Lua Escura - Parte 9

Finalmente uma nova ordem se formará... Depois de tanto tempo, diremos adeus a tudo que aquilo que nos atrasa, que nos prende a este maldito mundo de dor. Não há erro a partir daqui...
Está chegando a hora da vingança. Está chegando a hora de eu ver todo aquele sangue derramado aos meus pés. Já esperei o suficiente... Eu te pegarei, maldita semente Crommwell, e sugiro que comece a correr!
O tempo está passando... Não vou mais poupá-la pelos fracos sentidos de Paul...

--------------------------- Marianne, a alguns metros de uma das entradas de Boston:

— Me passe a pistola! — Suplicou-me o ser de casaco branco e jeans escuros que se encontrava de joelhos ao meu lado enquanto encarava o grande caminhão virado que permanecia largado à pelo menos dez metros de distância de nós.
— Quantas vezes eu terei de lhe dizer? — Perguntei retoricamente. — São encarnados. simples balas como estas não surtirão efeito algum...
Estávamos ambos agachados atrás de um simples carro, provavelmente largado por alguma família desesperada, observando atentamente tudo ao nosso redor que fosse capaz de se mover. Burnstein, com toda sua pelagem negra brilhando sob a luz do luar, estava a alguns passos à frente, permanecendo sentado em cima de outro veículo abandonado, tão ligado ao ambiente quanto nós.
— O que faremos então? — a voz de Matt soava agora mais preocupada do que antes, e seus cabelos vermelhos eram vítimas de suas mãos nervosas, que viviam o alisando.
— Eu não sei.
— Lá estão! — Gritou uma terceira voz vinda de trás do grande caminhão que bloqueava a rua, diretamente da garganta de uma mulher gorda com cabelo loiro que apontava para nós.
Foi então que tudo começou a acontecer. Um grande grupo, provavelmente de umas vinte ou vinte e cinco pessoas, deixou os diversos esconderijos utilizados ao longo da estrada, tomando todos um único caminho com impressionante velocidade e fúria estampada nos olhos.
— Burnstein! — gritei, ao mesmo tempo em que o rapaz ao meu lado dizia “Thross” em um tom de voz tão alto quanto o meu.
O gato preto saltou, desfazendo-se rapidamente no ar e tomando a forma leve de uma bola de energia tão escura quanto a noite. E do alto matagal que crescia ao redor do asfalto, outra figura surgiu.
Um grande gavião invadiu o cenário, seguindo os passos do primeiro animal e se transformando em uma gélida aura negra tão assustadora quanto a primeira.
Os encarnados que seguiam em nossa direção afrouxaram o passo, alguns chegaram a cessar a própria corrida, encarando ceticamente o que acontecia a sua frente. Senti um desconforto gigantesco nascendo de alguém em meio àquele grupo, mas os outros se mantinham realmente firmes.
— Soltem os animais! — Ordenou a mesma mulher de antes, e então um conjunto de doze ou treze auras, contendo cores diferenciadas umas das outras, preencheram pouca parte do céu que conseguíamos ver dali. — Acabem com essas moscas!
As luzes coloridas pareceram eclodir de ansiedade, avançando tão apressadamente quanto as pessoas, que agora voltaram a correr feito desesperados pelo asfalto resfriado pela noite urbana.
— Não podemos lutar contra tantos...
— Podemos! — Decidi, interrompendo-o deselegantemente. — São simples novatos...
— Eu sou um simples novato! —Lembrou.
— Mas você foi escolhido pelo chefe, então não deve ser de todo ruim. De qualquer forma, precisamos fazer alguma coisa antes que eles entrem na cidade.
— Eles vão entrar na cidade, Marianne, e nós vamos ser massacrados!
— Não vão! — Retrucou alguém, tirando-me a chance de gritar com o aprendiz depressivo. — Sairrus, já sabe o que fazer!
Por um momento, pensei ter ficado completamente cega enquanto uma luz extremamente forte e de um branco tão puro quanto Celly preencheu a grande noite, mas logo pude ver um brilhante globo de luz flutuando pela estrada, passando rapidamente ao meu lado e indo em direção aos demais encarnados.
Levantei-me e dei meia volta, dando de cara com um homem musculoso de expressão dura dominando os olhos escuros. Usava roupas de marca — embora estivessem rasgadas em certos pontos — e mantinha um par de facas de lâminas desgastadas preso nas laterais de seu cinto de couro, junto a uma corda e algo que parecia um sinalizador.
— Peter, espere! — Soltou outra voz enquanto seu portador deixava o alto matagal para se juntar ao seu amigo de aura branca. É claro que eu reconheci aquela voz, e o irritante sotaque espanhol foi o que me ajudou a perceber quem era.
— Corbin... — Disse. Na verdade eu apenas havia pensado alto, mas isso fez o rapaz olhar para mim, de qualquer forma.
— Marianne? — Bufou. — Eu já deveria saber... Quem mais perderia a noite em uma estrada vazia fora da cidade?
— Vocês se conhecem? — Perguntou Matt assim que desistiu de observar a aura branca partindo os encarnados azarados ao meio. — Ele está do nosso lado?
— Digamos que ele não gosta tanto assim de nós... — Respondi, cruzando os braços enquanto meus ouvidos captavam cada grito de desespero vindo da pequena batalha próxima a este pequeno grupo.
— Não me interessa o histórico de nenhum de vocês. — Revelou o dono da aura branca. — Boston passará por dias estressantes enquanto o demônio da ilusão estiver atuando. Até tudo se resolver, nunca teremos plena certeza se estamos mesmo em nossa realidade. Em outras palavras, a motivação pessoal que alguém tenha para odiar o outro não é válida enquanto tudo não volta ao seu normal.
— Certamente... — Concordei, dando as costas aos dois indivíduos e me voltando para o grupo de revoltados — que agora se resumiam a três pessoas e duas auras — enquanto Burnstein e Thross retornavam à suas formas animais. Eu não os culpava, estava claro que aquele globo de luz não necessitava da ajuda de outros. — Parece-me que treinou bem o seu ajudante, Peter...
— Apenas o especializei em batalhas, Marianne, mas devo admitir que seria trágico se ele tivesse que se esconder... É como você e seu gato espião, que aparentemente não sabe nada sobre lutas.
— Escute, você não tinha uma espécie de parceiro? — Perguntou Corbin enquanto pegava seu revolver e o limpava com um pano sujo que havia tirado do bolso de trás de sua calça. — Digo, outro parceiro...
Esbocei um sorriso leve no rosto enquanto esperava Matt desfazer a expressão confusa que até agora fazia, e então cruzei os braços antes de responder ao espanhol, em uma voz calma.
— Os planos de Paul não mais se encaixavam em minha agenda... — Revelei. — Como sempre, o menino se deixou levar pelos sentimentos. É claro que passar as tardes com um bando de jovens adultos prestes a morrer deve ser mais interessante que uma vida como a qual têm levado. O pobrezinho ainda carrega esperanças, pelo amor de Deus... — Respondi, percebendo que o grande tigre havia voltado aos pés de seu dono, deitando no asfalto frio como se a temperatura local não o afetasse de forma alguma. — E vocês, o que fazem aqui?
— Bom... — Começou a dizer Peter, também de braços cruzados. — Certamente não contaríamos nossos planos ao inimigo, mas digamos que temos aqui o mesmo objetivo...
— Não entendi...
— Recebemos ordens para manter os demais encarnados longe da cidade até que o segundo demônio fosse detido. — Respondeu-me.
— O segundo demônio...
— Sim. — Disse, interrompendo-me sem pena. — e o seu alvo agora é um dos comunicadores. Tie Hitchester.

(Continua...)

Comentários:

Postar um comentário

 

Lua Escura © Copyright | Template by Mundo Blogger |