A última nuvem (Última parte)

- A última nuvem ( 3 de 3 - último episódio da primeira temporada)


-prenda-a no chão! – Gritou o homem, estalando os dedos de uma das mãos.
Nada aconteceu...
-Sairrus está lutando! – Lembrou Paul, apontando para a grande sala dos móveis que agora tinha boa parte de sua parede caída ao chão.
A cena não estava nada boa: O morcego levantava vôo rapidamente, e a aura tentava acompanhar seus movimentos, atacando vez ou outra. Agora a criatura havia feito um rombo enorme no teto, e repetiu o ato no segundo andar. Assim, a aura e o demônio saíram se chocando noite afora.
Noite... Havia estado preso tanto tempo na jaula de elefante que Paul mal percebeu que o tempo não havia, de fato, parado.
Por trás da batalha aérea, o rapaz loiro conseguiu a ver novamente: A lua minguante.
-SAIRRUS! – Gritou, correndo para fora da velha casa.
-Volte aqui! – Disse a garota, suas palavras saindo mais parecidas com sussurros altos do que com palavras.
Ela ameaçou ir atrás do homem de aura branca, mas Paul agarrou seu braço no último instante. Girando-a no ar e a arremessando na direção da escada. Isso poderia ter matado uma pessoa comum, Mas Paula não era uma mortal.
A jovem teria conseguido se reerguer, se Paul não tivesse lhe arremessado algumas pedras caídas da construção, que atingiram em diversos lugares. Enfim, a jovem, ensangüentada de um sangue aguado, caiu inconsciente no chão.
-Isso deve me dar algum tempo... – Ao olhar para trás, viu que o homem continuava correndo para longe, acompanhando a batalha acima de si. – Hey, espere por mim!
* * *
-Não adianta! – Inna agora gritava furiosamente, rangendo os dentes e cerrando os punhos. – Não conseguimos nem rabiscar a maldita porta de pedra!
-Temos que continuar tentando! – Alguém respondeu, mas a garota esta com raiva suficiente para não procurar saber quem era.
-Não! – Inna parecia não mais gritar, mas sim rosnar agora. – Paul é o único que tem chances de conseguir abrir passagem. Temos que ir atrás dele!
* * *
A aranha parecia crescer uns dez centímetros mais a cada segundo que se passava, mas isso provavelmente era uma peça pregada pelo pavor de ambos os dois jovens e os dois animais desmaiados no outro canto do grande salão.
Tie sentiu que, brevemente, suas pernas falhariam e ele cairia no chão pouco antes de ser devorado por um aracnídeo espiritual gigante.
Assim que sentiu o tremor que as patas grossas e peludas do animal causavam na estrutura antiga, suas últimas semanas passaram como um filme em sua cabeça. E então seus olhos começaram a enxergar, seus ouvidos começaram a ouvir...
Era como voltar no tempo...

“-Encarnados? – Micka curvara as sobrancelhas. – O que são Encarnados?
- Como eu disse, não sei. Mas, segundo a breve descrição de Madelynne, são seres com aura fria.
-Madelynne? – Tie enfatizou, era mesmo para ser uma pergunta.
-Alguma ancestral minha... Ela se chamava de “a bruxa das flores”, e era perseguida pela igreja, pelos Encarnados, e pelas sombras.”

“-Não! – Ele gritou, com uma voz séria e bizarra. – Eu era seu amigo, Tie. Mas a verdade é que você apenas me usou! Me usou para se aproximar de Mickaella!
-O que? – Tie não era o único que parecia confuso ali, mas apenas ele expressava. – Ficou louco? Eu e Micka nos conhecemos desde os seis anos de idade. É minha melhor amiga... Não preciso de ninguém para me aproximar dela, e eu não quero! Já somos próximos o suficiente!
-Não vou deixar que a roube de mim! – Riley bufava, seus olhos eram inexpressivos, e algumas veias eram visíveis em seus braços.
Ele realmente estava com raiva... Mas por quê? Transtorno bipolar?
Riley fechara o punho, e o avançava rapidamente em direção a Tie, mirando em seu rosto.”

“-Corre! – Inna sussurrou.
Tie a seguiu, dando meia volta e correndo na direção oposta a da mulher. Até serem impedidos por uma outra pessoa. Um rapaz loiro de cabelos cacheados e um corvo, o mesmo corvo que atacara os dois jovens há alguns instantes atrás.
O corvo imitava a situação do gato: Seu corpo estava se desfazendo! Algumas penas pretas flutuavam e rodopiavam ao seu redor, algumas simplesmente desapareceram. E, mais uma vez, o animal havia dado lugar a uma assustadora sombra.
-Inna... – Tie sussurrou em seu ouvido. – Não importa o que aconteça, corra! Corra como nunca correu em toda a sua vida! Enquanto fazem ‘eu sei lá o quê’ comigo você pode escapar.
-Qual é? – Inna riu mesmo nervosa. – Vai dar uma de corajoso bem agora?”

“-Também estou feliz em te ver, Isa... – Micka manteve o sorriso forçado por mais algum tempo. – Fiquei super feliz quando recebi a notícia de que viria para cá.
- Já imaginava... Você me ama, prima, não vive sem mim! – Isabella ri por um segundo.
-Modesta como sempre... – Tie não demonstrava nenhuma ponta de brincadeira em sua fala. Sua expressão séria era o que comprovava isto.
-Nossa, Mickaella, Não sabia que criava sua própria maritaca. – A jovem voltou a carregar a mala com rodas, e correu para o táxi que os aguardava antes que Tie pudesse ter a oportunidade de revidar. - Quem chegar por último é um Tie! – Ela implicou, enquanto iniciava sua própria corrida.
-Mais uma vez... Como conseguiu me forçar a vir? – Tie balançou a cabeça, em negativa, e seguiu para o táxi.”

Ele passou por tanta coisa. Todos passaram por tanta coisa. Eles não mereciam isso, Isa não merecia isso, May não merecia nada disso!
Por um momento, ele pensou em culpar Deus por tudo isso,Afinal, ele poderia ter impedido a criação desse maldito ritual, mas ele achou injusto. Quer dizer, se não fosse por Deus, será mesmo que eles teriam chegado tão longe? Eles estariam ali agora se não tivessem recebido uma ajuda divina?
Lágrimas se formaram em seus olhos e, pela primeira vez em muito tempo, ele as deixou cair. Tie gostou de sentir o líquido claro e puro escorrer por seu rosto, até se soltar e o abandonar.
Ele olhou mais uma vez para Mickaella, que chorava, agachada, no canto oposto ao que ele havia sido encurralado. Seus olhos se viraram mais uma vez, até encontrar a pequena coruja caída ao lado de Burnstein, também desmaiado.
Eram tão pequenos... E, no entanto, eles haviam salvo ele e seus amigos muitas vezes durante os últimos dias. Era como se uma pequena criatura como aquela portasse o dobro da força de todo o grupo junto. E velos no chão, assim, isso apenas intensificava a dor de Tie.
E Celly...
Talvez eles se encontrassem lá em cima, ou talvez ele vá para algum outro lugar. De certa forma, ele apenas fingia ter aceitado a morte. A verdade era que ele passava os olhos por todos os lugares em busca de alguma escapatória, mas não encontrava nada.
* * *
-Volte para cá, Sairrus! – O homem gritava enquanto corria, com Paul logo na sua frente.
-Não o chame! – Ordenou o garoto loiro. – É uma aura branca, tem muitas chances de vencer!
-E muitas de perder também! Eu não quero perder minha aura!
-Auras não morrem, ok? Elas podem ficar hibernando por algum tempo, para recuperar suas energias, mas sempre voltam! Elas... Sempre...
Era impossível falar de auras e monstros sem se lembrar pelo menos um pouco de Sturk, sua aura em forma de corvo que havia sido “destruída” por esse demônio.
Algo interrompeu o pensamento de Paul. Um grande buraco negro com raios sendo expelidos para todos os cantos.
-Agora assim! – Gritou o garoto, parecendo muito assustado. – Chame Sairrus ou ele será sugado! ANDE LOGO!
-Sugado?
-Sim, o grande morcego abriu um portal de volta para o seu lar!
-De volta... – O homem misterioso arregalou os olhos e olhou para a batalha acima. As duas criaturas voavam em direção ao buraco negro. – SAIRRUS, VOLTE AQUI AGORA! ESQUEÇA ESSE MONSTRO E VOLTE PARA CÁ!
Demorou um pouco para que a aura escutasse, mas enfim o globo branco parou a dois metros do portal e então percebeu em que se meteria caso não parasse.
Todos observaram a fuga do morcego. Assim que passou pelo buraco negro, outro grande raio atravessou o cenário, atingindo uma pequena cabana abandonada. E então, em uma fração de segundos, tudo desapareceu: O demônio, o buraco negro, os raios. Parecia apenas mais uma noite normal nos limites de Boston.
A aura desceu até o solo, transformando-se em um tigre branco mais uma vez e deitando ao lado de seu dono. Observou Paul por um segundo, como se fosse um agradecimento, e então, rapidamente, adormeceu.
* * *
- O que... – Paula levantou-se lentamente, com muita dor de cabeça e alguns arranhões profundos. – Onde todos foram? – Seus olhos notaram o estado da mansão. Estava bem diferente de como se lembrava. Bem, na verdade nem tanto, mas a sala dos móveis estava completamente destruída. – Paul? Mic...
Sua mente, enfim, voltou a funcionar corretamente. Ela precisava deter o morcego, mas o monstro já não estava mais ali, e então outro fato lhe atingiu, em fragmentos: Mickaella, prisão, Tie, aranha, jaula, pedra.
-MICKA! – Gritou, e então correu como nunca na vida, passando rapidamente pela passagem secreta ao lado da escada e chegando a um túnel de pedra com algumas lanternas acima de sua cabeça. Logo avistou os demais do grupo que tentavam quebrar a porta de pedra para que os jovens aprisionados pudessem sair de lá.
-SAIAM DA FRENTE! – Gritou, com seu coração acelerado. – ISSO JÁ FOI LONGE DEMAIS!
Seu primeiro soco causou algumas rachaduras e provocou a queda de pequenos pedaços de pedra. Seu segundo abriu uma pequena parte da porta. Não havia como alguém passar por ali, mas Paula pode ver a aranha se aproximando lentamente de Tie, com Micka agachada do outro lado. Seu terceiro soco foi certeiro: Bem no meio, o que fez com que a pedra inteira se partisse em mil pedacinhos.
Sem perder tempo, Paula entrou no grande salão antigo e correu para a cena que precisava impedir que acontecesse.
Em apenas alguns segundos, o que surpreendeu a todos, a jovem moça correu e fincou as unhas em um dos olhos da aranha, que recuou, fazendo um som que lembrava o grito de um porco.
Sem perder tempo, Paula correu outra vez, parando a apenas um centímetro da aranha. Estendeu as duas mãos e, com apenas um pouco de força a mais, arrancou uma das patas do monstro, deixando uma abertura horrível por onde vazou um líquido esverdeado e algo que parecia uma daquelas geléias de brinquedo. Outra vez, o aracnídeo gigante gritou.
-Paula? – Só agora Tie havia percebido que ainda estava vivo.
-MALDITA, NÃO MECHA COM MEUS AMIGOS! – E, com um último salto, essa parou na cabeça da aranha, onde socou com toda sua ira. Sua mão atravessou o animal, saindo do outro lado com líquido verde entre seus dedos e partes de algo que parecia um cérebro grudado ao longo de seu braço.
Com mais um som agonizante, o grande e aterrorizante monstro caiu no chão, seus olhos espumando, se desintegrando aos poucos. Quando desapareceu por completo, uma grande nuvem negra surgiu no lugar e se desfez com o vento.
Aquela aranha não era um monstro... Era a aura da dama das aranhas. Melhor dizendo, era a sombra dela. Deve ter se sentido mal por não ter conseguido salvar sua dona a tempo e se transformou nesse monstro. De qualquer forma, agora estava tudo acabado.
-MÃE! – Com uma terrível tremedeira, Micka se levantou e correu para os braços assustados da mãe, que chorou ao ver que a sua filha estava viva.
-Filha... Como é bom... Ver você...

-Está tudo bem por aqui? – Paul passou pela porta caída e ficou feliz ao ver que todos estavam bem. Por algum motivo, ele havia “esquecido” sua verdadeira missão. Ele queria realmente que todos estivessem bem, e não só por causa do ritual.
-Agora está! – Inna escondia sua raiva, como sempre, tentando parecer durona. – Paula chegou bem a tempo e salvou o dia.
-Isso é bom... – Seus olhos vasculharam cada centímetro do salão, até encontrar... – Tie, a sua coruja está desmaiada!
-Sim, ele e Burn... – Os pelos do braço do garoto se arrepiaram. O gato não estava mais ali, só havia a sua ave e alguns pedaços da construção que haviam se desprendido. – O que? O felino estava aqui! Eu tenho certeza!
-Relaxe, Com certeza aquele gato safado deve ter voltado para casa.
-Estão todos bem? – May tentou falar o mais alto que pode, mas sua voz, devido ao nervosismo, falhou varias vezes.
-Creio que sim... – Agora era Riley quem falava. E, pela primeira vez e muito tempo, todos perceberam que ele ainda existia. – No entanto, onde está Marianne?
-E Corbin! – Lembrou-se Jennifer.
-Eles devem estar bem. – respondeu Paul, coçando a cabeça. – Bem, vamos sair daqui...
-Vamos para casa! – Inna bufou. Isso significava que ela estava bem, mas realmente parecia uma ótima idéia.
-Vamos nessa... – Paula desceu do animal, ofegante e com um tom avermelhado nos olhos, e limpou seu braço em sua roupa.
-Muito obrigado! – Tie a abraçou com força. Ele mal podia acreditar que, dentre tantos amigos ali, era Paula quem o havia livrado da morte certa. Mas então se lembrou de algo. – Hey... – E então se soltou dos braços da garota.
O garoto correu para o canto esquerdo próximo a saída e pegou sua coruja no colo.
-Você vai ficar bem... Paul...
-Vai ficar bem sim. – O rapaz sorriu, e então encarou Micka por dois segundos antes de finalmente falar: - Vamos embora!


3 dias depois...

Olá, Como você está? Quanto tempo eu na venho aqui...
Eu posso dizer que estou bem melhor agora, todos estamos. Por sorte, a cidade não foi muito destruída. Parece até que nunca saímos realmente de Boston.
Assim que saímos da maldita mansão e o carro resolveu voltar à vida, Paul resolveu nos levar a uma emergência para que nos fizessem curativos. Ficaram horrorizados não com a gravidade dos machucados, pois não eram tão intensos assim, mas o que realmente lhes chamou a atenção foi a quantidade.
Isa, a prima de Micka, mandou uma carta para os pais dizendo que estava tudo bem, apesar de todo o ocorrido. Na carta ela contava dos machucados, mas inventou uma história maluca onde todos nós tentávamos andar de Jet Sky com rodinhas no meio de um mar de pedras. Com sorte, eles disseram acreditaram em tudo na carta-resposta.
Bem, tentamos voltar a vida normal (ou chegar bem próximo dela) . Amanha retornaremos a escola e Jennifer voltará a seu trabalho normal. Prometemos uns aos outros que vamos ficar sempre de olho aberto. Hoje mesmo eu fui caminhando até o veterinário para que ele tirasse todas as pulgas que Thor pegou no meio daquele matagal de beira de estrada.
O estranho é que ninguém sabe onde Marianne, Corbin e aquele estranho homem e seu tigre branco se meteram. Paul está em estadia na casa de Tie e conseguimos convencê-lo a ir para a escola conosco. Celly também não deu mais as caras por aqui, e nem mandou sinal algum. Nem mesmo Inna tem sonhado com ela.
Riley foi o único que resolveu partir. Aproveitou que seus pais estavam se mudando para Vancouver e resolveu ir com eles. O estranho é que ele não se despediu de Micka, apenas mandou um bilhete onde se lia “Prefiro acabar com tudo.” . E, mais estranho ainda, a garota ficou feliz por isso.
A notícia boa é que eu prometi a mim mesma que aproveitaria cada momento com meus amigos, já que não sei o que o destino guarda para mim. Se esse ritual todo estiver certo, eu morrerei na guerra do Eclipse. E eu não sei quando isso vai acontecer, então preciso me divertir o máximo possível!
Mas, uma coisa ainda me atormenta...
Tie me contou de suas visões... As visões que teve enquanto a mulher louca das aranhas o prendeu em outra realidade. Ele viu Paul tentando ajudar minha mãe, e viu que estavam vindo atrás de mim e de minha avó... Mas...
Eu estou viva... E no diário consta apenas a morte de minha avó. Será possível que...
Ah, quer saber, depois eu penso nisso. Agora eu preciso ir, Inna me chamou para ir ver algum filme no cinema. Tenho que aproveitar, já que essa garota nunca quer sair de seu cantinho escuro em seu quarto.
Bem, depois nos vemos então...
Agora eu vou tentar me lembrar de como uma pessoa normal vive. È isso aí, deseje-me sorte! Até mais, amigão, te vejo mais tarde!

Ah, só mais uma coisa, lembre-se sempre dessa palavra: esperança!

Agora assim, tenho que ir antes que Inna corte meu pescoço. Desejo a você um ótimo dia!

Com amor,
May Richard Crommwell. – A bruxa da fé.

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