezes, Pode chamar de sonho...
-Bem... na verdade, eu queria saber mesmo que lugar é este...
- Aqui é um lugar mágico! Neste lugar, você e seus amigos estão protegidos da sombra...nenhum mal pode afetar vocês aqui...
-Do que...do que está falando?- Inna sabe que estão falando de algo delicado. Diferente do mundo real, a tremedeira não a atinge, e ela se sente quente e confortável em seu interior.
-Sua amiga está em perigo! May precisa de cobertura agora!
-May? – Inna se assusta, mas ainda não se sente fria – Como sabe...
-May é descendente direta de bruxa... Seu sangue é limpo e perfeito para qualquer alma penada...
-Alma penada?
-Espíritos que não aceitam a morte...eles sempre tentam voltar ao seu mundo... existem dois jeitos de fazer isto... Uma delas é provar parte do sangue de uma bruxa direta...e depois ,com o sangue, fica mais fácil de possuí-la!
-Isso...Isso... – Inna não consegue completar a frase.
-Se não conseguir, ainda existe a outra forma...Essa,sim é muito cruel...Fazê-la matar um de seus verdadeiros amigos...e é aí que vocês entram...
-Vocês?
-Ao começarem o jogo de hoje, deixaram seu espírito exposto ao mal... não fecharam o ciclo... apenas jogaram o material no lixo... agora vocês correm tanto perigo quanto May, seu sangue é mais fraco e , portanto, mais fácil...
A mulher olha para o sol.
-Inna, deve ir agora... lembre-se, tome cuidado no período de lua minguante...
-Eu não entendo...
-A lua partida ao meio simboliza a aliança... é quando o mundo espiritual toma controle sobre o mundo real...portanto , você e seus amigos terão que lutar mais do que nunca para não serem possuídos...
-Espere...o que isso quer dizer...quem está atrás de May, Celly, Espere...
Inna tenta gritar, mas sua voz não sai. Uma luz toma completamente o local, e é só isso que o campo de visão da jovem consegue enxergar.
Tudo fica branco, e Inna sente um forte abraço caloroso.
-Boa sorte, Pomba branca...

Na casa de Micka, todos já estavam de pé, já se passara das 8:30. Inna se levanta lentamente, ainda atordoada pelo “sonho” que acabara de ter. Ela dirigiu o olhar para May...parecia ter se recuperado do susto. Ela conversava com Micka e Tie sobre algo engraçado que aconteceu no laboratório de química.
Inna da “bom dia” para os três, e para Riley, assim que volta sei lá da onde e senta-se ao lado de Micka, em sua cama. Os outros dois jovens com qual conversava estavam sentados no chão do quarto.
Micka havia destrancado a porta novamente, e havia aberto a cortina persiana. Fazia sol lá fora, Inna imediatamente se recorda de todos os detalhes do sonho.
Ela avança para a porta, lança um gesto facial para Micka e Tie, e espera que eles a sigam até a cozinha da casa. Eles o fazem, deixando May e Riley para trás.
A cozinha de Micka era simplesmente PERFEITA! Havia uma enorme mesa de vidro no centro, uma geladeira com porta de duas abas, lava-louças elétrico, e um enorme e fenomenal teto de vidro, planejado pela Sra. Diaz para poder ver o Sol e a Lua (Jennyfer sempre fora supersticiosa). Além disso, a bancada da cozinha cobria toda uma parede.
Inna sentou-se em cima da bancada, e observou Tie e Micka puxarem duas das cadeiras almofadadas para perto dela, e se sentarem.
Inna começa a recitar seu sonho,o que provoca leves tremedeiras em seus amigos. Ambos perceberam que estavam recriando muitos dos mais clássicos filmes de terror...o único problema era que, se morressem ali, não teria alguém atrás das câmeras para limparem o Ketchup em suas roupas. Não, aquilo era bem mais complicado...Aquilo era real. Real o suficiente para matá-los. E agora a situação se complicara. “Ao começarem o jogo de hoje, deixaram seu espírito exposto ao mal... não fecharam o ciclo...”
-O Sonho me pareceu bem convincente...ainda mais depois de tudo o que passamos ontem...
-Isso é apavorante...- Micka olha para Tie, e então para Inna;
- Quer dizer que corremos tanto perigo quanto a própria May? Só pode ser brincadeira... – Tie olhava fixamente para Inna.
-Pode crer! –Mickaella se levanta, e cruza os braços – Não faz vinte e quatro horas e eu estava sentada no banco da escola beijando o meu namorado com todo amor do mundo. E agora, estou sendo perseguida por espíritos – Vampiros que querem o sangue da minha melhor amiga...que, só para não ficar por baixo de tudo isso, é uma descendente direta de bruxa e não sabe!
-Gente... – Tie é quem se levanta agora – Pode ser apenas um sonho... pense bem, você estava muito impressionada com tudo isso...todos nós... esse sonho pode não significar nada...
-Aham , Tie, A Celly deve ser uma fada rosa que mora em uma floresta encantada junto com o seu “pequeno animal” com poderes psíquicos , e eles bebem leite de pato alado todos as manhãs!
-HÁHÁ...desculpa, espertalhona!
-Hey, Galera... – Micka estala os dedos , para chamar a atenção dos jovens – Isto é sério! Não percebem pelo que estamos passando? Inna, o seu joguinho nos colocou em meio a uma guerra!
-Ah, então eu sou a culpada agora? – Ela, por fim , é a ultima a se levantar.
-Eu nunca disse isso! Apesar de ser a mais pura verdade... Podemos ser possuídos á qualquer momento...
-Ops...- Inna coça a cabeça por um segundo – Isso me faz lembrar outra coisa...
-O que? – Tie e Micka se entreolham, com medo da resposta. Ambos se sentem frios, e a tremedeira volta a lhes tomar.
-No período de lua minguante... nosso espírito estará mais exposto, pois é quando o mundo dos espíritos invade o nosso...ou algo assim... não lembro direito agora...algo sobre uma aliança... eu não consigo lembrar desta parte do sonho direito...
-Lua minguante... quando é...- Micka retira o enorme calendário com imã da geladeira, e seus pelos se arrepiam de cima a baixo. – A Lua minguante chega em dois dias...
-Dois dias? – Tie se apavora – Como vamos nos preparar em dois dias?
-Não vamos nos preparar, Tie... não temos experiência nenhuma nisso... – A voz de Inna soava impaciente.
-Temos que colar em May na próxima semana... sim, vamos correr riscos, mas este “seja lá quem for” não perderá tempo conosco podendo colocar as mãos nela!
-Também somos alvos, Micka... Se possuírem nosso corpo, podem conseguir tomar controle definitivo dele... estamos perdidos, em outras palavras... – Inna começara a se sentir fria novamente.
-Temos bastante tempo... vamos procurar alguém especializado em espiritismo...Inna, May não pode nem suspeita que está sendo perseguida...quero que destraia ela enquanto procuro alguém com Tie... Quando voltarmos, contamos a Riley... Vamos, Tie.
Os jovens se separam, com o objetivo de amenizar o estrago que está preste a ser causado.

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